Esta nota, publicada às 11h25min, foi atualizada depois do fechamento do mercado financeiro.
Depois da alta de de 3,94% registrada na segunda-feira, as ações ordinárias (que dão direito a voto, portanto representam o controle) da Petrobras fecharam em baixa de 1,55% nesta terça-feira (17). Ao dizer que os combustíveis não subiriam imediatamente, na noite da segunda-feira, o presidente Jair Bolsonaro teve o cuidado de observar que, antes, havia consultado o presidente da estatal, Roberto Castello Branco. A estatal, por sua vez, divulgou nota (leia abaixo), também na noite de segunda-feira, afirmando que " decidiu por acompanhar a variação do mercado nos próximos dias e não fazer um ajuste de forma imediata".
O tema é sensível porque Bolsonaro já interveio na política de preços da Petrobras, com consequências desastrosas para a companhia, que perdeu cerca de R$ 30 bilhões em valor de mercado em abril. Mas até pela magnitude das baixas nas cotações – chegou a 8%, há cinco meses, nesta terça-feira ainda não passou de 2%, ao menos por enquanto – o mercado ainda não vê intervenção, mas uma prudente espera por definições, como recomendava a grande maioria dos analistas.
Na segunda-feira, David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da ANP, observando ser "totalmente contra o controle de preços em situação normal de mercado", disse que a situação atual é "atípica" e recomendou cautela à Petrobras:
– A empresa tem hedge (proteção de instrumentos financeiros) e prazos (para repassar mudanças de patamar de preços). Precisa ver se vai haver apenas um soluço. No curtíssimo prazo, o mais acertado é esperar para ver se essa superelevação se mantém. Não vejo muita condições de o preço futuro se manter nesse patamar.
A ponderação dos especialistas é de que o mercado de petróleo está em desaceleração, no mesmo ritmo da economia global. Não haveria, portanto, condições para a alta ao redor de 15% da segunda-feira se manter por muito tempo. Nos boletins de mercado que circulam nesta terça-feira, o tema é abordado com prudência. O consenso é de que a crise saudita representa um teste importante para a autonomia da Petrobras e a não-interferência do governo. Um dos mais explícitos é o da Modalmais, cujo economista-chefe, Álvaro Bandeira, observa:
– No segmento doméstico, atenções voltadas para Petrobras com teste efetivo de sua política de preços de derivados. Disso depende a credibilidade da empresa e a melhora do setor de óleo e gás. O presidente Bolsonaro se adiantou, o que não é positivo, dizendo que a empresa não deve elevar o preço da gasolina.