Em uma avenida que simbolizava a modernidade em Porto Alegre, o Cine Teatro Vera Cruz foi inaugurado em 1940. A grande sala, com plateia baixa e mezanino, ficava no térreo do Edifício Vera Cruz, o primeiro de uma série de arranha-céus construídos na Avenida Borges de Medeiros. O cinema, que virou Victória em 1953, teve a história marcada por fechamentos e reaberturas. Vera Cruz e Victória passaram pelo auge e pela decadência dos cinemas de rua.
Em 4 de setembro de 1940, a empresa Irmãos Pianca inaugurou o Vera Cruz, que marcaria época na esquina da Rua Andrade Neves com a Avenida Borges de Medeiros. Naquela quarta-feira, às 21h15, depois de coquetel, autoridades e convidados participaram da "avant-première". A inauguração teve transmissão da Rádio Farroupilha. O jornal Diário de Notícias descreveu que "admirável projeção, moderno aparelhamento, poltronas estofadas, é o que se observa no Vera Cruz, que está bem à altura do vertiginoso desenvolvimento de Porto Alegre". O filme da estreia foi A Mulher Faz o Homem, dirigido por Frank Capra.
A família Pianca também era dona do Cine-Theatro Ypiranga, na Avenida Cristóvão Colombo. Como as propagandas dos jornais comprovam, o Vera Cruz também exibia produções da UFA, companhia cinematográfica alemã usada para difundir o nazismo. Na dissertação de mestrado Cinemas de Rua de Porto Alegre, Olavo Amaro da Silveira Neto cita que os dois cinemas foram alvos de depredações em protestos durante a Segunda Guerra Mundial. O Ypiranga foi usado em reuniões do Partido Integralista, ligado ao movimento nazista.
O Cine Teatro Vera Cruz fechou em 1952. Em edição de 18 de novembro, o Jornal do Dia noticiou o fechamento no dia anterior, após desentendimento entre dona do cinema e proprietária do edifício. A ordem de despejo foi cumprida por oficial de justiça e Guarda Civil. Naquele dia, não conseguiram exibir o filme Simão, o Caolho.
Em 1953, o cinema reabriu com outro nome. O Cine Victória consta na programação de cinemas do Jornal do Dia a partir de 12 de setembro, um sábado. No domingo, já oferecia cinco sessões (14h, 16h, 18h, 20h e 22h) do filme A Dupla do Barulho, protagonizado por Oscarito e Grande Otelo.
O Victória recebeu grandes filmes e as filas eram comuns na calçada. Em 25 de fevereiro de 1998, ocorreu novo fechamento. Ele reabriu em 13 de maio de 1999, mas não ocupava mais a tradicional esquina. O acesso passou para a galeria na Avenida Borges de Medeiros. As duas salas ficaram apenas no mezanino do cinema original. A esquina passou a ser ponto comercial, ocupada por lojas.
O cinema voltaria a fechar em 2015, para reabrir em 2016 e encerrar novamente em 28 de novembro de 2018. Em mais de 80 anos, Vera Cruz e Victória tiveram várias alterações de proprietários.
Em junho de 2023, a rede Cult Cinemas, que tem unidades em Alegrete e Ijuí, anunciou que reabrirá em breve o célebre cinema, que passará a se chamar Cult Cinemas Victória.
Cronologia dos cinemas Vera Cruz e Victória
4 de setembro de 1940 - inaugurado Cine Teatro Vera Cruz
17 de novembro de 1952 - primeiro fechamento
12 de setembro de 1953 - reabertura com o nome Cine Victória
25 de fevereiro de 1998 - segundo fechamento
13 de maio de 1999 - reabre com duas salas só no mezanino
Fevereiro de 2015 - terceiro fechamento
1 de janeiro de 2016 - reabre com nova administração
28 de novembro de 2018 - quarto fechamento