O aumento foi tão grande que o governo Bolsonaro decidiu até trocar o nome da cobrança.
A partir de quarta-feira (1º/9), a bandeira vermelha patamar 2 na conta de luz, de R$ 9,49 dará lugar à "bandeira tarifária escassez hídrica" de R$ 14,20. Independentemente de nome, trata-se de um bandeiraço de 49,63%.
Um reajuste desse tamanho, enquanto o governo define o valor da compensação para quem poupar energia fez surgir uma nova – e amplificada – versão de "black fraude": duplica um custo pesado para depois oferecer um desconto mínimo, abaixo de R$ 1 por quilowatt-hora, para quem conseguir economizar eletricidade nesse momento crítico.
Quando voltou a incidir sobre as contas, em junho, o valor da bandeira vermelha 2 era de R$ 6,243 a cada 100 kWh consumidos. Com o novo reajuste, acumula aumento de 127,5%, ou seja, o valor mais do que duplicou em três meses. Fábio Romão, especialista em inflação na LCA Consultores, é um dos analistas que vê "racionamento por preço" nos reajustes dos custos da eletricidade para consumidor:
– Com tanto aumento de preço, a tendência das pessoas é reduzir o consumo.
Nas contas de Romão, a elevação vai aumentar o IPCA, o índice oficial de inflação de 7,42% para 7,72%, considerando que esse patamar se mantenha até abril. O ministro da Economia, Paulo Guedes, havia sinalizado que duraria seis meses, serão oito. Isso significa que este será o último reajuste da bandeira vermelha 2?
Depois do aumento anterior, ficou claro que ainda um pedaço da conta da crise hídrica a ser repassado. Agora, em tese, essa conta zerou. Mas no setor elétrico, neste momento, o futuro é opaco. Mario Mesquita, economista-chefe do Banco Itaú, informou nesta terça-feira que a projeção de risco de racionamento que sua equipe faz dobrou, de 5% para 10%. A crise ainda pode custar muito mais caro.
Só para lembrar, a Aneel cogita aplicar em 2022 um reajuste médio, desta vez sobre a conta inteira, ao redor de 16%. Desde o alerta de emergência hídrica em cinco Estados — Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná —, em maio, o governo Bolsonaro tem negado repetidamente o risco de racionamento geral. No entanto, já determinou corte compulsório de entre 10% e 20% no consumo dos prédios públicos federais e anunciou outras medidas para tentar racionalizar o uso de energia, embora nenhuma ainda tenha sido implementada.
Como a coluna registrou, a maioria dos empresários do setor industrial considerava um racionamento geral "provável" ainda antes que o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) apontasse "degradação" no cenário, em especial na Região Sul.
Anúncios para racionalizar o uso de energia
1. No dia 23 de agosto, foi lançado o programa Redução Voluntária de Demanda de Energia Elétrica (RVD), que prevê compensação financeira a empresas que reduzam o consumo ou desloquem a produção para fora do horário de pico — atualmente situado na metade da tarde, não mais entre o final e o início da noite, como no passado.
2. Corte de 10% a 20% na energia gasta em prédios públicos federais, medida que corresponde à definição de racionamento — corte compulsório no consumo.
3. A partir de setembro, está previsto um programa de bonificação. É uma tentativa de inverter a lógica do racionamento: em vez de multar quem não alcance a meta de corte de consumo, como ocorreu em 2001 e 2002, incentivaria famílias a reduzir o uso de eletricidade.