A lista dos 10 melhores desta sexta-feira fala espanhol.
Selecionei em quatro plataformas de streaming — Amazon Prime Video, HBO Max, Netflix e Star+ — títulos de seis países: Argentina, Chile, Colômbia, Espanha, México e Uruguai.
O garimpo reúne ganhadores do Oscar, obras de diretores renomados, como Pedro Almodóvar, Alfonso Cuarón e Alejandro González-Iñárritu e astros e estrelas do porte de Antonio Banderas, Penélope Cruz, Ricardo Darín e Gael García Bernal.
A História Oficial (1985)
Primeira produção argentina a ganhar o Oscar de melhor filme estrangeiro, o filme dirigido por Luis Puenzo retrata a vida de uma professora de história (Norma Aleandro) que, após o final do regime militar, tenta descobrir quem é a mãe biológica de sua filha adotada. (Netflix)
Amores Brutos (2000)
Vencedor de três prêmios no Festival de Cannes e indicado ao Oscar de melhor filme internacional, narra três histórias paralelas na Cidade do México. Um acidente de automóvel entrelaça os destinos de um jovem que participa de lutas clandestinas com cães (Gael García Bernal), uma modelo de sucesso e um dublê de mendigo e justiceiro. O título deu projeção mundial ao cineasta mexicano Alejandro González-Iñárritu. que depois venceria o Oscar de direção com Birdman (2014) e O Regresso (2015). (Netflix)
Fale com Ela (2002)
Mulheres em coma e homens solitários. Touradas em Madri e coreografias de Pina Bausch. Cinema mudo e personagens que contam filmes. Caetano Veloso e Elis Regina. O cineasta espanhol Pedro Almodóvar congrega isso tudo e um pouco mais em uma história que mereceu o Oscar de melhor roteiro original e que ele definiu como "um drama com algum sorriso e alguma gargalhada" e que começa com a abertura de uma cortina. Revela-se, então, um espetáculo da alemã Pina Bausch, Café Müller, metáfora para o que virá pela frente no próprio filme.
Na coreografia, duas mulheres de olhos fechados e braços estendidos se movimentam por um palco repleto de cadeiras e mesas situadas de forma desordenada. Um homem as vê e vai apartando os obstáculos para impedir que se machuquem. As duas mulheres representam Alicia (Leonor Watling), jovem bailarina em coma após ser atropelada, e Lydia (Rosario Flores), toureira também inconsciente depois do ataque de um touro. O homem pode ser tanto o enfermeiro Benigno (Javier Cámara) quanto o jornalista argentino Marco (Darío Grandinetti) — que, por mero acaso e sem se conhecerem, estão sentados juntos na plateia de Café Müller. Mais tarde, esses quatro personagens se cruzarão, na clínica onde Alicia e Lydia são internadas. (Netflix)
Whisky (2004)
Neste saboroso filme dos uruguaios Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll, o dono de uma fábrica de meias (Andrés Pazos) propõe à sua funcionária (Mirella Pascual) se passar por esposa durante a visita do irmão (Jorge Bolani), seu eterno rival. A comédia dramática ganhou dois prêmios na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes e três Kikitos em Gramado. (Netflix)
O Segredo dos Seus Olhos (2009)
O argentino Juan José Campanella dirige seu ator mais assíduo, Ricardo Darín, nesta mistura de policial noir, drama político e romance. O astro interpreta um oficial de justiça aposentado que resolve escrever um livro sobre um crime que investigou 25 anos atrás, na década de 1970. Trata-se de um estupro seguido de assassinato de uma jovem e bela mulher (Carla Quevedo). Ao puxar os acontecimentos pela memória, e não resistir à tentação de finalmente resolvê-los, o investigador se envolve pessoalmente com o caso, descobrindo ligações com a ditadura militar e abrindo a possibilidade de solucionar também uma paixão mal resolvida com uma colega de trabalho (Soledad Villamil). A mescla de gêneros se completa com o humor de seu parceiro (Guillermo Francella). Fenômeno de público — em Porto Alegre, por exemplo, ficou 35 semanas em cartaz no saudoso cine Guion —, O Segredo dos seus Olhos conquistou o Oscar de melhor filme internacional e cinco prêmios no Festival de Havana. (Amazon Prime Video)
