Tragédias marcam vidas para sempre. Poderíamos ter aprendido com "avisos" anteriores, tempestades severas que renderam mais debate em torno do nome dos fenômenos e de quanto foram imprevistos do que sobre as lições que deixaram.
Com os episódios de pânico, desespero, desalento e exasperação provocados pelo dilúvio de maio de 2024, precisamos mudar. Não só as administrações públicas, que têm dever de governar, inclusive durante tragédias - dadas algumas declarações, parece que a responsabilidade cessa diante do "imponderável". Nem era imponderável, nem cessa.
Os governos precisam mudar. A sociedade precisa mudar. Nós precisamos mudar. Eu preciso mudar. Você precisa mudar. Para reerguer o Estado, precisamos transformar esta catástrofe pela qual ainda estamos passando em aprendizado.
Da forma mais dura, estamos aprendendo o custo do improviso. Não só o que se seguiu há anos de incúria, exigido porque não houve manutenção eficiente do sistema de proteção contra cheias de Porto Alegre. Mas também o do que ainda age baseado na crença de que tempestades severas só vão se repetir daqui a dezenas de anos.
Porto Alegre viu devastações se repetirem em poucos dias, a mais recente agravada por diagnósticos e decisões erradas. Os especialistas em clima não se cansam de repetir, os jornalistas conscientes não se cansam de reproduzir: o principal resultado da mudança climática é o aumento da frequência e da intensidade das tempestades.
E o pior: o efeito que os humanos provocaram até agora não pode ser revertido, apenas amenizado com a adoção de medidas de resiliência. Essas iniciativas não são o Santo Graal, algo muito perseguido e totalmente desconhecido. Estão definidas, mapeadas, incluídas em sistemas multilaterais de financiamento. O que falta? Dar prioridade. Agora, não depois.
Então, há duas coisas que governos, sociedade, nós, eu e você não podemos mais tolerar: a atribuição da destruição ao "imponderável" e a alegação de que não se sabe o que fazer diante da mudança climática. Se não cobrarmos, não vai mudar. Se não exigirmos transparência na tomada de decisões, não será entregue - como não tem sido, apesar dos discursos. Se não demandarmos respostas adequadas à mudança no planeta, não vão se concretizar.
Vale para todas as esferas de governo. Para a federal, que diz "dinheiro não vai faltar", mas não entrega; para a estadual, que demora no diagnóstico e também em alcançar a ajuda urgente; para a municipal, que se enreda diante das pressões, tanto as de lobbies quanto a da água. Não seremos dignos de ter sobrevivido às calamidades se não formos sujeitos da resposta que as circunstâncias exigem.
PARA LEMBRAR: ainda há emergências a atender e uma reconstrução desafiadora pela frente, para as quais será necessária toda a ajuda disponível e mobilizável, por menor que seja. Se for grande, melhor ainda. Se puder, por favor, contribua. Saiba como clicando aqui.