Não chegou aos 60% projetados, mas o reajuste de 52.08% na bandeira tarifária vermelha 2 é mais do que suficiente para convencer qualquer consumidor a aderir à "racionalização voluntária" na conta de luz.
Mas se "convence" o consumidor residencial e dos pequenos negócios com tarifaço, o governo Bolsonaro admite adotar algum tipo de compensação financeira para indústrias que aceitarem deslocar o consumo do horário de pico.
Havia especulações de que poderia chegar a 70%, mas segundo o diretor-geral da Aneel, André Pepitone, anunciou nesta terça-feira (29), a decisão foi deixar parte da compensação pelo gasto extra de cerca de R$ 9 bilhões extra com o acionamento das térmicas para o reajuste de tarifas de 2022. Ficou "pendurado" para o próximo ano o repasse de cerca de R$ 3 bilhões, conforme os técnicos da Aneel.
Um salto na conta de luz é mais eficiente do que qualquer campanha de conscientização para redução de consumo. Quem não vai pensar duas vezes antes de ligar a estufa, o ar-condicionado, o ferro elétrico, lembrando que vai pagar R$ 9,49 extras a cada 100 kilowatts-hora que gastar?
O reajuste deve significar aumento ao redor de 8% na conta de luz, segundo André Braz, coordenador de índices de preços da FGV. E um peso extra ao redor de 0,3 ponto percentual na inflação de julho. O esperado era uma nova alta, mas mais moderada, em torno de 0,5%, mas agora deve chegar a 0,8% outra vez, dependendo do comportamento da gasolina.
O problema é que o tarifaço cria um contradição visível para que o governo implemente a outra perna no plano que visa evitar o racionamento: a compensação financeira, que provavelmente seria implementada por meio de desconto na tarifa, para que as indústrias que mais gastam eletricidade deixem de usar esse insumo no horário de pico. Com uma mão, agrava o consumidor, com a outra, alivia grandes empresas? Vai ser difícil explicar.
Mas o deslocamento é crucial para o governo pode evitar outro possível efeito colateral da crise hídrica: o risco de apagão. A possibilidade de desligamento automático do sistema aumenta em períodos de desequilíbrio. Se a necessidade de abastecimento (carga) seguir elevada, e a quantidade de energia que circula (capacidade), for menor, pode haver acionamento de dispositivos de proteção do sistema, e, consequentemente, o corte de energia.