Caminho dos tropeiros depois colonizado por imigrantes italianos no final do século 19, Veranópolis passou a ser conhecida nos últimos anos como a Terra da Longevidade e, no final de novembro, ganhou uma sede para o Instituto Moriguchi – Centro de Estudos do Envelhecimento, que atua por ali desde os anos 1990. Por acaso, no dia da inauguração, eu estava no restaurante giratório Mascaron, na Torre Mirante da Serra, onde um grupo ligado ao Instituto se reunia para celebrar a conquista. Trata-se de uma boa opção caso o seu destino no Vale do Rio das Antas seja a própria cidade ou caso você esteja de passagem, já que fica à beira da rodovia (no almoço, funciona de terça a domingo, e aos finais de semana é bom sempre reservar).
Antes de revisitar o restaurante, onde havia estado logo após a abertura, em 2005, também revi a Igreja Matriz São Luiz Gonzaga e tirei fotos, claro, no Belvedere do Espigão, na entrada da cidade. Ah, e consegui repor meu estoque de Pacomienne, um licor de ervas medicinais produzido e vendido na casa de retiro dos Irmãos Maristas, mas que você também encontra na Casa Saretta, uma atração local que abriga uma loja de artesanato.
Bem, minha passagem por Veranópolis seria mesmo breve. Meu destino era Vila Flores, a “cidade ao lado” do título, uma pequena série que iniciei com Nova Petrópolis/Linha Nova e que terá pelo menos mais um episódio.
O surgimento
Menos de 10 quilômetros separam Veranópolis de Vila Flores. E elas já foram muito mais próximas: é que a primeira nasceu como Colônia Alfredo Chaves, desmembrou-se de Lagoa Vermelha e, quando virou município, abraçou Pinheiro Seco, que depois receberia o nome de Vila Flores em homenagem a uma família, os Fiori (flores, em italiano). Só em 1988 Vila Flores ganhou sua independência e hoje soma pouco mais de 3,2 mil habitantes em seus quase 108 quilômetros quadrados de área. Sim, é bem pequenininha, mas as três atrações que descreverei a seguir valem sua ida até lá:
Vila Capuchinhos
Sóbrio, sem muitos adereços, como é típico da ordem dos Capuchinhos, o hotel tem acomodação confortável e moderna, mas as áreas comuns é que são mais interessantes, estimulando o convívio: o jardim fica em um pátio interno com perfume de alfazemas, há mesas sob tendas, bancos e uma fonte central. Não fosse a pandemia, a roda de chimarrão ali ao lado seria perfeita. O bar tem petiscos e drinques, e o restaurante, cardápio à la carte (é onde também é servido o café da manhã nada franciscano). Há também enormes estantes na sala de estar de onde você pode pegar livros emprestados (reli A Missa do Galo, conto de Machado de Assis).
E há a capela interna, a Chiesa della Porciúncula, construída com tijolos e madeiras de demolição e grandes vitrais coloridos. Mais duas coisas importantes: o complexo turístico abriga piscinas com águas termais e uma vinícola, a Cave dos Frades, que produz vinhos e espumantes de ótima qualidade. O canto gregoriano que se ouve suavemente vindo da capela, os quadros com imagens sacras e os freis circulando com suas vestes deixam o ambiente muito mais leve do que pode parecer.
Villa do Pão
O gato preguiçoso dormindo à beira dos degraus da porta principal e o jardim de casa da colônia italiana já me teriam feito entrar, mesmo que não soubesse o que me reservava a Casa Fiori, construção de 1913 na rua principal. Os imigrantes Giovacchino e Antonina abriram o negócio para manter a família no início do século 20. Agora, a quarta geração ainda habita a casa e toca a Villa do Pão.
No salão, há o comércio de pães (famosos pelo tamanho, já que eram destinados aos tropeiros) e biscoitos, principalmente. Na sala menor, há um café onde são servidos doces e salgados. Ao lado, num corredor, um pequeno museu e painéis preservam a história familiar. Depois de tomar um café, experimentei uma figada que a atendente definiu como “doce feito com ouro”. Ela não exagerou. Veja mais em @villadopaodevilaflores
L’Arte Ceccato
Fica na Linha Aimoré e estava dito na placa naquele sábado: atendimento até 11h. Passava um minuto da hora. Como ainda havia restrições e eu tinha andado um tantinho do centro da cidade até lá (3,5 quilômetros, em estrada toda com paralelepípedo perfeito), mas não teria outra chance de voltar, resolvi tocar a campainha assim mesmo. Ainda que estivessem atarefadíssimos, Makielen e seus pais atenderam com a mesma gentileza como se tivessem recém aberto e mostraram o que é produzido no atelier de cerâmica (há muitas peças espalhadas pelo jardim), e principalmente, levaram até o Relógio do Corpo Humano, com uma mandala curativa composta por ervas medicinais (para cada horário, uma erva específica para o chá).
Saí de lá com um minipresépio de cerâmica feito na casca de uma semente e sachês de camomila. Ao final da conversa, descobri que a Makielen Zandoná Ceccato é a coordenadora de Turismo da cidade. Que bom. Vila Flores, pela recepção que eu tive, está em boas mãos. Veja mais em @lartececcato
No caminho
Antes de chegar a Veranópolis, no Distrito de Tuiuty, ainda pertencente a Bento Gonçalves, a dica é dar uma parada na Vinícola Cainelli. O casarão amarelo adquirido pela família em 1929, mesma data do início da produção dos vinhos, é visto sem dificuldade, já que fica bem à beira da rodovia (Km 203 da BR-470). No porão da casa, a loja tem vinhos tintos e brancos, espumantes, sucos e alguns doces, como uma deliciosa palha italiana. No andar de cima, um pequeno e bem cuidado museu mostra uma típica casa italiana do final dos séculos 19 e início do século 20. Você pode fazer degustação, piquenique e passeio de tuc-tuc sob os parreirais além da pisa da uva durante a vindima. Abre diariamente, das 9h30min às 11h e das 13h30min às 17h.