Esta coluna com 10 dicas de filmes começa com um aviso: seguindo uma tradição iniciada em 1998, vou trabalhar na cobertura da Copa do Mundo, produzindo ou editando conteúdos na Redação de ZH e GZH.
Portanto, pode ser que ao longo dos próximos 30 dias (a final está marcada para 18 de dezembro) eu apareça menos por aqui. E não duvido que alguns de vocês também vejam menos filmes e séries, já que estarão com a agenda cheia pelos jogos do Mundial.
A lista a seguir reúne alguns dos melhores títulos lançados recentemente no streaming ou no cinema. Clique nos links se quiser saber mais.
1) E.T.: O Extraterrestre (1982)
Este não é nada novo — comemorou 40 anos em maio —, mas entra na lista porque reestreou nos cinemas. Dirigido por Steven Spielberg, E.T. é um conto de fadas sobre a amizade entre o menino Elliot (interpretado por Henry Thomas) e um alienígena que se perde nas florestas da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Concorreu a nove Oscar, incluindo melhor filme, diretor e roteiro original, e ganhou quatro: música, efeitos visuais, som e efeitos sonoros. Frequentemente aparece nas listas de obras mais importantes — ou pelo menos as mais emocionantes. (Em cartaz em 10 cinemas de Porto Alegre)
2) Os Intocáveis (1987)
Este também não é nada novo, mas está na seleção porque entrou no catálogo da Netflix recentemente. Mestre da narrativa visual — vide os planos-sequência, a câmera lenta, a montagem que repartia a tela em duas, o foco dividido —, Brian De Palma recria a caçada do agente do FBI Eliot Ness (Kevin Costner) ao gângster Al Capone (Robert De Niro) na Chicago dos anos 1930. Com a imprescindível música de Ennio Morricone, indicada ao Oscar, o cineasta orquestra um tiroteio antológico na estação de trem. Quase todas as suas marcas estão ali, incluindo o caráter referencial: tendo um carrinho de bebê como condutor do nosso olhar, a ação presta tributo à sequência da escadaria de Odessa em O Encouraçado Potemkin (1926), de Sergei Eisenstein. Os Intocáveis rendeu a Sean Connery seu único Oscar, o de melhor ator coadjuvante. (Netflix)
3) O Contador de Cartas (2021)
Finalmente chegou ao Brasil um dos 10 melhores filmes de 2021 segundo a prestigiada revista francesa Cahiers du Cinéma (ficou na nona colocação na lista liderada por First Cow). Com roteiro e direção de Paul Schrader — parceiro de Martin Scorsese em Taxi Driver (1976), Touro Indomável (1980), A Última Tentação de Cristo (1988) e Vivendo no Limite (1999) —, é protagonizado por Oscar Isaac. Ele interpreta William Tell, um ex-militar que virou jogador profissional de cartas. Enquanto disputa torneios em cassinos e hotéis, fantasmas do seu passado vêm à tona. Prepare-se para cenas de alta intensidade, como é característico das obras de Schrader. (canal Telecine do Globoplay)
4) Contratempos (2021)
Um dos destaques no Festival Varilux de Cinema Francês, o filme de Eric Gravel acompanha a saga de Julie (Laure Calamy), que luta sozinha para criar seus dois filhos pequenos no subúrbio e manter seu emprego em Paris, como camareira-chefe em um hotel. Quando ela finalmente consegue uma entrevista para um cargo correspondente a seu currículo e as suas aspirações, eclode uma greve geral, paralisando o transporte. Ganhador dos troféus de melhor direção e melhor atriz na mostra Horizontes do Festival de Veneza, Contratempos é muito eficiente em mostrar um problema universal — o da precarização do trabalho — por uma perspectiva individual (e feminina, e materna) e muito envolvente ao intrincar os dramas pessoais de Julie aos contratempos coletivos. À segurança e à sensibilidade da direção de Gravel, soma-se o notável desempenho de Calamy, que dosa confiança, fragilidade, perspicácia e um pouco de desatino. (Em cartaz na Sala Norberto Lubisco)
5) Argentina, 1985 (2022)
Com direção de Santiago Mitre, o título escolhido pelos argentinos para concorrer a uma vaga no Oscar de melhor filme internacional tem pelo menos três trunfos. Primeiro: aborda os horrores cometidos durante a ditadura militar, entre 1976 e 1983, a exemplo de A História Oficial (1985), primeira produção do país a conquistar a estatueta dourada — um feito que o Brasil ainda persegue. Segundo: o protagonista é Ricardo Darín, ator que esteve à frente do elenco do oscarizado O Segredo dos seus Olhos e que atuou em outros dois títulos do país indicados ao prêmio: O Filho da Noiva (2001) e Relatos Selvagens (2014). Terceiro: é um drama de tribunal, subgênero bastante apreciado pela Academia de Hollywood. Aliás, o longa-metragem tem algum parentesco com Julgamento em Nuremberg (1961), premiado nas categorias de melhor ator e roteiro adaptado e concorrente em outras nove. Argentina, 1985 apresenta uma versão ficcional do maior julgamento civil de crimes cometidos pelo Estado desde os tribunais organizados pelos Aliados entre 1945 e 1946, depois da Segunda Guerra Mundial, nos quais lideranças nazistas foram processadas. É outro feito alcançado pelos argentinos mas não pelo Brasil. (Amazon Prime Video)
6) O Desconhecido (2022)
Escrito e dirigido pelo australiano Thomas M. Wright, O Desconhecido é um suspense atmosférico e hipnotizante. Não à toa, o filme começa mostrando o topo de uma montanha e uma floresta densa, cenas que se fazem acompanhar pela seguinte narração em off: "Feche os olhos e concentre-se na sua respiração. Inspire e expire. Concentre-se no ar entrando no corpo quando inspirar. Ele é limpo. Quando expirar, o ar que sai de você é sujo. A sujeira é ansiedade e estresse, as suas preocupações. Ao expirar, sinta-a saindo do corpo. Inspire ar limpo e expire ar sujo".
