
Tanto antes do dilúvio quanto durante - porque ainda não passou -, jornalistas têm o hábito de olhar duas ou três linhas de cada e-mail ou mensagem para decidir o que deletar e o que ler, de fato. Um fez parar.
Sergio Sbabo, dono da Della Nonna, uma pequena fábrica do 4º Distrito, descrevia em detalhes uma situação desoladora. Foi preciso parar a correria para, com a história de Sbabo, contar como estão centenas de pequenas empresas no Rio Grande do Sul.
— Sem um valor para as empresas recuperarem as perdas, com certeza vamos encerrar as atividades — escreveu Sbabo, que aceitou contar mais dessa história.
A Della Nonna se localiza na Rua Frederico Mentz, entre o DC Navegantes e a Arena do Grêmio. Na rua, a água chegou a três metros de altura, a mesma da alta porta de ferro do andar de baixo, onde fica a produção.
— Temos dois andares. Na parte de baixo, estão a produção e o estoque, na de cima, o administrativo, que não alagou. Mas no primeiro, tudo ficou debaixo d´água: matéria-prima, produto pronto, equipamento de cozimento, eletrônicos.
O nível da inundação baixou um pouco, mas ainda está longe de permitir sequer verificar o que ocorreu com aparelhos como uma embaladora, que custa cerca de R$ 30o mil. Se for preciso comprar uma nova, não só não há dinheiro, como vai demorar 90 dias para chegar, diz.
— A empresa já vinha em dificuldades desde a pandemia. Cerca de 99% da nossa produção vai para supermercados, que não aceitaram reajustes para compensar a disparada de preços do gás, da gordura, do sal, da farinha — descreve.
Sbabo caracteriza a empresa como "modesta", com 20 funcionários e faturamento de R$ 1,5 milhão ao mês. Desta vez, os problemas começaram com a interdição de estradas. Não era possível entregar encomendas no interior do Estado.
— Na quinta e sexta-feira da semana passada, só trabalhamos para anular notas fiscais. Neste mês, tive faturamento zero. Funcionários que moram no bairro estão em abrigos. São pessoas que trabalham aqui há 20, 25 anos, dependem da empresa — relata Sbabo.
Além dos empregos diretos, acrescenta, estão ligados à Della Nonna prestadores de serviço, representantes comerciais e uma rede de entrega exclusiva, formada por 11 pessoas. Uma delas, que mora na Região Metropolitana, perdeu casa, carro e o furgão de transporte. Sincero, Sbabo diz que não vai conseguir acesso da linhas de financiamento do BNDES ou outro banco público porque não está em dia com as obrigações tributárias.
— Não tenho não negativas (de débito com a União) por discussões judiciais.
Tem buscado opções nos privados, mas esbarra em condições que não atendem a suas necessidades, com juro alto e prazo curto.
— Tenho muitos vizinhos na mesma situação. Se não tiver ajuda, não vamos sobreviver. Minha aflição é que não vejo nada claro e rápido. Se na próxima segunda-feira a água baixar, não vou ter condições de arrumar as máquinas.