Quem já era adulto nos anos 1970 haverá de lembrar de uma campanha eleitoral em que só se ouviam dois jingles: “Arena é o ingresso/ na vida moderna/ Arena é o progresso? Arenaaaa” e “DB, MDB, MB/ o povo agora vota todo com você”. Era o tempo do bipartidarismo, em que o eleitor não podia votar para presidente, nem para governador, nem para prefeito das capitais e áreas de segurança nacional. Mas votava-se para deputado estadual e federal, senador, prefeito de cidades menores e vereador. E para todos esses cargos só havia duas opções: ou se era Arena, alinhado com o governo, ou oposição, eleitor do MDB, que reunia os políticos do centro para a esquerda.
Ainda que na Câmara dos Deputados 23 partidos tenham conseguido eleger pelo menos um representante (eram 30 em 2018), o centro foi o grande derrotado, tanto na eleição legislativa quanto na disputa presidencial.
O bolsonarismo aniquilou os partidos tradicionais, com exceção do PT, que cresceu na carona do ex-presidente Lula, disputa o segundo turno e elegeu a segunda maior bancada na Câmara.
O PL só saiu grande porque foi o partido escolhido por Bolsonaro, depois de deixar o PSL, que se fundiu com o Democratas e virou União Brasil. O PL não se enquadra na definição de "tradicional". É o partido de Valdemar Costa Neto, um dos expoentes do centrão, que apoia qualquer governo. Costa Neto já foi aliado do PT, condenado no escândalo do mensalão e hoje líder da bancada que terá a maior fatia dos fundos partidário e eleitoral nos próximos quatro anos. Se Bolsonaro tivesse retornado ao Progressistas (PP), como ensaiou, seria ele e não o PL o campeão de cadeiras na Câmara. O Republicanos também deve seu sucesso nas urnas ao bolsonarismo, já que abrigou os que, por conveniência, não migraram para o PL.
O PT ficará com o segundo maior volume de recursos dos fundos públicos, o que ajudará a garantir o protagonismo dessas duas forças nas próximas eleições. Há um segundo turno pela frente para que se possa fazer o balanço definitivo, mas algumas conclusões são inequívocas.
O PSDB, que protagonizou todas as eleições presidenciais de 1994 a 2014, ficou fora do segundo turno em 2018, não teve candidato neste ano, perdeu a "capitania hereditária" de São Paulo e elegeu apenas 13 deputados federais. Sua esperança de sobrevida está no segundo turno no Mato Grosso do Sul, na Paraíba, em Pernambuco e no Rio Grande do Sul, quatro eleições difíceis. O MDB segue pelo mesmo caminho, sem protagonismo nos maiores Estados do país.
ALIÁS
O antes poderoso PTB, outro partido do centrão famoso por se entregar a qualquer governo em troca de cargos, foi tragado pelo bolsonarismo e exterminado por seu presidente, Roberto Jefferson. Elegeu apenas um deputado no Brasil, perdeu todas as disputas estaduais e ficou sem representante no Senado.