Minha relação com Monte Belo do Sul é ancestral. Minha família paterna tinha raízes nos arredores – um encontro dos Tremea, anos atrás, ocorreu num salão da comunidade – e um de meus afilhados, revivendo a história do trisavô e do bisavô, casou-se na paróquia da cidade há não muito. Talvez por isso tenha custado a enxergar Monte Belo como um destino mais turístico e menos familiar. Meio ofuscada pelas vizinhas e já consagradas Garibaldi e Bento Gonçalves, mas também integrante do Vale dos Vinhedos, a cidade com população de 2.514 habitantes começou a despertar a atenção de visitantes e empreendedores nos últimos anos, principalmente após a criação, em 2018, do projeto Vieni Vivere la Vita (“Venha Viver a Vida”). Voltei a ela semanas atrás, após participar de um evento em Garibaldi, onde fiquei hospedada. Por isso ela é a “cidade ao lado” nessa minha série que já tem três episódios (Nova Petrópolis/Linha Nova e Veranópolis/Vila Flores) e que pode voltar a qualquer momento.
Por que visitar?
Quilômetros antes da chegada a Monte Belo do Sul, pela RS-444, você já verá as torres da Igreja São Francisco de Assis. Com 65 metros de altura, inauguradas em 1965, desde então elas funcionam como cartão-postal da cidade. Em torno da praça da igreja há inúmeras atrações que você verá a seguir.
Mas, antes, é preciso dizer que o que move a economia local é a vitivinicultura – o município tem quase 2,3 mil hectares de parreirais e é considerado o maior produtor de uvas per capita da América Latina. Ali, segundo a Associação dos Vitivinicultores de Monte Belo do Sul (Aprobelo), que tem 11 associados, são produzidas 10% das uvas para espumante do RS.
A paisagem pontilhada de parreirais e as vinícolas – há 25 no município, algumas não vinculadas à associação – são, portanto, os principais atrativos (os empreendimentos voltados ao turismo são mais de 50, incluindo a produção de pipas). Mas voltemos à praça e ao que eu vi:
1 Cheguei no horário reservado para o almoço na Casa Olga e para lá me dirigi antes de qualquer coisa. Na casa recheada de lembranças pode-se escolher uma mesa no jardim ou na varanda, na sala de estar, de jantar ou mesmo em um dos quartos (quem sabe uma sesta após o almoço farto?!). Para quem tem ascendência italiana, é comida com sabor de memória – quem não tiver se renderá igualmente.
2 Na calçada em frente à casa, você encontrará as fofurices produzidas pela Senzafine à base de lavanda. É um de meus aromas favoritos e levei um sabonete empolgada também pelo design da embalagem, que reproduz a paisagem. Pena a ecofazenda ainda não oferecer visitação, projeto que a pandemia interrompeu, mas a banquinha já dá uma ideia da produção cuidada.
3 Mais duas paradas antes de voltar à igreja: os produtos de palha de trigo do Artesanato Marines Benatti, expostos numa das esquinas da Praça Padre José Ferlin – chapéus, sacolas, cestas, sousplats... – e a bela loja da vinícola Casa Marques Pereira, onde comprei uma garrafa do vinho rosé Vintage Blush. Faltou o café programado para tomar no Francesco, no qual já havia estado. Mas ainda queria ir ao interior, e aí o café ficou para a próxima vez.
4 Entre tantas vinícolas, me chamou atenção a possibilidade de conhecer o casarão de pedra da Casa Fantin, comandada por Aristides Fantin. Mais do que a construção com 140 anos que abriga um bistrô aberto aos finais de semana e o processo de elaboração dos vinhos por “passificação” (processo natural de desidratação parcial das uvas), me chamou a atenção a paixão de Aristides. Não só paixão pela produção de vinhos e espumantes, iniciada há pouco mais de uma década (até então, a família só produzia e vendia as uvas) ou pela comida servida aos turistas – tudo com a participação de filhos e esposa. Mas a paixão por explicar a história da família, da pesquisa sobre os ancestrais sem vistas à obtenção do passaporte italiano, como faz a maioria dos descendentes, da reconstrução de cada pedra do casarão que, confessa, quase veio abaixo. Os R$ 10 cobrados pela visita parecerão pouco. E, claro, comprei mais algumas garrafas de vinho e espumante na vinícola que é a mais distante do centro da cidade, não só para justificar a ida, mas porque os vinhos me pareceram ótimos na degustação.
PARA IR – Monte Belo do Sul fica a duas horas de carro da Capital. O site visitemontebelo.com.br é bem organizado e você conseguirá organizar seu passeio de forma eficiente a partir dele.
Sempre Garibaldi
Quem segue a coluna sabe da minha paixão por Garibaldi e, nessa última visita, a primeira que fiz desde o início da pandemia, tive de matar a saudade de três clássicos:
1 Fui à festa de 20 anos da Osteria della Colombina, sobre a qual escrevi aqui em novembro. “Espetacular” talvez seja uma palavra que resuma a comemoração com comida, bebida, música e, principalmente, emoção.
2 Me hospedei no Casacurta que, além de suas instalações internas confortáveis e do café da manhã sempre ótimo, agora, fruto da pandemia, construiu um mirante na encosta com espreguiçadeiras e vista para a cidade.
3 Caminhei pela Rua Buarque de Macedo, parada sempre obrigatória, que então estava enfeitada de Natal e mais bonita do que nunca. Uma vez nela, voltei ao Jardim Gastronômico que tem café, pizzaria, massas, hamburgueria, sushi...
Tempo de Vindima
Sempre é bom lembrar que janeiro e fevereiro são meses perfeitos para visitar o Vale dos Vinhedos. É tempo de vindima, época da colheita da uva e, além de produtos frescos, você pode participar de atividades como pisa da uva, colheita noturna, piqueniques, eventos enogastronômicos etc. Só a Vinícola Aurora, uma das mais tradicionais na região, oferece nove experiências turísticas diferentes nas suas três sedes. As vinícolas se comprometem em seguir os protocolos decorrentes da pandemia, mas o turista também é responsável por ajudar nessa tarefa.
A propósito: para quem for à região, entre as muitas opções de experiências há algumas como o curso de charcutaria autoral do chef Giordano Tarso, em Pinto Bandeira. Ele usa o espaço de seu restaurante, o Colheita Butique Sazonal, para ministrar um curso em seis módulos que começa em 21 de janeiro e acaba em 10 de dezembro, ensinando a fazer desde bacon e pastrami a presunto cru e embutidos frescos. Informações: (54) 98126-8293.
Tempo (também) de Zona Sul
Para quem fica em Porto Alegre durante o verão, a quarta temporada do projeto A Zona Sul É a Minha Praia apresenta roteiros com mais de 60 dicas de lugares e programas para aproveitar o que a região tem a oferecer: trilhas e locais para piqueniques, lazer e muita gastronomia. O guia está na revista Roteiro Destinos de Verão (edição impressa distribuída nos estabelecimentos participantes, versão digital em @azonasuleaminhapraia ou pelo WhatsApp (51) 99770-4401).