Atores como Jason Statham e Keanu Reeves acabam de ganhar um novo rival nos filmes de ação — e bem mais jovem. Aos 34 anos, o inglês de ascendência indiana Dev Patel protagoniza Fúria Primitiva (Monkey Man, 2024), que também marca a sua estreia como diretor. Ele ainda assina como um dos roteiristas e um dos produtores do título em cartaz desde quinta-feira (23) no Cinemark Barra, no Cinemark Ipiranga e no Cinemark Wallig.
Patel despontou como o personagem principal de Quem Quer Ser um Milionário? (2008), vencedor do Oscar em oito categorias: melhor filme, direção (Danny Boyle), roteiro adaptado, fotografia, edição, mixagem de som, música e canção original. Por Lion: Uma Jornada para Casa (2016), concorreu como melhor ator coadjuvante na premiação da Academia de Hollywood. Seus créditos incluem o seriado The Newsroom (2012-2014), o longa baseado em uma tragédia real Atentado ao Hotel Taj Mahal (2018), a minissérie A História Pessoal de David Copperfield (2019) e o cultuado A Lenda do Cavaleiro Verde (2021).
Em Fúria Primitiva, que parte de uma história sua, Patel costura mitologia indiana com referências sul-coreanas — Oldboy (2003) é uma clara inspiração — e tempero hollywoodiano. A gente percebe a influência tanto da franquia John Wick, na coreografia e na brutalidade da ação corpo a corpo, e também no caráter estoico do protagonista, quanto da obra do cineasta Jordan Peele, que é um dos produtores — o filme tenta transcender o gênero, tecendo comentários sociais.
— O filme é um hino para os excluídos e uma carta de amor para minha família. É sobre unir a mitologia que meu pai e meu avô me contaram e honrar o poder da mulher mais incrível da minha vida, a minha mãe. E também é sobre o quão longe alguém pode ir para vingar alguém que ama tão profundamente — disse o ator e diretor em entrevistas.
O ponto de origem é a lenda hindu do Hanuman, o Deus Macaco. Na abertura, ambientada em um vilarejo florestal, vemos uma mãe contando essa história a seu filho pequeno. Na vida adulta, chamado apenas de Kid (papel de Dev Patel), ele ganha a vida em um clube de luta clandestino, onde é espancado todas as noites usando uma máscara de gorila.
O sofrimento físico não é nada comparado ao psicológico. Kid é um sujeito traumatizado por um crime que testemunhou na infância. Graças a uma rede de conexões entre os pobres e os desamparados da fictícia cidade de Yatana (palavra em sânscrito que pode significar "luta ou empenho", mas também "vingança"), uma espécie de cruza entre Mumbai e Gotham City, o personagem encontra um meio de se infiltrar na elite da cidade. Arranja um emprego na cozinha de um bordel de luxo, o Kings, gerido pela ríspida Queenie Kapoor (Ashwini Kalsekar) e frequentado por empresários, políticos e policiais corruptos. Lá, convivendo com coadjuvantes como o empregado Alphonso (Pitobash) e a prostituta Sita (Sobhita Dhulipala), Kid vai colocar em prática seu audacioso e sangrento plano de vingança.
Entrementes, acompanhamos a contagem regressiva para as eleições, que vão coincidir com o Diwali, uma tradicionalíssima festividade hindu. O candidato favorito é apadrinhado por Baba Shakti (Makaranda Deshpande), um líder espiritual extremamente popular.
Todos esses componentes permitem a Dev Patel inserir beleza, alguma espiritualidade e teor sociopolítico neste filme que jamais esconde sua fiel filiação ao gênero da ação no estilo um contra todos. Fúria Primitiva poderia ser um pouco mais curto (são 121 minutos de duração), mas compensa com uma meia hora final sensacional. As cenas impressionam, especialmente quando Patel encara o desafio de rodar planos-sequência marcados por socos, tiros, facas, garrafas e tudo o mais que puder ser usado para atingir um oponente.