A fala do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, nesta quinta-feira (16), que provoca desânimo na comunidade internacional depois de um dia de celebrações pelo arranjo do acordo de cessar-fogo no Oriente Médio não chega a surpreender quem acompanha as complexidades da região.
O acerto para o armistício é muito frágil - e, em se tratando das relações entre israelenses e palestinos, o histórico de desconfianças mútuas não contribui para o otimismo. Nessa mesma guerra, acordos foram violados pelos diferentes lados, com escaramuças voltando a incendiar o front e a melar as promessas e os papéis assinados nos escritórios.
Na fala desta quinta-feira (16), Netanyahu não explicitou em qual ponto do acerto haveria divergências. Mas é possível que seja em relação ao chamado Corredor Filadélfia, uma estreita faixa de 17 quilômetros de comprimento entre Gaza e o Egito. É ali que fica a passagem de Rafah, por onde alguns refugiados conseguiram sair nessa guerra. O território, normalmente uma zona-tampão, está sob controle israelense. O Hamas vem exigindo que Israel deixe a área. Essa faixa de terra, que deveria ser desmilitarizada, costuma ser usada pelo grupo terrorista para o ingresso de armas e suprimentos para a organização. Daí a sensibilidade das negociações específicas sobre a saída ou não de tropas naquele local.
Outro ponto de divergência é interno. Os termos do acordo precisam ser aprovados pelo gabinete de governo. Netanyahu pode estar tentando ganhar tempo para convencer seus ministros, já que enfrenta divergência interna por parte dos membros religiosos da cúpula, que se opõem a qualquer acordo com o Hamas. Sem apoio dos ultraconservadores, o acerto até pode sair. Mas se houver revolta no gabinete, sem os religiosos, quem não fica é Netanyahu.