Aos 18 anos, Cassio Bobsin fundou sua primeira empresa. Criou mais duas antes de obter sucesso com a fundação da Zenvia. Encontrou tempo para participar da criação de mais de 10 startups, e ajudar a fundar a aceleradora Wow. Tem feito aquisições em série com a ambição de se tornar líder na América Latina, como avisou nesta quinta-feira (26) na 22ª edição do Fórum Respostas Capitais, na sede do Grupo RBS. Hoje com 16 anos, a empresa que desenvolve inteligência artificial em Porto Alegre, com tecnologia própria, tem 7,2 mil clientes, entre os quais quase todos os grandes bancos do Brasil. Em 2018, teve receita bruta de R$ 306 milhões, um crescimento ao redor de 30% sobre o ano anterior. É uma das maiores desenvolvedoras de chatbots para grandes empresas no Brasil (calma, ele vai explicar o que é isso, afinal, ao longo da entrevista, que também é uma aula).
Você diz que acertou na quarta tentativa. O que aprendeu com as anteriores?
Sou um empreendedor de perfil talvez diferente. Nunca tive emprego, a primeira coisa que quis fazer foi empreender. Comecei aos 18 anos, quando estava nos primeiros semestres da faculdade de Ciências da Computação. Desde que comecei a estudar, queria usar a tecnologia com impacto positivo para as pessoas. A busca ao empreender era sempre tentar empregar o conhecimento aprendido em algo prático. O começo da trajetória é muito difícil, especialmente no início dos anos 2000, quando ainda não existia esse ambiente inovador de aceleradoras, investidores, nada disso. Então, era pouco de conhecimento, coragem e certo grau de irresponsabilidade (risos) por não saber que era tão difícil, especialmente sem dinheiro, sem conhecer pessoas. Com colegas, abri uma empresa para uma demanda, mas era muita gente de tecnologia e pouca de negócio, não deu certo. A segunda tinha um sócio mais focado em tecnologia de internet, era o começo dos provedores de acesso, as empresas tentando entender como fazer sites. A falta de experiência nos levou a tomar decisões que acabaram dando errado. Nesse meio tempo, na época das ponto.com, abri um portal de baladas. Tinha 20 anos, não dava para cobrar demais. Foi muito divertido, mas era um péssimo negócio, também deu muito errado. Todas essas experiências serviram para ir moldando o que é gestão, o que é cliente, como aplicar o conhecimento aprendido na universidade em algo que possa ser útil e prático. A Zenvia nasceu da combinação dessas experiências, com conhecimento do que não deu certo, para criar algo diferente, ajudar as empresas a se comunicar diretamente com as pessoas por meio da tecnologia digital.
O que transformou erros em acerto?
Tem um princípio muito importante de que a grande diferença de empresas de tecnologia para as demais é a capacidade de escala. Quando a gente está começando, quer sempre atender o cliente da melhor forma. Isso leva a modelar negócios para atender a todas as necessidades, criando uma camada de software e de serviços. Muitas empresas se fixam em serviços e, por isso, não conseguem criar modelo de alta escala. O principal aprendizado é que, quanto mais focar na escala, mais consegue criar um negócio de alto impacto.
Para mim, startup é o início de um negócio.
CASSIO BOBSIN
CEO da Zenvia
A Zenvia ainda é uma startup, 16 anos depois de nascer?
O DNA é de empresa de tecnologia, e o conceito é de plataforma de comunicação. A Zenvia ajuda empresas a interagir com consumidores por meio de canais digitais, como SMS, WhatsApp. Somos provedores de ferramentas para gerir e automatizar esses canais. A inteligência artificial é uma das formas de automatizar. Para mim, startup é o início de um negócio. Em um ou dois anos de operação, quando você testa produto, vendo se faz sentido e segue investindo, é a fase de startup. Uma vez que se valida esse produto, não é mais, é um negócio, uma empresa. Hoje é bonito dizer que é startup, tem gente que chama a Uber de startup, não faz sentido.
As aquisições que a Zenvia tem feito representam uma estratégia de crescimento?
