Protagonista de Lucy (2014), que apareceu recentemente no menu da Netflix, Scarlett Johansson é uma das atrizes mais poderosas de Hollywood. Aos 39 anos, a nova-iorquina que estreou nos cinemas quando tinha apenas 10 (em Anjo da Guarda, de 1994) tem no currículo cinco títulos com bilheteria superior a US$ 1 bilhão, todos do Universo Cinematográfico Marvel: Vingadores: Ultimato (2019), Guerra Infinita (2018), Os Vingadores (2012), A Era de Ultron (2015) e Capitão América: Guerra Civil (2016). Graças sobretudo a essas superproduções, sua fortuna está estimada em US$ 165 milhões.
Antes e depois de embarcar no mundo dos super-heróis, Scarlett atuou para cineastas renomados — Woody Allen (Match Point e Vicky Cristina Barcelona), Brian De Palma (Dália Negra), os irmãos Coen (O Homem que Não Estava Lá e Ave, César!), Wes Anderson (Asteroid City). Foi vista (ou ouvida) em algumas obras bastante elogiadas, como Ghost World, Encontros e Desencontros, Moça com Brinco de Pérola, O Grande Truque, Sob a Pele, Ela e Mogli. E, em 2020, concorreu em dose dupla ao Oscar: melhor atriz por História de um Casamento e atriz coadjuvante por Jojo Rabbit.
Em Lucy, Scarlett ganha superpoderes infinitamente superiores aos de sua personagem na Marvel, a Viúva Negra, e trabalha com aquele que é considerado o mais hollywoodiano dos diretores franceses: Luc Besson, realizador que despontou na década de 1980, quando assinou Subway (1983) e Imensidão Azul (1988). O casamento deu certo — Lucy (2014) arrecadou US$ 458,8 milhões ao redor do mundo.
Esse foi o 15º longa-metragem dirigido por Besson, 65 anos (depois ele faria Valerian, em 2017, Anna: O Perigo Tem Nome, em 2019, e Dogman, em 2023). Lucy traz marcas do diretor de Nikita: Criada para Matar (1990) e O Quinto Elemento (1997). A começar pelo protagonismo feminino — ele é um entusiasta das heroínas, incluindo as da vida real, como a camponesa e santa francesa Joana d'Arc, retratada no filme homônimo de 1999. Ou a birmanesa Aung San Suu Kyi, Prêmio Nobel da Paz em 1991, biografada em Além da Liberdade (2011), lançado anos antes de a ativista se tornar conselheira de Estado (o equivalente a primeira-ministra) de Mianmar e virar alvo de críticas internacionais por não combater o genocídio da etnia ruainga (a política acabaria sendo vítima de um golpe militar em 2021). Também estão presentes os elementos da ficção científica, as cenas de ação, as pretensões filosóficas e, claro, o visual requintado.
Na trama, Lucy (Scarlett Johansson) é uma jovem estadunidense morando em Taiwan que, ao fazer um favor para o namorado, acaba involuntariamente envolvida com um chefão do crime. Ao lado de três homens, ela é forçada a virar "mula" para o gângster sul-coreano Mr. Jang (Choi Min-shik, protagonista de Oldboy), carregando dentro do corpo sacos de uma poderosa nova droga sintética. Mas, antes de viajar, a embalagem no abdômen de Lucy se rompe. Ao absorver a substância, a personagem de Scarlett expande vertiginosamente sua capacidade cerebral. Munida de crescentes superpoderes, a heroína parte para a França com dois objetivos: impedir que a droga se espalhe pela Europa e encontrar o cientista Samuel Norman (Morgan Freeman), pesquisador dedicado a estudar as habilidades adormecidas do cérebro.
Lucy tem cenas de violência um tanto desmedidas e uma estonteante sequência de perseguição automobilística. Tem uma história que desafia não só a ciência, mas a lógica, e uma interessante reflexão sobre como o poder (inclusive o do conhecimento) nos afasta do que nos faz humanos. Mas o que fica do filme é o criativo — e por vezes deliciosamente insano — uso dos recursos visuais. A vibrante montagem, por exemplo, pontua a narrativa com imagens do reino animal ou com recriações dos nossos ancestrais (a propósito, o título é uma referência ao nome como foi batizado pelos arqueólogos o fóssil de 3,2 milhões de anos da considerada primeira mulher). O modo como a substância age no corpo da protagonista também rende momentos de impacto. E Luc Besson guarda uma carta na manga: a espetacular viagem de Lucy através do tempo e do espaço, até a a origem da Terra, até a origem da vida.
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