O preço do petróleo disparou nos mercados globais nesta segunda-feira (16), dois dias depois dos ataques de drones a petrolíferas na Arábia Saudita, no sábado (14). A ofensiva levou o país a cortar 50% de sua produção. O barril do petróleo Brent chegou a um pico de US$ 71,95 no mercado futuro, um aumento de 19,5% em relação à sexta-feira (13). Foi a maior alta diária registrada desde 1991, quando começou a Guerra do Golfo.
Esse mercado se refere à negociação de contratos de ativos que serão liquidados em datas futuras. Ele funciona como uma espécie de termômetro sobre a expectativa atual do mercado para o valor do ativo na data de vencimento. No caso do Brent, o contrato ativo no momento vence em novembro.
Por volta das 7h30min desta segunda, o barril era cotado a US$ 65,32, alta de 9% em relação à sexta. Apesar da subida, o valor ainda está um pouco distante da maior alta registrada nos últimos 12 meses. Em outubro de 2018, o valor chegou a US$ 86,29.
Os ataques provocaram incêndios em Abqaiq, maior instalação de processamento de petróleo no mundo, e em Khurais. Houve uma redução estimada de 5,7 milhões de barris por dia na produção, o equivalente a 6% do abastecimento mundial.
O presidente da estatal saudita Aramco, Amin Naser, declarou que estão sendo realizadas "obras" para restabelecer a produção de petróleo bruto do país. O ministro da Energia, o príncipe Abdulaziz bin Salman, afirmou que a redução será compensada com as reservas.
Possíveis danos à economia mundial
Uma disparada no preço do petróleo pode afetar a economia mundial, já abalada pela guerra comercial entre Estados Unidos (EUA) e China e as sanções da Casa Branca contra o Irã.
Em uma rede social, o presidente Donald Trump afirmou que autorizou o uso de petróleo da Reserva Estratégica dos EUA, em quantidade a ser determinada. Mais tarde, ele escreveu: "Acreditamos saber quem é o culpado (pelos ataques)", acrescentando que os EUA "estão prontos para reagir, dependendo da confirmação."
O presidente evitou mencionar o Irã, mas na véspera o secretário de Estado, Mike Pompeo, acusou diretamente o país persa. Segundo Pompeo, não há nenhuma prova de que "o ataque sem precedentes contra o fornecimento mundial de energia" tenha partido do Iêmen — apoiados pelo Irã e há cinco anos em confronto com uma coalizão militar saudita, rebeldes houthis iemenitas reivindicaram a ação.
Teerã rejeitou as acusações dos EUA de que estaria por trás dos ataques.
— Em vez de culparem a si mesmos e admitirem que sua presença na região está criando problemas, os americanos culpam os países da região ou o povo do Iêmen — criticou o presidente iraniano, Hassan Rowhani.
O chanceler iraniano, Javad Zarif, também se pronunciou:
— Já que a campanha de pressão máxima fracassou, Pompeo está recorrendo à mentira máxima.
O porta-voz do ministério iraniano das Relações Exteriores, Abbas Musavi, afirmou que as acusações têm como objetivo "prejudicar a reputação de um país para criar um marco para futuras ações contra o Irã".
Em entrevista neste domingo (15), uma autoridade americana mostrou imagens de satélites com 19 pontos de impacto dos drones e disse que a amplitude e a precisão do ataque demonstram que ele não teria sido lançado do Iêmen. Mesmo assim, Washington não descarta a possibilidade de um encontro entre o presidente Donald Trump e o líder iraniano, Hassan Rowhani.
Kellyanne Conway, conselheira da Casa Branca, afirmou que os ataques "não ajudavam" a perspectiva de uma reunião entre os dois chefes de Estado durante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), neste mês, mas deixou a possibilidade em aberto.
— Vou deixar o presidente (Trump) anunciar um encontro ou não — disse.
Os sauditas culpam os xiitas iranianos por ataques anteriores e acusam o Irã de armar os rebeldes iemenitas. O governo do país nega a participação. O confito no vizinho Iêmen, que se arrasta desde 2015, já levou a mais de 7 mil mortes, muitas causadas por ataques aéreos sauditas.