O general Augusto Heleno defendeu, durante a reunião da cúpula de governo do então presidente Jair Bolsonaro em julho de 2022, “virada de mesa” antes das eleições de 2022. Na mesma reunião, o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) mostrou preocupação com possível vazamento do esquema que estaria sendo montado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para "acompanhar o que os dois lados estão fazendo" — uma referência as campanhas de Lula e Bolsonaro.
A reunião está registrada em um vídeo divulgado nesta sexta-feira (9) pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da Operação Tempus Veritatis (assista vídeo acima). A ofensiva foi deflagrada na quinta-feira (8) pela Polícia Federal para investigar uma suposta organização criminosa cuja atuação teria resultado na tentativa de golpe de Estado no 8 de janeiro de 2023.
Ao manifestar preocupação com a possibilidade de agentes da Abin que estariam sendo infiltrados naquele ano eleitoral, Augusto Heleno foi interrompido por Bolsonaro, sob o argumento de que o assunto teria de ser discutido no particular.
— Dois pontos que eu quero colocar aqui, presidente. Primeiro, o problema da inteligência. Eu já conversei com o Vitor, que é o novo presidente da Abin (Victor Felismino Carneiro, então diretor-adjunto da Abin). Nós vamos montar um esquema para acompanhar o que os dois lados estão fazendo. O problema todo disso é que se vazar qualquer coisa — afirma o general.
Nesse momento, conforme as imagens do vídeo, Augusto Heleno foi interrompido por Bolsonaro:
— General, eu peço que o senhor não fale, por favor. Que não prossiga na sua observação aqui. Se a gente começar a falar (sobre) não vazar, esquece. Pode vazar. Então a gente conversa em particular na minha sala sobre esse assunto, do que porventura a Abin está fazendo.
"Não tem VAR nas eleições"
O general Heleno então retoma sua fala para manifestar a segunda preocupação:
— Não tem VAR (juiz assistente de vídeo, utilizado no futebol) nas eleições. Não vai ter segunda chamada das eleições. Não vai ter revisão do VAR. Então o que tiver de ser feito tem de ser feito antes das eleições.
—Se tiver de dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver de virar a mesa é antes das eleições. Depois das eleições será muito difícil que tenhamos alguma nova perspectiva. Até porque eles vão fazer tão bem feito, que essa conversa do Fachin (ministro Edson Fachin, do STF) com os embaixadores vai eliminar a possibilidade do VAR acontecer. No dia seguinte todo mundo reconhece (o novo governo) e fim de papo — acrescentou.
Na sequência, Heleno propõe a Bolsonaro que promova um rompimento institucional para se manter no poder:
— Isso tem de ficar bem claro. Acho que as coisas têm de ser feitas antes das eleições. Vai chegar em um ponto em que não vamos poder falar. Vamos ter de agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro.