Para especialistas, a consequência mais direta do ataque às unidades de processamento
de petróleo da Arábia Saudita é o aumento do nível de alerta em instalações similares.
O diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustívies (ANP),
Décio Oddone, chegou a comparar o atentado ao sofrido pelos Estados Unidos em
11 de setembro de 2001 em tuíte publicado na tarde desta segunda-feira (16):
Para David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da ANP, o maior impacto do ataque é a o temor despertado por uma nova modalidade de terrorismo:
– Pode ocorrer em qualquer lugar do mundo. É simples, barata e muito perigosa. A situação é mais crítica pela vulnerabilidade das instalações do que pelo efeito em si. No curtíssimo prazo, eleva os preços, mais por especulação do que por risco real de falta de combustível.
Para o especialista, apesar do aumento no risco, não é possível considerar o atentado como um potencial início de um novo choque do petróleo, como os que ocorreram em 1959, 1973, 1979 e 1991, época da Guerra do Golfo:
– Não se pode comparar com qualquer um dos choques históricos do petróleo. Esses
5% da produção mundial (estimativa do impacto da interrupção do processamento) podem
ser compensados com muita facilidade.
Walter de Vitto, analista de petróleo da consultoria Tendências, concorda:
– Apesar de ter ocorrido um choque de curto prazo, não houve alta grotesca, e a base era baixa. São instalações importantes da Arábia Saudita, que tem parte importante da produção global, mas daqui a dois dias a Saudi Aramco vai definir o alcance do ano na planta e fazer um prognóstico de quanto tempo precisa para se restabelecer e voltar a produzir.
Antes de projetar comportamento da cotação e eventual impacto no Brasil, recomenda Zylbersztajn, será preciso um diagnóstico de quanto tempo as instalações ficarão sem operar e quais os desdobramentos do ataque propriamente dito. De Vitto reforça que se tudo o mais permanecer constante, os preços devem ser manter "um pouco mais altos", mas como a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) já discutia novos cortes de produção para manter os preços, o ajuste pode vir a ser feito dessa outra forma.
O impacto econômico, pondera Zylbersztajn, tende a ser reduzido pela baixa velocidade da atividade em todo o mundo, que gera temor até de uma nova recessão global. Também não significa necessariamente que vá crescer o interesse internacional no leilão de áreas do pré-sal marcado para novembro, diz o ex-diretor da ANP:
– Mal não faz. Apesar do jeito que anda se comportando nossa diplomacia, quem investe em petróleo pensa em longuíssimo prazo. São empresas habituadas a operar em regiões inóspitas, países em guerra. E o Brasil é o player da vez de qualquer maneira.