Pelos mesmos motivos que o aprofundamento da crise na Venezuela teve pouco impacto nos preços internacionais, desta vez o Brasil pode sofrer impacto do ataque por drone em refinarias da Arábia Saudita. Além do fato de o país do Oriente Médio ser um dos principais fornecedores de petróleo para o Brasil, a interrupção na produção afeta o preço de referência global, não apenas o valor dos barris sauditas.
Ao contrário da Venezuela, que tem tem a maior reserva do mundo (303 bilhões de barris), mas respondeu por apenas 2,3% da venda mundial de petróleo em 2018, segundo a Top World Exporters, a Arábia Saudita tem a segunda maior disponibilidade de petróleo no mundo mas é o maior exportador, com fatia de 16,1% do total exportado. No ano passado, vieram do país 32,83% das compras da matéria-prima no Exterior feitas pelo Brasil, o que rendeu US$ 182,5 bilhões aos sauditas.
E embora o Brasil seja autossuficiente em números – produz quase a mesma quantidade de petróleo que consome –, na prática não é capaz de abrir mão da importação. O problema é que a grande parte das refinarias brasileiras só consegue processar óleo do tipo que a Arábia Saudita produz.
Embora "petróleo" pareça um tipo só de matéria-prima, há vários tipos. Os leves são os que exigem menos processamento para serem transformados nos derivados mais valorizados: gasolina e diesel. Os pesados até podem ser transformados nesses combustíveis, mas o processo é mais caro e complexo, além de ter subprodutos com baixo valor de mercado. Essa característica foi a justificativa da Petrobras para ter reduzido a produção nacional de diesel, há pouco mais de um ano, pouco antes da greve dos caminhoneiros.
É por isso que o Brasil pode ser impactado pela súbita elevação dos preços internacionais. Precisa continuar importando, e a cotação estará mais alta, não importa a fonte de abastecimento. Caso a crise se estenda, o governo terá de tomar uma difícil decisão:
ou volta a intervir na política de preços da Petrobras, o que seria péssimo sinal quando tem venda de refinarias em andamento e está às vésperas do anúncio de um programa de privatizações, ou deixa o preço da gasolina subir, com consequências para a imagem do Planalto e sob risco de desacelerar ainda mais a economia já em baixa velocidade.