Relatos Selvagens (2014)
Indicada ao Oscar de melhor filme internacional, a comédia sinistra do argentino Damián Szifron apresenta seis episódios independentes, um deles protagonizado por Ricardo Darín. Ele faz um engenheiro especializado em implosões, mas que explode diante da burocracia e do pouco caso que os serviços públicos dispensam ao contribuinte. Entre as outras histórias, uma se passa em um avião, onde revela-se que todos os passageiros são desafetos do piloto, e outra em uma festa de casamento, onde a noiva descobre que o noivo é amante de uma das convidadas. Os personagens vão até as últimas consequências, sem se preocuparem com a moral nem a lei, proporcionando um riso catártico do espectador. O filme causa gargalhadas em cenas que deveria chocar, mas não exclui o comentário social: mostra como nossa ilusão de civilização está sempre por um fio, ainda mais nesses tempos em que as redes sociais contribuíram para a agressividade e as polarizações. (HBO Max)
Uma Mulher Fantástica (2017)
O cineasta chileno Sebastian Lelio apresenta a jornada de Marina Vidal (vivida por Daniela Vega), jovem trans que trabalha como garçonete em Santiago. Seu sonho é ser cantora lírica, mas, por enquanto, sobe ao palco de boates para cantar salsa. Ela tem um namorado, Orlando, empresário bem mais velho. O idílio romântico do casal será interrompido nos primeiros movimentos da trama pela repentina morte dele. A partir daí, a protagonista passar a enfrentar o preconceito e a intimidação dos familiares de Orlando e contratempos legais diante das circunstâncias do falecimento. Vencedor do Oscar de melhor filme internacional. (Netflix)
Pássaros de Verão (2018)
A sinopse do filme dirigido pelos colombianos Cristina Gallego e Ciro Guerra diz: no início da produção em massa de maconha na Colômbia, uma família de indígenas se envolve numa guerra pelo controle do tráfico de drogas. Mas logo fica nítida a ambição antropológica: mais do que contar uma história policial, os cineastas reconstituem o encontro fatal dos povos indígenas com a chamada " civilização". Os principais personagens são Wayuu já aculturados, mas que preservam uma série de tradições — por exemplo, a de confinar moças como Zaida (Natalia Reyes) durante um ano até que possam ser apresentadas como mulheres à aldeia. É por ela que se apaixonará Rapayet (José Acosta), mas ele não dispõe de recursos para o dote exigido para o casamento — vacas, cabras, colares. Com um amigo negro, Moncho, percebe uma oportunidade de ascensão no emergente mercado das drogas. (Amazon Prime Video)
Roma (2018)
Filmado em preto e branco, faz um tributo às mulheres que criaram o diretor mexicano Alfonso Cuarón no começo dos anos 1970 no bairro homônimo da Cidade do México. Venceu três Oscar — longa internacional, direção e fotografia (também assinada por Cuarón) — e disputou outros sete, incluindo melhor filme, atriz (Yalitza Aparicio) e atriz coadjuvante (Marina De Tavira). (Netflix)
Concorrência Oficial (2021)
