É um retrato ainda provisório do Sete de Setembro, porque há muito dia pela frente, mas os primeiros sinais das manifestações convocadas por Jair Bolsonaro já se caracterizam por contrariar a imagem que o presidente supostamente cultiva, de Ordem e Progresso.
Se na noite de segunda-feira (6) houve invasão à área que deveria ter ficado isolada na Esplanada dos Ministérios, esta terça-feira (7) começou com bloqueio ao menos parcial de estradas por caminhoneiros que levam, entre outros cartazes, os que pregam "Bolsonaro 2022".
Então, até agora, nem ordem, nem progresso. A adesão dos caminhoneiros é emblemática: a greve da categoria, também estimulada por Bolsonaro em maio de 2018, abortou um ensaio de recuperação da atividade e provocou prejuízos que se espalharam ao longo de meses. Menor e mais localizado, porque só no Brasil, foi um desarranjo da produção semelhante ao estendido globalmente pela pandemia. Desta vez, na melhor das hipóteses, não durará mais do que poucas horas, mas acende o alerta de risco.
Na invasão da área da Esplanada, na noite de segunda-feira (6) estava presente o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o mesmo que, em 2018, havia afirmado que, para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF), bastava "um soldado e um cabo". Na época, confrontado devido à bravata golpista, disse que era "brincadeira". Seu pai, então candidato, afirmou que quem falasse em fechar o STF precisava de psiquiatra.
Em faixas e cartazes nas manifestações "de apoio ao governo", as palavras de ordem refletem o espírito "cabo e soldado". Entre os pedidos, está "intervenção militar com Bolsonaro no poder". Um presidente que convoca, incentiva e participa de atos com viés antidemocrático assume muitos riscos. O que pode deteriorar ainda mais uma economia já debilitada por inflação, crise energética e aventuras fiscais é apenas um.