Acompanhado do discurso tranquilizador que é de ofício, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, levou o risco de apagão no Brasil a novo patamar ao incluir, entre as medidas para evitar racionamento, um desconto na tarifa para quem deslocar o consumo para fora dos dos horários de pico.
Diante disso, a coluna perguntou a uma fonte que atuou no setor de energia nos dois últimos governos (Temer e Bolsonaro) se a situação era séria, e a resposta foi preocupante:
— Mais do que séria. A reação só ocorre depois que não tem qualquer forma de resolver.
Um dos mais transparentes integrantes do governo Bolsonaro, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse na quarta-feira (2), durante um encontro do Bank for International Settlements (BIS, chamado de BC dos BCs), que os reflexos do alerta de emergência hídrica acionado no dia 28 de maio vão afetar inflação e juro no Brasil. Campos Neto dizia que mudanças climáticas estão no radar do BC e, para justificar, detalhou:
— Como isso afeta a política monetária? Estamos falando sobre crise de energia no Brasil novamente, porque não está chovendo o suficiente. Isso tem efeito na inflação, no preço dos alimentos, afeta tudo que fazemos.
A coluna já explicou que falta de chuva é mais grave na Bacia do Rio Paraná, mas vai muito além de um problema regional porque ameaça algumas das maiores geradoras de energia hídrica do Brasil: Itaipu, Jupiá, Ilha Solteira e Porto Primavera. E já detalhou que, desta vez, o Rio Grande do Sul não terá "desculpa" para ficar de fora de eventuais medidas de racionalização ou racionamento.
Conforme a fonte especializada em energia, os políticos não gostam de adotar medidas preventivas, pois "têm custos, seja desagradar alguém ou gerar aumento de tarifa ou inflação". Por isso, pondera, fica muito difícil agir antecipadamente:
— Se tivessem usado mais térmicas antes e não confiado que a chuva viria, como vêm fazendo há tempos, hoje teria mais água nos reservatórios. Mas a tarifa e a inflação teriam subido. Assim, os estímulos para os formuladores (de políticas públicas) são para que apostem na hidrologia e não que atuem preventivamente. Além disso, o sistema elétrico usa modelos matemáticos que não precificam a água e usam médias históricas de precipitações.
A coluna insistiu em saber se eventuais medidas de racionamento seriam inevitáveis, e a resposta da fonte bem informada foi:
— Agora vamos ter que administrar reservatórios, tentar reduzir a demanda de pico (a proposta do ministro) e torcer, mais ainda, para chover. Não tem mais jeito de resolver sem estresse ou dor.
Esclarecimento: sempre que possível, a coluna evita declarações anônimas, ou em "off" como se diz no jargão jornalístico. No entanto, diante da situação de risco, autoridades tendem a fazer discursos oficiais tranquilizadores, o que é correto. Para ajudar a dimensionar o problema, portanto, é aceitável que a fonte prefira não se identificar. A formação, o acesso a dados e a atuação pública dessa fonte a credenciam.