Os impactos da greve dos caminhoneiros ficaram ainda mais evidentes com a divulgação do último dos principais indicadores econômicos referentes a maio. Considerado uma prévia do PIB, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) mostrou recuo de 3,34% em relação a abril. A queda é a maior registrada desde o início do indicador, em 2003, superando a de dezembro de 2008, de 3,19%, no auge da crise financeira internacional.
O resultado do IBC-Br confirma o movimento de outros indicadores divulgados nos últimos dias pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Serviços tiveram recuo de 3,8%. A greve também foi sentida na atividade industrial, que produziu 10,9% menos. As vendas do comércio varejista ampliado, que inclui lojas de veículos e materiais de construção, sofreram queda de 4,9%.
Compensar a ociosidade do período de paralisação é uma necessidade, principalmente da indústria e do comércio, que anima os economistas quanto à retomada, ainda que baixa, de crescimento nos meses de junho e julho.
Na prática, explica o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, Julio Gomes Almeida, com o fim da greve, o produto represado foi vendido, os estoques baixaram e, por consequência, os lojistas fizeram novas encomendas às indústrias:
— A greve deixou um buraco, mas a indústria e o comércio irão recuperar em junho e julho o que perderam em maio. Para muitas atividades, os efeitos da greve dos caminhoneiros apenas aprofundaram perdas que já vinham ocorrendo há mais tempo, isto é, os eventos atípicos de maio podem não ser a única causa da retração da economia, que já vinha fraquejando.
Marcelo Portugal, professor da UFRGS, projeta que o PIB, a ser divulgado no fim de agosto, terá crescimento de 0,3% a 0,4% no segundo trimestre. Para o ano, a estimativa do especialista é de que feche entre 1,5% e 1,7%, índice superior ao do ano passado, de 1%. Em junho, o Banco Central reviu a projeção de crescimento da economia de 2,6% para 1,6%. Ontem, foi a vez do Fundo Monetário Internacional (FMI) declinar da projeção de 2,3%, feita em abril, para 1,8%.
— Em três meses, quase tudo volta ao normal. Claro que a viagem a turismo que não foi feita na greve, o frango que morreu e o leite que estragou não serão recuperados. O resto volta – explica Portugal.
Um fator que deixa mais nebulosas as perspectivas para os próximos meses é político. O cenário de indefinição eleitoral funcionará como freio semelhante ao movimento que bloqueou as estradas.
— O que as eleições fazem é impedir que a retomada seja rápida. Ninguém quer se arriscar sem saber quem mandará no país – pondera Portugal.
Ao analisar possíveis impactos do período eleitoral, Alfredo Meneghetti Neto, economista e professor da PUCRS, ressalta que até os partidos confirmarem suas candidaturas e as pesquisas eleitorais apontarem os protagonistas, a tendência é de crescimento aos soluços.
— A partir de setembro, deve haver reação mais significativa – avalia o professor da PUCRS.
Para Meneghetti, os reflexos da greve devem ser sentidos ainda nos índices de junho e a estabilização virá em julho, pois a demanda represada nas estradas foi entregue — com exceção de produtos e serviços irrecuperáveis — após a paralisação.