A segunda e última noite de desfiles do Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro de 2024 iniciou na noite desta segunda-feira (12) e seguiu ao longo da madrugada de terça, terminando por volta de 6h5min.
Ao todo, seis escolas de samba finalizaram os desfiles do Carnaval carioca: Mocidade Independente de Padre Miguel, Portela, Unidos da Vila Isabel, Estação Primeira de Mangueira, Paraíso do Tuiuti e Unidos do Viradour. Cada agremiação tem entre 1h e 1h10min para desfilar.
Na primeira noite, que iniciou no domingo (11), passaram pelo Sambódromo da Marquês de Sapucaí as escolas Unidos do Porto da Pedra, Beija-Flor de Nilópolis, Acadêmicos do Salgueiro, Acadêmicos do Grande Rio, Unidos da Tijuca e a atual campeã, Imperatriz Leopoldinense.
Após o final dos desfiles, a próxima etapa do Carnaval do Rio de Janeiro é a contagem de votos para escolher a campeã. A apuração do Grupo Especial deverá ser na quarta-feira (14), a partir das 15h.
Confira, abaixo, os principais destaques de cada desfile desta segunda noite.
Mocidade Independente de Padre Miguel
Responsável por iniciar a segunda noite de desfiles na Sapucaí neste ano, a Mocidade Independente de Padre Miguel trouxe como enredo Pede caju que dou... Pé de caju que dá!.
A temática contraria a tendência de sambas mais densos que já passaram pela Sapucaí, sobretudo, a partir de 2016. Conforme o g1, o carnavalesco Marcus Ferreira afirmou que o enredo trata da história do país.
Entre as dificuldades, a Mocidade teve problemas com o carro abre-alas. Componentes não conseguiam desacoplar a alegoria e, com isso, peças tiveram de ser serradas. Algumas alas ficaram paradas enquanto o problema era resolvido. Quando solucionado, a plateia comemorou.
Portela
Um defeito de cor foi o enredo da Portela, destacando a força da mulher negra e a importância do afeto e da ancestralidade feminina, além de trazer uma homenagem ao romance de mesmo nome, com autoria de Ana Maria Gonçalves.
Entre as dificuldades, o carro abre-alas da Portela teve problemas na concentração e entrou danificado na avenida. De acordo com o g1, parte do acabamento teve de ser retirado. O segundo carro entrou com luzes apagadas.
Dezesseis mães de vítimas de violência no Rio foram homenageadas pela Portela — entre elas, Marinete Silva, mãe da vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018. Elas desfilaram em um carro decorado com borboletas e cada uma levou um objeto que remetesse ao próprio filho.
Unidos de Vila Isabel
A Unidos de Vila Isabel teve como enredo Gbalá — Viagem ao Templo da Criação, inspirada na obra que narra as histórias de yorubá desde a criação da Terra. É uma reedição do enredo de 1993.
A escola buscou trazer uma lembrança do mal que o ser humano pode fazer até a salvação por meio das crianças, símbolo mundial de esperança. Com isso, a Vila Isabel ressaltou a importância da responsabilidade com o planeta e com as gerações futuras.
A comissão de frente teve como foco os pequenos. O elenco infantil era formado por oito integrantes, em uma ala que conta a história do mundo criado por Oxalá.
Entre os destaques: a roupa do casal de mestre-sala e porta-bandeira. A coreógrafa do casal, Ana Formighieri, contou ao jornal O Globo que, juntas, as vestimentas têm cerca de quatro mil pixels de led. Durante o desfile, porém, a calça do mestre-sala não acendeu.
Também chamou a atenção um carro alegórico que reproduzia a anatomia do corpo humano detalhadamente, representando a criação do homem.
Estação Primeira de Mangueira
Uma grande homenagem à cantora Alcione: assim se resumiu o enredo A negra voz do amanhã, da escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Em 2024, a artista completa 50 anos de carreira. Ela tornou-se ícone feminino brasileiro, dedicando-se à defesa da pluralidade religiosa e do respeito. O enredo destacou o papel de Alcione na formação de novos talentos e trouxe as crenças familiares da artista, sua ligação com manifestações culturais do Maranhão e sua luta para alcançar o sonho de ser cantora no Rio de Janeiro.
Um dos destaques ficou a cargo da comissão de frente da escola. Um efeito fez os dançarinos do carro parecerem contrariar a gravidade: eles tinham os sapatos presos a uma base giratória, permitindo que se inclinassem sem cair.
Uma dos problemas aconteceu na escultura que representava Alcione. Um aderecista contou ao g1 que passou o desfile segurando a cabeça da estrutura.
Durante o desfile, também conforme apuração do g1, uma mulher caiu do último carro e outra ficou pendurada, mas foi puxada por um socorrista. Conforme a Secretaria Municipal de Saúde, as duas foram levadas para atendimento hospitalar, "clinicamente estáveis, lúcidas e orientadas".
Paraíso do Tuiuti
A penúltima escola a desfilar trouxe como enredo Glória ao Almirante Negro!, uma inspiração na história de João Cândido Felisberto, que se destacou no movimento de militares da Marinha contra castigos físicos sofridos dentro de navios, que persistiam mesmo após o fim da escravidão.
A escola apresentou o personagem histórico em diferentes fases, passando pela infância, pela ascensão como marinheiro e pela traição. João Cândido liderou a chamada Revolta da Chibata, expressão da insatisfação dos marinheiros com as condições de trabalho, maus-tratos e pagamento vergonhoso. A revolta alcançou sucesso, mas o presidente não cumpriu o acordo, respondendo com prisões e exílios. João Cândido foi considerado louco. Com a sua história, a Tuiuti destacou a luta contra injustiças.
O último carro da escola foi decorado com bandeiras com títulos de ocorrências recentes de racismo contra homens negros. Em uma delas, estava o caso que vitimou João Alberto Silveira em um hipermercado de Porto Alegre em 2020.
Um dos destaques do desfile foi o entregador Max Ângelo dos Santos, que foi vítima de xingamentos racistas e foi agredido por uma mulher, no Rio de Janeiro, em 2023. Ele foi convidado pela escola para representar o protagonista do enredo.
Unidos do Viradouro
Atual vice-campeã do Carnaval do Rio, a Unidos do Viradouro foi a responsável por fechar os desfiles do Grupo Especial neste ano. O enredo da escola se baseou nas crenças voduns (nome utilizado para divindades ou forças invisíveis do mundo espiritual) dos povos africanos que viviam na Costa da Mina, região onde hoje localizam-se Gana, Togo, Benim e Nigéria. O enredo levou o nome de Arroboboi, Dangbé!, em referência à serpente sagrada que engole a própria cauda para dar equilíbrio.
Aliás, um dos destaques foi, na comissão de frente, uma enorme serpente que surgia entre o balé e deslizava pela avenida. O terceiro carro da agremiação representava proteção mística e lealdade e foi feito com ferro-velho.
O florescente também chamou a atenção no desfile. Segundo o jornal O Globo, foram utilizados 200 metros dos chamados olhos de fato, que refletem a luz e são comuns em placas e uniformes de garis.