Quando se quer inovar ou expandir, o caminho natural é fazer investimentos, executado ao longo de um ou dois anos, para tentar atingir resultados. Outra ferramenta de gestão é aquisição, pode ser um atalho para abordar mercados ou desenvolver uma tecnologia sem passar pela curva de aprendizado e pelo risco de investir e não dar certo. Se identificamos alguma empresa com posição em mercado ou tecnologia que tem certo grau de maturidade e entendemos que, se fizermos um projeto próprio, tempo, energia e o risco talvez não compensem, pode ser uma oportunidade. Fazer aquisições é extremamente complexo, tem de avaliar empreendedores, cultura, negócio, integração, estrutura jurídica e tributária, tecnológica. E é preciso conectar dois organismos vivos, a empresa que estamos gerindo e a adquirida.
Há outras aquisições engatilhadas?
Sim, a minha lista está repleta de opção. Uma deve ser anunciada nos próximos 60 dias e outra até o final do ano ou início de 2020. Seremos bem ativos.
A Zenvia será uma consolidadora?
Desde 2011, quando fizemos um plano estratégico, entendemos que poderíamos ser um grande consolidador global, começando pelo Brasil. Começamos os primeiros passos de aquisições. A empresa quer ser global, estamos fazendo movimentos de internacionalização. Parte disto é por meio de inovação, por investimento, mas também por aquisições. Entendemos que é possível, no segmento, construir empresas fortes a partir de Porto Alegre, tão boas quanto as do Vale do Silício ou da China. A tecnologia que a gente faz está a par e passo com a disponível em qualquer lugar do mundo, não há diferença. Se quiséssemos ir para os Estados Unidos e tivéssemos capital para isso, iríamos competir de igual para igual. Não há diferença tecnológica. É questão muito mais de quais são os melhores que vão ter o melhor retorno, vão ter mais rapidez para conquistar uma posição.
Como está desenhada a expansão global?
Estamos estudando o mercado da América Latina, é um mercado com o dobro do tamanho do Brasil, sem considerar nosso país, até o México. O plano é de, nos próximos dois anos, tornar a Zenvia a maior da América Latina no segmento de plataforma de comunicação. E isso envolve tanto abertura de operações quanto aquisições de algumas empresas na região.
O plano é de, nos próximos dois anos, tornar a Zenvia a maior da América Latina no segmento de plataforma de comunicação.
CASSIO BOBSIN
CEO da Zenvia
Como foi o desenvolvimento de tecnologia, especificamente para inteligência artificial?
A inteligência artificial muda um pouco o paradigma de como se usa a tecnologia, porque resolve problemas diferentes dos que estamos acostumados a solucionar com softwares. A construção do conhecimento ocorre de um jeito completamente diferente. Todo o conhecimento em machine learning (educação das máquinas) tem academia e mercado andando juntos. Tudo que as empresas usam nessa área da tecnologia foi publicado e testado, com dados públicos ou abertos. Tudo isso é uma combinação sincronizada entre academia e mercado que não existia antes. Existe cruzamento de academia e mercado em vários segmentos, mas geralmente os resultados são fechados e protegidos, como no caso de fármacos, em que toda pesquisa é feita pela academia, mas é patenteada. Em inteligência artificial não, temos acesso a novas formas de redes neurais que podem ser usadas para resolver certos tipos de problemas. O senso de criação de valor está nos dados, por isso empresas como Google e Facebook conseguem estar à frente. Eles testam os algoritmos em suas bases de dados diretamente com um mecanismo de criação de valor, que é a venda de publicidade.
Há muitos mitos e também excesso de expectativa sobre o que a inteligência artificial será capaz de fazer. O futuro será mesmo dominado por máquinas que pensam?
Houve o ataque com drones na Arábia Saudita na semana passada, que interrompeu 5% da produção mundial de petróleo. Drone tem inteligência artificial? Parte dos processos é comandado por inteligência artificial, para poder dar respostas de estabilização, de reconhecimento de distância, tem algoritmos. Mas a questão é que, por trás disso, existe um humano que opera. O drone não saiu sozinho e 'pensou' em destruir 5% da produção de petróleo do mundo. As intenções humanas são as mais diversas, a maioria para o bem, algumas não. O uso da inteligência artificial vai se dirigir muito mais para o bem, mas é claro que vai haver pessoas que vão fazer usos diversos. Ainda não se conseguiu desenvolver consciência e vontade própria de máquinas, não existe nem o conceito filosófico e tecnológico bem claro para dizer se uma máquina criou consciência.
As pessoas também esperam muitas soluções de inteligência artificial, o que se tem hoje está pronto para corresponder a toda essa expectativa, ou temos que esperar mais para que todo esse conhecimento se consolide?