Não à toa, o cartaz do filme mescla os rostos dos atores Sean Harris e Joel Edgerton — ambos caracterizados com barba e cabelos compridos, geralmente presos em um coque. É como se ambos fossem o mesmo personagem, embora cada um guarde segredos em relação ao outro. E, de fato, logo as vidas dos dois vão se cruzar: após uma longa viagem de ônibus, Henry (papel de Harris) conhece Mark (Edgerton), que oferece trabalho em uma organização criminosa. Logo um vai ter de respirar o ar do outro.
7) O Enfermeiro da Noite (2022)
Dirigido por Tobias Lindholm e estrelado por Jessica Chastain e Tobias Lindholm, é um filme de serial killer diferente de todos os filmes de serial killer. O Enfermeiro da Noite não adota a perspectiva do assassino em série Charles Cullen, não glamoriza o personagem, não pede que tenhamos algum tipo de empatia por ele, não tenta justificar seus crimes nem compartilhar a culpa com a família, a sociedade, o Estado (ainda que na história de Cullen, como esta versão ficcional mostra, leis estaduais e políticas corporativistas tenham contribuído para que ele seguisse matando) e não exibe seus atos de violência — no máximo, como na cena de abertura, vemos a apreensão de seu rosto dar lugar ao que parece ser um esgar de satisfação enquanto uma equipe médica, fora de quadro, luta para salvar um paciente. (Netflix)
8) Nada de Novo no Front (2022)
Foi o título eleito pela Alemanha para disputar uma vaga no Oscar de melhor filme internacional. Dirigido por Edward Berger e estrelado por Felix Kammerer, Albrecht Schuch e Aaron Hilmer, é uma nova adaptação do clássico romance de Erich Maria Remarque sobre as terríveis experiências e angústias de um jovem soldado alemão na frente ocidental durante a Primeira Guerra Mundial. É um soco no estômago, mas também é um filme imperdível. (Netflix)
9) Noites Brutais (2022)
Com o título original de Barbarian, foi escrito e dirigido por Zach Cregger, egresso da trupe de comédia The Whitest Kids U' Know. Percebe-se a origem humorística neste filme de terror, especialmente no modo irônico de abordar temas como abuso sexual e preconceito social, mas os elementos mais proeminentes são o talento para usar o cenário e a capacidade de reverter expectativas do espectador. Dito isso, não dá para avançar muito na sinopse: vista na minissérie Suspicion (2022), a inglesa Georgina Campbell interpreta Tess, que, durante uma noite chuvosa, ao chegar à casa de Detroit que alugara via Airbnb, descobre que há um outro inquilino no local. A escalação de Bill Skarsgard, o sinistro palhaço Pennywise dos filmes It (2017 e 2019), para esse papel é uma piada ou um aviso? Descubra por conta própria. (Star+)
10) Pantera Negra: Wakanda para Sempre (2022)
A morte não é o fim, diz uma personagem em Pantera Negra: Wakanda para Sempre, de Ryan Coogler. Na verdade, a morte é o início do 30º longa-metragem do Universo Cinematográfico Marvel. Dito isso, convém ao espectador chegar bem cedo à sessão, porque a aguardada sequência de Pantera Negra (2018) já começa prestando homenagem ao ator que encarnava o rei T'Challa, Chadwick Boseman, morto em agosto de 2020, aos 43 anos, em decorrência de um câncer colorretal. Na primeiríssima cena, Shuri, a princesa cientista interpretada por Letitia Wright, reza para uma divindade: "Bast, permita-me curar meu irmão". Wakanda é esse fictício e utópico reino africano, onde ciência e religiosidade convivem harmoniosamente, onde a alta tecnologia está vinculada a rituais e saberes tradicionais. Mas os recursos e os esforços de Shuri são em vão: o coração de T'Challa — cujo corpo jamais é visto na tela — para de bater. O silêncio que sucede o funeral (em que todos vestem branco) é um indício de que este será um dos mais sóbrios filmes da Marvel —se não for o mais sóbrio. (Em cartaz nos cinemas)