Os houthis são um grupo armado que segue o ramo xiita do islamismo – o mesmo do Hezbollah libanês –, em oposição à maioria da população sunita do Iêmen.
Resumir a crise que fez disparar o preço do petróleo à rivalidade sunita x xiitas é insuficiente para explicar o ataque com drones do fim de semana, mas é um bom começo. Os xiitas são maioria da população também no Irã, principal representante dessa ramificação do Islã no Oriente Médio. Daí as acusações de que o país dos aiatolás apoia as ações do grupo rebelde no Iêmen contra a Arábia Saudia, que é a principal potência sunita da região. Os houthis seguem uma corrente específica do islamismo xiita chamada zaidismo.
Para além da face religiosa, há o aspecto político. Na origem, esse grupo tem como base o norte do Iêmen, mais especificamente a província de Sadá. O nome da organização deriva de Hussein Badr Eddin al-Houthi, líder da primeira revolta dos houthis contra o governo central, em 2004. À época, eles exigiam maior autonomia em relação à capital do Iêmen, Sana. A morte de Al-Houthi pelos soldados do governo alimentou a fúria do grupo, que seguiu comandado por seus herdeiros.
Aqui, um parêntesis. O Iêmen foi um dos últimos palcos da chamada Primavera Árabe, a onda de revoluções contra regimes autoritários que varreu o norte da África e o Oriente Médio em 2011. A Tunísia derrubou o ditador Zinedin el-Abedin Ben Ali e hoje é uma das poucas democracias da região (realizou sua segunda eleição livre no domingo, 15). O Egito destituiu Hosni Mubarak, mas viu um regime militar voltar ao poder. A Líbia mergulhou em guerra civil, o ditador Muamar Kadafi foi morto, mas o país não conseguiu se regenerar. Segue nas mãos de senhores da guerra e esfacelado.
Os ventos da primavera chegaram ao Iêmen, que pôs para correr o ditador Ali Abdullah Saleh após três décadas no poder. O governo ficou nas mãos do vice, Abdrabbuh Mansour Hadi. É aí que os houthis voltam a aparecer. Eles aproveitaram-se do vácuo de poder, do caos institucional, junto com outros movimentos que expulsaram o ex-presidente. Expandiram seu território e influência. Hoje, os houthis dominam boa parte das províncias do país, inclusive a capital, Sana.
País mais pobre do rico Golfo Pérsico, o Iêmen é visto como foco de instabilidade pelos Estados Unidos porque abriga em seu território também células da rede Al-Qaeda – ali, no porto de Áden, ocorreu um dos primeiros ataques da organização de Osama bin Laden, que é saudita, aos americanos: contra o destróier USS Cole, em 2000, com a morte de 17 marinheiros.
Apoiada pelos Estados Unidos, a Arábia Saudita, uma ditadura teocrática (assim como o Irã) vê na expansão do grupo no Iêmen, país com qual faz fronteira, os tentáculos dos xiitas iranianos se espalhando pela região. Por isso, apoia as forças do governo iemenita contra os houthis, tentando restaurar seu poder. Nos últimos anos, os sauditas lideram uma coalizão de países árabes contra a organização, realizou milhares de ataques aéreos aos houthis no Iêmen, com suspeita de uso de armas proibidas pelo Direito internacional, como bombas de fragmentação. Mais de 6,8 mil civis morreram e cerca de 11 mil ficaram feridos desde 2015, segundo as Nações Unidas.
Os houthis, apesar de receberem apoio logístico do Irã, têm agenda própria. Daí o fato de o Irã dizer que não tem nada a ver com os ataques dos drones às refinarias sauditas, no fim de semana.