O Orpheu foi um dos principais cinemas e teatros de Porto Alegre. Na pujante região industrial da cidade, abriu ao público em 1923. A centenária fachada do prédio na Avenida Benjamin Constant, no bairro Floresta, preserva a história do espaço de lazer de moradores do 4º Distrito. Ela foi restaurada no projeto de construção de um hotel.
Em um ano conturbado na política rio-grandense, durante os conflitos da Revolução de 1923 no interior do Estado, os porto-alegrenses ganharam o novo local para apresentações teatrais e exibição de filmes. A firma Mendelski & Irmão inaugurou, em 4 de outubro de 1923, o Theatro Orpheu. O jornal A Federação noticiou que era uma ampla sala de projeções, com sistema de renovação de ar. Além da plateia, oferecia camarotes. Na entrada, ficava uma elegante e espaçosa sala de espera.
O prédio foi projetado e erguido pela empresa J. S. Pufal e Irmão, de João Luiz Pufal e Eduardo Pufal. Sobre a capacidade de público, A Federação publicou que chegaria a 3 mil pessoas. No Correio do Povo, a notícia da época cita lotação de 2 mil pessoas, divididas em espaços de 1ª e 2ª classes no salão.
Quando inaugurado o Orpheu, os cinemas e teatros estavam concentrados no centro. Pela programação publicada nos jornais, estavam em atividade Central, Guarany, Apollo, Palácio, Carlos Gomes e Coliseu. Seguindo o modelo de negócio de concorrentes, o Orpheu tinha o palco para apresentações variadas, principalmente teatro, e a tela para os filmes. Em 9 de novembro de 1923, por exemplo, teve apresentação teatral da comédia Almas do Outro Mundo e o filme Escória Social. No espaço da programação de cinemas do Jornal do Dia, o Orfeu (já com nova grafia) aparece até 1965.
Em 1968, com o filme Grand Prix, o Cine Astor foi inaugurado no prédio da Avenida Benjamin Constant. A reformada sala recebeu moderna aparelhagem de 70 mm - rara na cidade - e seis faixas de som. O cinema pertencia à empresa Cine Teatro Rex S.A., que também administrava os cinemas Rex, Cacique, Coral e Ritz. O Cine Astor fechou as portas em 1993.
A centenária fachada foi restaurada na construção do Moov Hotel Porto Alegre, inaugurado em 2021 na parte de trás do terreno. A obra do hotel foi executada pela empresa Andora Construções. Inventariada pela prefeitura de Porto Alegre, a fachada estava sem conservação e com risco de queda.
Em trabalho minucioso coordenado pelo arquiteto Lucas Volpatto, a fachada do segundo andar ficou como a original. No térreo, em função da descaracterização em décadas anteriores, o restauro precisou de ajustes em relação ao projeto de cem anos atrás. Para a restauração, realizada entre janeiro e julho de 2021, foram feitas pesquisas em fotos e projetos antigos. Por trás de revestimento de cimento, descobriram vãos originais.
No topo da fachada, está a estátua de Orfeu, ao lado da arpa e de pássaros, obra que indicava a funcionalidade do prédio, ou seja, um espaço das artes. O personagem mitológico está lá para lembrar do teatro e cinema Orpheu.