Antes de escrever de fato sobre o tema deste texto, preciso dizer: não sou fanática por futebol. O primeiro jogo a que assisti na TV faz parte da história. Dizer que "assisti" à final da Copa do Mundo de 1970 é um certo exagero — criança, comi pipoca, comemorei os gols, corri pela casa. Desde então, a cada quatro anos entro em campo como torcedora. Em estádios, conto as partidas ao vivo em uma só mão, entre elas uma da Seleção. Por ossos do ofício, precisei entender um pouco das regras e cheguei a saber de cor escalações de times e treinadores.
Tudo isso para dizer que não seria por amor ao futebol que eu caminharia 40 minutos, com sol e calor, para conhecer o Museu da Fifa em Zurique, na Suíça, onde fica a sede da entidade criada em 1904. Ia por amor a uma pessoa, apaixonada por futebol. Pelo menos o caminho, à beira de um canal com muito verde, compensava. Entraria na lojinha, compraria um presente e daria meia-volta. Mas me atraíram os painéis gigantes na recepção, mostrando gente de toda parte do mundo com uma bola nos pés, de grandes partidas a peladas de campinhos sem gramado. Por que não ficar? Fiquei. E aquelas duas horas se transformaram em deleite.
De cara, fui conquistada pelos lockers: guardei minha mochila no armário número 107 identificado como o armário de... Pelé. Cada um leva o nome de um ídolo diferente. As portas dos banheiros também estão identificadas por figuras jogando futebol. Eu me deixei levar e percorri todos aqueles 3 mil metros quadrados de exposição do museu inaugurado em 2016, visitado por gente do mundo inteiro. Ah! Não só minha visita recente é "gancho" para este texto, mas também o fato de a Fifa completar 120 anos em 2024.
Mas o que há para ver nesse prédio moderno? Equipamentos históricos de times de futebol, troféus, atas de jogos, cartões de árbitros, bolas de finais de Copas do Mundo, camisetas originais de astros como Maradona e Zidane, sem contar as centenas de imagens mostrando a evolução do esporte e de seus protagonistas.
Começo do começo, com os painéis de LED que me chamaram a atenção na entrada, com cenas do futebol desde a criação, em 1863. Esse hall é o chamado Planet Football, e uma área central, colorida — não por acaso batizada como The Rainbow, "o arco-íris" — exibe 211 camisetas nacionais.
Dali se desce uma escadaria, como se estivesse entrando no túnel de um estádio, com uma linha do tempo, para chegar à galeria com destaque para a Taça Jules Rimet, incluindo parte do troféu original do francês Abel Lafleur — você deve lembrar, o troféu que deveria ficar em definitivo com o ganhador de três Copas (o Brasil, no caso) já havia sido roubado uma vez antes de ser exposta no Brasil, onde acabou surrupiado de novo e derretido.
Nos primeiros monitores interativos se pode selecionar um país e receber informações básicas sobre a trajetória futebolística de cada um. Elegi o Brasil, óbvio, incluindo assistir um vídeo com imagens de Dunga na Copa de 1994, e a Argentina (por que não?). Tinha certeza de que o Brasil seria protagonista nos espaços, mas não tinha ideia de o quanto. Com cinco títulos mundiais, nem poderia ser diferente. Mas há espaço também para derrotas traumáticas como as de 1950 e 2014. E uma maquete interessante mostrando como era o Maracanã em 1950 e 2014. "Me fotografei" como se estivesse no estádio em 2014. Bacana.
Nesse mesmo nível fica o The Cinema, cinema panorâmico em 180 graus. E dali sobe-se ao último andar por um elevador panorâmico onde se veem os onipresentes painéis de LED. Nesse nível há um pouco da história primitiva do futebol, dos jogos de tabuleiro (futebol de botão) até chegar aos jogos eletrônicos.
Encerra-se a visita (e aqui está o futebol do título) em um pinball gigante, para testar habilidades técnicas como rebater bolas, driblar, chutar a gol e cobrar pênaltis. Há cinco experiências no total. Na primeira, cada jogador recebe o nome de um atleta e os jogos vão sendo acionados com uso do ingresso. Espero que as imagens das câmeras já tenham sido apagadas, pois o fiasco não foi pequeno — me saí bem na cobrança dos pênaltis, preciso ressalvar. É diversão garantida ou o seu dinheiro de volta.
Há bar, restaurante e, claro, loja. A loja! Era para eu começar aqui e foi onde acabei. Meus presentes resumiram-se a "lembrancinhas", já que meus reais não conseguiriam mesmo arrebatar uma camiseta assinada por Pelé por 2.290 francos suíços (cerca de R$ 13 mil). Não que eles — Pelé e o meu presenteado — não merecessem.
As mulheres
O espaço ainda é tímido, mas há uma área destacada para o futebol feminino. Assim como no caso das seleções masculinas, a competição das mulheres ocorre a cada quatro anos, um ano após o Mundial dos homens — enquanto a primeira Copa feminina ocorreu em 1991, na China, a masculina é de 60 anos antes, em 1930, no Uruguai.
Para ir
- O Museu da Fifa, em Zurique, na Suíça, fica na Seestrasse, 27, próximo à Estação Ferroviária (Enge Bahnof) e à Tessinerplatz.
- Dá para ir a pé do centro histórico, mas há ônibus e bonde até lá.
- Funciona de terça a domingo, das 10h às 18h, com ingresso a 24 francos (cerca de R$ 140). O museu promove eventos, debates, noites de cinema e exposições especiais. Oferece programas educativos para escolas e famílias e visitas guiadas três vezes por semana. Sem contar a possibilidade de ir à biblioteca, aberta a pesquisas.
- Saiba mais em fifamuseum.com