Não diga que a obsessão é só minha, nos últimos anos, causada pelo fato de um familiar viver na Holanda. É que volta e meia há algum (bom) motivo para citar aquele país, lá e cá.
O de hoje são visitas recentes que fiz a dois pontos turísticos, no Paraná e no RS, que remetem aos Países Baixos, reproduzindo arquitetura, história e gastronomia. Confira:
Parque Histórico de Carambeí (PR)
Para quem gosta de parques ou museus etnográficos, este é um prato cheio. Inaugurado em 2011 para marcar os 100 anos da imigração holandesa nesta cidade a cerca de duas horas de Curitiba, reproduz com bom gosto e cuidado não só as construções da colônia onde se instalaram umas poucas famílias holandesas, em 1911, atraídas por promessas do governo e pela construção de uma estrada de ferro, mas também casas com a arquitetura típica holandesa (o Parque das Águas, que reconstitui o parque ambiental Zaanse Schans, próximo a Amsterdã).
Já na entrada você verá aspectos indefectíveis da paisagem dos Países Baixos: uma ponte e um canal — a ponte, que é içada ao final do expediente do parque, foi trazida da Holanda, presente de um banco, para celebrar o centenário. A seguir, você poderá optar pela visita guiada ou por percorrer sozinho o trajeto, acompanhando o mapa do eficiente material de divulgação.
As réplicas espalhadas pelos 100 mil metros quadrados contam um pouco da história, do trabalho, da cultura e da vida em sociedade dos holandeses de Carambeí. Em datas especiais, o parque ganha a presença de voluntários que vestem trajes de época e por vezes aparecem como passageiros à espera do trem na estação, produzindo trabalhos manuais ou conversando com os visitantes, como fazia Charlotte Katsman, que completava 70 anos no final de semana da minha visita e falava sobre a vida de seus pais no início da colonização, apontando nas fotos das paredes da igreja nome, sobrenome e as relações das famílias dos antepassados.
É um lugar em que se percebe a preocupação não só em reproduzir, mas em preservar a história de trabalho (para ajudar a situá-lo, em Carambeí nasceu a primeira cooperativa de laticínios do Brasil, que usava a marca Batavo e hoje é parte do grupo Frísia) e cultura, com atividades pedagógicas e de proteção ao patrimônio. Você pode começar ou terminar sua visita no Koffiehuis, lugar para conhecer a gastronomia e escolher algum suvenir. De minha parte, matei a saudade de "bitterballen", o tradicional croquete holandês que é modelado em forma de bolinhas.
Para ir: de terça a domingo, das 11h às 18h. Avenida dos Pioneiros, 4.050, Carambeí (PR), a 137 quilômetros de Curitiba. Instagram: @ParqueHistorico
Cidade Zaandam, em Nova Petrópolis (RS)
É simpática a forma como você é recebido neste espaço gastronômico bem no centro da cidade da serra gaúcha: além dos atendentes estarem vestidos com trajes típicos, seu cartão de consumação vem anexado em um "Paspoort", reprodução em tamanho natural de um passaporte holandês.
Já terão chamado sua atenção as casas coloridas (da família, do moleiro, do contador, da confeiteira, do cervejeiro, do mestre queijeiro, do bar e da cooperativa) que imitam a arquitetura holandesa, assim como as enormes pás do moinho de vento que pendem sobre a calçada e os sapatos de madeira gigantes na área externa.
Inaugurada em outubro de 2020, a Cidade Zaandam é obra de uma família de descendentes de holandeses e reproduz a cidade às margens do Rio Zaan, onde fica o parque Zaanse Schans. No teto do salão principal, uma prova do orgulho das origens da família está na gigantesca bandeira dos Países Baixos que, diz o material de divulgação, seria a maior do mundo em um ambiente interno.
A Zaandam aposta em ambientação, comida e bebida. Há bar externo e interno, confeitaria, um salão principal, pub holandês com cervejas do mundo inteiro e um empório, de onde você pode levar de queijos e geleias a cervejas e vinhos. Você pode apenas provar uma cerveja ou drink (eles levam os nomes de famosos artistas holandeses como Van Gogh ou fazem referências aos canais de Amsterdã) ou tomar café da manhã, café colonial, almoçar ou jantar. Optei, por circunstâncias, pelo jantar. Escolhi o Schnitzel de Maastricht e, de novo, um petisco típico holandês do qual tenho me tornado especialista: "bitterballen", o croquete holandês, servido com mostarda — e ele não ficou devendo aos melhores que já provei. Me senti, de fato, como dizem lá pela Cidade Zaandam, num pedacinho da Holanda no Brasil.
Para ir: Avenida 15 de Novembro, 1.057, no centro de Nova Petrópolis (RS). Abre todos os dias, das 9h às 22h (às sextas, sábados e feriados, até a meia-noite)
A imigração holandesa
Em meados do século 19 e na primeira metade do século 20, o governo brasileiro estimulou a entrada de europeus para substituir a mão de obra escrava. Ainda que em número menos expressivo do que alemães e italianos, os primeiros holandeses chegaram ao Brasil (sem contar o período das invasões, no Nordeste, no século 17, é claro) pelo Espírito Santo (1858), depois por Gonçalves Junior-PR (1908), Castro-Carambeí-PR (1911), Holambra-SP e Não-Me-Toque-RS (1948-1949), principalmente.
Na Fronteira
Também tem sotaque holandês o complexo Amsterland, aberto em 2019 em Santana do Livramento, com piscinas de águas termais e outras atrações. As construções que reproduzem uma vila holandesa ainda não estão prontas, por interrupções causadas pela pandemia, e devem ser concluídas num prazo de dois anos.