"O futuro é agora." É com essa frase que Peter Kronstrom iniciou sua palestra no 1º Summit Saúde, evento promovido pela Câmara Americana (AMCHAM) e pelo Hospital Moinhos de Vento que reuniu dezenas de profissionais em Porto Alegre, no começo do mês. O líder para a América Latina do Instituto para Estudos do Futuro, de Copenhague, faz questão de lembrar algo de que pouco nos damos conta: passamos mais da metade do nosso tempo pensando mais no futuro do que no presente.
— Quem não pensa: o que vou comer à noite? O que farei na sexta-feira? — exemplificou, rindo.
Na saúde, acredita o dinamarquês, viveremos inseridos quase como em um episódio do do desenho animado dos Jetsons. Com a revolução dos veículos autônomos, será muito mais fácil aproveitar o tempo de deslocamento para outras atividades, especula. Uma delas é o monitoramento da saúde global, que deve entrar como ferramenta auxiliar na prevenção de doenças.
— A saúde não vai acontecer só no hospital, vai ser o tempo todo. Acreditamos que o transporte terá muito automonitoramento. O carro vai medir a temperatura e vai conectá-la a outros dados. Carro vai ser um lugar onde a indústria vai nos monitorar e nós vamos querer ser monitorados — disse Kronstrom.
Quem também deve ganhar mais espaço são os aplicativos. Além do benefício do monitoramento, eles vão oferecer, cada vez mais, praticidade, segundo o dinamarquês:
— Vai ser muito mais conveniente um app que diga: "Peter, você comeu muito pão hoje, está na hora de comer um brócolis.
Apesar de ser uma realidade ainda um pouco distante, Kronstrom acredita que ela já está acontecendo em alguns lugares e de forma pontual. Não faltam iniciativas mundo afora para promover saúde e bem-estar. Contudo, a tendência é que isso se espalhe cada vez mais nos próximos anos, atingindo um número ainda maior de pessoas.
O uso da inteligência artificial para filtrar informações
Há um consenso entre os especialistas em saúde: hoje, sobra informação tanto para médicos quanto para pacientes. O xis da questão, portanto, é equilibrar essa equação e usar a infinidade de dados disponíveis em prol do nosso bem-estar.
Tema recorrente nas apresentações, a inteligência artificial (IA) é citada como um dos caminhos mais promissores para filtrar o grande volume de informações e entregar aos médicos dados mais claros.
— Com a quantidade de informação que a gente tem, um médico deveria estudar 29 horas por dia, o que é inviável — ilustrou Fabio Mattoso, líder da Watson Health na IBM Brasil.
Mattoso afirma que, apesar de importante, a IA não substitui de forma alguma o ser humano. Ela apenas agiliza, depura as informações e fornece insights aos médicos. Um exemplo é o Watson for Oncology, sistema da IBM com acesso aos mais recentes estudos de câncer do mundo, facilitando e tornando mais preciso o diagnóstico e o tratamento.
Além dessas vantagens, o uso da IA traz outros benefícios, como aumento da atenção disponibilizada aos pacientes. Estudos feitos no Brasil, diz Mattoso, apontaram que, em média, os médicos gastam 40% do tempo imputando dados em sistemas de prontuários eletrônicos, ou seja, reduzem a dedicação beira-leito.
— Com a evolução das tecnologias e da inteligência artificial, o médico é empoderado com informação e reduz o tempo com tarefas burocráticas — destacou Mattoso.
Entretanto, um dos entraves para o avanço dessas novas frentes, comenta o especialista, é a própria aceitação médica. Ele afirma que, embora os médicos usem a tecnologia em casa, nas atividades rotineiras, ainda não a utilizam especificamente para aplicação na medicina.
— Isso melhoraria muito se já na graduação os estudantes tivessem contato com essas ferramentas — sugeriu.