O Domingo Maior deste fim de semana, na RBS TV, exibe As Viúvas (2018), quarto longa-metragem do cineasta inglês Steve McQueen, premiado com o Oscar de melhor filme por 12 Anos de Escravidão (2013). Aliás, seja atrás das câmeras, seja em cena, o que não falta ao título são oscarizados ou concorrentes à estatueta dourada da Academia de Hollywood: são 12 no total.
As tais viúvas são um grupo de mulheres que se reúnem para concretizar um roubo milionário, usando os planos de um golpe anterior idealizado por um bando masculino. O filme é um passo inusitado na carreira de McQueen, 53 anos, homônimo do ator estadunidense (1930-1980) de Bullitt (1968) e Papillon (1973) e também artista plástico. Seus trabalhos anteriores e os posteriores são mais artísticos, ou no mínimo menos "comerciais", como os títulos policiais são apressadamente classificados.
Em Hunger (2008), vencedor da mostra Um Certo Olhar e do prêmio Camera d'Or no Festival de Cannes, Michael Fassbender interpretou um guerrilheiro do IRA em greve de fome na prisão. Diretor e ator repetiram a parceria em Shame (2011), sobre uma nova-iorquino viciado em sexo que se vê forçado a mudar sua rotina promíscua com a chegada de sua irmã caçula (Carey Mulligan) à cidade. Fassbender ganhou a Copa Volpi de melhor ator, e McQueen, três troféus paralelos, incluindo o da crítica.
Os dois voltaram a trabalhar juntos em 12 Anos de Escravidão, baseado nas memórias de Solomon Northup (interpretado por Chiwetel Ejiofor), um homem negro livre que, em 1841, foi enganado, sequestrado e vendido como escravo. Além do Oscar de melhor filme, venceu nas categorias atriz coadjuvante (Lupita Nyong'o) e roteiro adaptado e concorreu nas de diretor, ator, ator coadjuvante (Fassbender), edição, direção de arte e figurinos. Mais recentemente, McQueen realizou a antologia Small Axe (2020), que reúne cinco histórias, todas ambientados na Inglaterra, entre 1969 e 1983, e protagonizadas por imigrantes negros ou descendentes daqueles que vieram de países caribenhos como Jamaica e Barbados para lidarem com situações de racismo e opressão.
No ar a partir da 0h10min de segunda-feira (1º), As Viúvas ganhou vida porque McQueen é um fã da primeira versão da história, escrita por Lynda La Plante e apresentada como uma série britânica nos anos 1980 — depois, a própria Lynda a transformou em um livro. Para ajudá-lo na adaptação, o diretor convidou a escritora estadunidense Gillian Flynn, autora do romance Garota Exemplar (vertido para o cinema por David Fincher) e cercou-se de um elenco e de uma equipe técnica cheios de nomes oscarizados (antes ou depois) ou indicados ao troféu.
Quem assina a direção de fotografia é Sean Bobbitt, concorrente por Judas e o Messias Negro (2021). O editor Joe Walker foi premiado por Duna (2021) e competiu por 12 Anos de Escravidão e A Chegada (2016). Adam Stockhausen, do design de produção, venceu por O Grande Hotel Budapeste (2014) e disputou por 12 Anos de Escravidão, Ponte dos Espiões (2015) e Amor, Sublime Amor (2021). O compositor Hans Zimmer soma dois Oscars de melhor música — por O Rei Leão (1994) e Duna — e mais 10 indicações.
A protagonista é Viola Davis, vencedora do Oscar de coadjuvante por Um Limite Entre Nós (2017) e indicada, na mesma categoria, por Dúvida (2008) e a melhor atriz pelo controverso Histórias Cruzadas (2011) — um papel do qual ela se arrependeu. Ela interpreta Veronica Rawlings, esposa de um ladrão bem-sucedido de Chicago, Harry (Liam Neeson, concorrente ao Oscar por A Lista de Schindler), que morre logo no começo — o filme se chama As Viúvas, lembrem-se.
No funeral, Veronica recebe um envelope com a chave de um cofre de penhor. Dentro, há um caderno com anotações, possíveis alvos, colaboradores e o esquema do último assalto. A protagonista, então, procura as viúvas dos ex-parceiros do marido para convencê-las de que elas próprias devem fazer o assalto frustrado. São elas Linda (Michelle Rodriguez, da franquia Velozes & Furiosos) e Alice (Elizabeth Debicki, de Tenet e The Crown), e às três vai se juntar Belle (Cynthia Erivo, que em 2020 disputou o Oscar de melhor atriz pela cinebiografia Harriet).
Como este não é apenas um filme de assalto, McQueen espalha personagens que permitem abordar questões sociais e políticas: os irmãos criminosos Jamal e Jatemme Manning (Brian Tyree Henry, indicado ao Oscar de coadjuvante por Passagem, e Daniel Kaluuya, ganhador do prêmio de coadjuvante por Judas e o Messias Negro e candidato a melhor ator por Corra!) e os políticos da família Mulligan, o veterano Tom (Robert Duvall, Oscar de melhor ator por A Força do Carinho e concorrente em outras seis ocasiões, quatro delas como coadjuvante) e seu filho, Jack (Colin Farrell, candidato ao Oscar 2023 por Os Banshees de Inisherin). Jamal e Jack rivalizam pela vaga de vereador que Tom ocupou por décadas, e essa briga suscita um paralelo entre o crime organizado e a corrupção da política oficial.
Antes disso, McQueen promoveu uma mudança fundamental em relação à obra original. Veronica, que era uma mulher branca, agora é negra. Seu casamento inter-racial terá desdobramentos que refletem a tensão étnica dos Estados Unidos.