Convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, a pretexto de se defender, a manifestação na Avenida Paulista, em 25 de fevereiro, não muda a sua situação jurídica. Não é em um ato com pessoas vestidas de verde e amarelo que ele precisa explicar a tentativa de golpe em 2022 e a série de eventos em que atentou contra o Estado Democrático de Direito.
O foro é outro: provavelmente antes do dia 25, Bolsonaro e os generais Braga Netto e Augusto Heleno serão intimados a depor sobre suas investidas contra o sistema eleitoral e a tentativa de virar a mesa para impedir a eleição e, depois, a posse do presidente eleito em outubro de 2022.
O vídeo da reunião em que se fala abertamente em fazer alguma coisa para impedir a vitória de Lula foi a base da Operação Tempus Veritatis, mas não é o único elemento. Bolsonaro será interrogado sobre outras tentativas de melar a eleição para continuar no poder.
Não era "um golpe contra ele mesmo", como dizem seus apoiadores, mas um conjunto de manobras que incluíam criar o clima de caos que justificaria a decretação de estado de sítio. Nos planos, convém lembrar, estavam as prisões dos ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
O que Bolsonaro quer no dia 25 de fevereiro na Paulista é uma demonstração de força. Uma fotografia para alimentar a narrativa de que, se for preso, a multidão vai se rebelar e teremos o tal "clima de guerrilha", mencionado na reunião de julho.
O pedido para que os apoiadores não levem faixas com ataques a quem quer que seja se explica pelo medo de que os pedidos de intervenção militar sejam um desses tiros que saem pela culatra.
ALIÁS
Infiltrar agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nas campanhas dos adversários é outro ponto chave na operação da Polícia Federal. Tanto Bolsonaro sabia da gravidade da sugestão do general Augusto Heleno que sugeriu falarem a sós.