Se pensarmos nos problemas que o mundo tem são infinitos. A tecnologia serve para resolver problemas, pelo menos é nisso em que eu acredito, temos problemas que queremos resolver e vamos usar a tecnologia para isso. Ansiedade existe para tentar resolver todos de uma vez, pois nós somos humanos e eternamente insatisfeitos, gostaríamos de resolver todos os problemas de uma vez só de uma forma mágica. Agora, a gente pode esperar que a inteligência artificial seja essa mágica? Óbvio que não, tem problemas que não são da ordem de resolução de análise e resposta como é a inteligência artificial. Pois você tem que ter execução, uma série de coisas que não são cálculos matemáticos que fazem. Não adianta a gente presumir que vai ter uma única forma de conhecimento humano que vai sobrepor todas as coisas.
A inteligência artificial precisa de regulação?
Quem precisa são as pessoas, a inteligência artificial só faz o que a gente manda fazer, não adianta culpar o sistema. Não adianta regulamentar a ciência, mas sim a execução dela. Existe uma regulamentação que diz que não podemos usar uma arma de projétil para ferir outra pessoa, agora você vai proibir que se pesquise sobre pólvora? Não se pode condenar a tecnologia ou travar o processo tecnológico, é preciso entender como é executado.
O que a Zenvia faz hoje em inteligência artificial? Que tipo de soluções a empresa oferece? Temos o uso interno que é de otimização de processos e de dados, que é menos interessante do ponto de vista do consumidor, mas ajuda a gerar eficiência para o negócio. Um dos exemplos, é um sistema para controle de fraudes, como somos uma plataforma de comunicação, muitas vezes pessoas más intencionadas tentam usar a plataforma para fraude. Temos um sistema de sistema de machine learning que faz detecção de fraudes para bloqueio automático de conexões com risco de serem ofensivas neste sentido. Tem o uso nos produtos, que é como as empresas utilizam essa inteligência para poder interagir com os consumidores, neste sentido, o principal uso é compreensão do que as pessoas querem. Quando um usuário conversa com uma empresa em um sistema de atendimento, uma camada daquele atendimento é automatizada e isso envolve a compreensão do que a pessoa quer, ao dizer algo, a pessoa tem uma intenção e o principal papel da inteligência artificial é identificar qual essa intenção. Com isso, o robô de interação vai aprofundando um pouco mais a intenção para se for o caso, resolver o problema da pessoa na hora ou encaminhar para o canal adequado. Por isso, é uma tecnologia para compreender as pessoas.
Que tipo de serviço vocês prestam para os grandes bancos?
O nossa tecnologia é de propósito geral para comunicação, ela é utilizada nas mais diferentes etapas na jornada de interação com o cliente. Desde quando a marca quer atrair um cliente, quer converter, quer vender, para o pós-venda, são muitos processos diferentes. É comum em um banco ter, por exemplo, dez processos diferentes, como ouvidoria, vendas de diferentes unidades de negócios. Se analisarmos as grandes marcas, com certeza, tem mais de 10 usos diferentes da tecnologia
A melhor descrição para chatbost é : um programa de computador que conversa
CASSIO BOBSIN
CEO da Zenvia
A Zenvia oferece pacotes que incluem chatbots, exatamente o que é isto e que tipo de solução ele oferece para as empresas?
A melhor descrição para chatbost é: um programa de computador que conversa, essa é a definição mais simples. Nesta conversa, de um lado tem a pessoa e do outro lado tem o software. Ao falarmos em interação entre empresa e consumidor, o papel de um chatbot é de tentar resolver de forma instantânea aquilo que o cliente quer, pois, o atendimento humano, às vezes, leva, por exemplo, cinco minutos. Quando uma empresa consegue conectar a necessidade de um cliente a um chatbot, evitasse que o cliente tenha que conversar com alguém. Além disso, empresas que não tenham atendimento 24 horas por dia, com o chatbot elas conseguem conversar com novos clientes. O robô é programado para fazer essa troca de mensagens e compreender o que o cliente quer.
Atenção: em breve, você poderá acessar o site e o aplicativo GaúchaZH usando apenas seu e-mail cadastrado ou via Facebook. Não precisará mais usar o nome de usuário. Para saber mais, acesse gauchazh.com/acesso.