O ataque com drones que levou a Arábia Saudita a suspender 50% da sua produção de petróleo e fez o preço do barril disparar no mundo inteiro é mais um capítulo de uma história de disputas de poder entre nações muçulmanas no Oriente Médio.
Desta vez, os ataques foram assumidos por rebeldes houthis, que tomaram o poder no Iêmen após a renúncia e fuga do então presidente do país, Ali Abdullah Saleh, em 2015.
A Arábia Saudita e os Estados Unidos acusam o Irã de envolvimento no ataque, mas o governo de Teerã nega.
Confira como se desenvolveu essa disputa de poder entre Irã e Arábia Saudita:
1979
A revolução islâmica no Irã muda o panorama geopolítico do islamismo: a teocracia revolucionária liderada pelo aiatolá Khomeini se coloca como um modelo xiita para os demais países muçulmanos da Ásia e do Oriente Médio. Isso ameaça principalmente a liderança da monarquia saudita, de maioria sunita (mais de 81% da população) sobre os demais países que adotam a religião islâmica.
Também é mais um capítulo das divergências políticas e ideológicas entre xiitas, liderados desta vez por Khomeini, e sunitas, maioria na Arábia Saudita. Sunitas são muçulmanos ligados a correntes mais tradicionalistas no que diz respeito a cultura, religião e educação. Xiitas trabalham com um sistema de hierarquia de clérigos que atualiza constantemente as tradições islâmicas.
Anos 80 e 90
Os xiitas muçulmanos que dominam o Irã têm um grande contrapeso diante de si: o Iraque sunita, liderado por Saddam Hussein. Os confrontos entre o Irã e o Iraque, assim como a invasão do Kuwait pelo Iraque, acabam monopolizando o cenário bélico e motivando intervenções de outros países, como dos Estados Unidos na Guerra do Golfo.
2003
A queda de Saddam Hussein muda o cenário: além de quebrar o poderio militar do Iraque sunita, abre caminho para um governo xiita no país. .
2011
A Primavera Árabe provoca profunda instabilidade política em diversos países da região, como Síria, Bahrein e Iêmen. Irã e Arábia Saudita disputam politicamente os espólios dos protestos contra as ditaduras. Na Síria, Bashar al-Assad conta com o apoio iraniano e russo para impedir os rebeldes apoiados pelos sauditas de tomar o governo.
2015
No Iêmen, o presidente Ali Abdullah Saleh, aliado da Arábia Saudita, renuncia e foge do país. Os rebeldes houthis tomam o poder. O príncipe saudita Mohammed bin Salman lidera uma campanha militar para restaurar o governo, que dura até hoje.
2019
As divergências entre o Irã e os Estados Unidos acerca do tratado de não-proliferação nuclear levam o governo de Donald Trump a endurecer as sanções sobre o país. A Guarda Revolucionária, principal força militar, passa a ser considerada organização terrorista pelos EUA, que bloqueiam ativos de diversos clérigos e membros do governo local no Exterior.
Maio e junho de 2019
Ataques a petroleiros iranianos, sauditas, noruegueses e dos Emirados Árabes Unidos aumentam a tensão entre os Estados Unidos e o Irã, que se acusam mutuamente de sabotagem. Os EUA passam a ordenar países aliados a reter petroleiros iranianos nos seus limites costeiros.
10 de setembro
Donald Trump demite John Bolton, principal assessor de segurança nacional e mentor das sanções ao Irã. A possibilidade de alívio às sanções passa a ser considerada, mas o presidente iraniano, Hassan Rouhani, afirma que não negocia com os EUA enquanto as punições não foram levantadas.
14 de setembro de 2019
Um ataque de drones assumido pelos houthis do Iêmen afeta campos de petróleo na Arábia Saudita, que suspende a produção do país, levando ao aumento significativo dos preços. O Irã nega envolvimento no ataque dos houthis, mas os EUA afirmam que têm provas de que esse ataque foi apoiado por forças iranianas.