Dirigida pelos argentinos Mariano Cohn e Gastón Duprat e ambientada na Espanha, esta comédia reúne no elenco um trio espetacular do cinema falado em espanhol: Penélope Cruz, Antonio Banderas e Oscar Martínez. A dupla mira nos paradoxos e no ridículo da indústria cinematográfica a partir do desejo de um empresário octogenário de deixar um legado. A ideia inicial é construir uma ponte, mas logo pensa em financiar um filme. Aí, contrata uma prestigiada e excêntrica cineasta, Lola Cuevas Lola Cuevas (Cruz, saboreando cada instante do papel), que vai adaptar uma tragédia protagonizada por dois irmãos. Para interpretar esses dois personagens, Lola decide convocar dois atores antagônicos. Banderas interpreta Félix Rivero, uma versão exagerada de si mesmo: um ator latino que fez sucesso em Hollywood. Martínez encarna o espartano Iván Torres, astro dos palcos cujo maior sinal de riqueza parece ser a vasta biblioteca. Desde o primeiro encontro, o choque entre Félix e Iván vai produzir faíscas de humor — em um tom acertadamente mais ácido do que a sinopse permite pressupor. (Star+)
Bônus
Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988), de Pedro Almodóvar. Ganhadora da Osella de Ouro de melhor roteiro no Festival de Veneza e indicada ao Oscar de filme internacional, esta comédia dramática lançou Almodóvar globalmente. Carmen Maura interpreta Pepa, uma dubladora de filmes que entra em crise depois de ser deixada pelo namorado. Em busca de algo para curar a fossa, ela se propõe a ajudar uma amiga que mantém uma relação com um terrorista. A situação se complica quando Pepa encontra a amante de seu ex-companheiro e, depois, passa a ser perseguida pela polícia. Com Antonio Banderas. (Netflix)
O Patrão: Radiografia de um Crime (2014), de Sebastian Schindel. Baseado em uma história real, registra o calvário do humilde e analfabeto Hermógenes, que assassinou o dono do açougue do qual era gerente. Por quê? (Netflix)
Toc Toc (2017), de Vicente Villanueva. Seis pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) marcam consulta no mesmo horário com um psiquiatra, mas ele se atrasa muito. Enquanto esperam no consultório, eles descobrem as peculiaridades de cada um, provocando risadas no espectador — que mais adiante perceberá as sutilezas desta comédia espanhola estrelada por Oscar Martínez e Rossy de Palma, entre outros atores. (Netflix)
Veronica (2017), de Paco Plaza. Neste terror espanhol do mesmo diretor de Rec (2007), uma adolescente aluna de escola católica e sobrecarregada de tarefas domésticas (é ela quem de fato cuida dos três irmãos mais novos) compra um tabuleiro ouija para tentar contatar o pai falecido. (Netflix)
Viver Duas Vezes (2019), de Maria Ripoll. Com sua filha e sua neta, Emilio embarca em uma louca jornada pela Espanha para encontrar a sua paixão da juventude antes que ele sucumba ao Alzheimer. Mais uma atuação memorável de Oscar Martínez. (Netflix)
O Poço (2020), de Galder Gaztelu-Urrutia. Esta distopia espanhola tem ecos de duas obras do sul-coreano Bong Joon-ho. Assim como ocorre nos vagões de O Expresso do Amanhã, o presídio vertical de O Poço separa os ricos dos pobres. Assim como em Parasita, o filme mistura humor com brutalidade ao encenar duelos de sobrevivência para os quais os mais abastados nem dão bola. (Netflix)
Crimes de Família (2020), de Sebastian Schindel. Cecilia Roth brilha neste retrato da tradicional família hipócrita, que cultiva na aparência os vínculos afetivos e dorme sob a proteção de Cristo, mas é capaz de mentir, burlar, ameaçar, corromper. (Netflix)
Ninguém Sabe que Estou Aqui (2020), de Gaspar Antillo. Neste filme chileno, Jorge García, o Hurley da série Lost, dá show em um solo silencioso no papel de um ex-cantor mirim que virou um ermitão. (Netflix)
A Noite do Fogo (2021), de Tatiana Huezo. Observa o cotidiano de um povoado mexicano violentado pelo narcotráfico sob o olhar de três amigas, na infância e na adolescência. Um dos meus filmes preferidos na temporada. (Netflix)
Vamos Consertar o Mundo (2022), de Ariel Winograd. Um bem-sucedido produtor de TV (em cativante interpretação de Leonardo Sbaraglia) precisa aprender a ser pai de um menino de nove anos. É uma daquelas comédias dramáticas que os argentinos sabem fazer tão bem. (Netflix)