O momento não está para poesia, mas como o presidente Jair Bolsonaro voltou a usar a metáfora do casamento na sua filiação do PL de Valdemar Costa Neto, cabe relembrar os versos finais de Vinicius de Moraes no Soneto da Fidelidade: “Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”. Infidelidade partidária é uma constante na vida de Bolsonaro, que já está no nono partido. Já Costa Neto tem uma fidelidade absoluta ao poder, não importa em que mãos esteja.
Condenado e preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no mensalão do governo Lula, a quem jurou fidelidade, Costa Neto venceu a disputa pelo passe de Bolsonaro. Às vésperas do enlace, ele ainda estava dividido entre o PL, o PP e o Republicanos. Como quem casa com uma pessoa que tem filhos de outra união, o PL herdou o filho Flavio, enrolado na rachadinha, mas protegido pelo foro privilegiado. Não por acaso, na hora do sim Bolsonaro disse que não era um casamento, mas uma família.
O termo “família” na política pode tanto lembrar a tradicional formação homem, mulher e filhos, tão ao gosto da ministra Damares Alves, quanto os pactos das “famiglias” sicilianas nas disputas de poder e dinheiro. Neste casamento à moda Centrão, o PL entra com o dote — um fundo eleitoral de R$ 375 milhões para a campanha — e Bolsonaro com seus milhões de seguidores, cerca de 30% de intenção de voto nas pesquisas, a fama de mito e a máquina pública. Um casamento de interesses que deve durar, no mínimo, até a eleição.
Se Bolsonaro for vitorioso, Costa Neto, chefão do PL, terá posto estratégico no futuro governo. Se perder, cada um para seu lado, porque é pule de 10 que Costa Neto estará no novo governo, seja lá quem for o eleito. Para isso, basta que tenha uma bancada numerosa, já que qualquer presidente vai precisar de sustentação política.
Bolsonaro 2022, apadrinhado pelo Centrão, não poderá se apresentar como guardião da moral, dos bons costumes e da luta contra a corrupção. O passado de Costa Neto o condena, mas a próxima eleição tende a ser uma luta de rotos contra esfarrapados.