Depois de 21 anos de ditadura militar, há 40 anos, o Brasil voltava a ter um civil eleito presidente da República. Não era ainda a eleição direta, mas a votação de 15 de janeiro de 1985 marcou o início da Nova República. Em nome de 60 milhões de eleitores, 675 homens e 11 mulheres escolheram o sucessor do presidente João Figueiredo.
Em discursos e notícias, a palavra mais repetida foi "esperança". Os candidatos Tancredo Neves (PMDB), da Aliança Democrática, e Paulo Maluf (PDS) disputaram os votos do Colégio Eleitoral, formado por 69 senadores, 479 deputados federais e 138 delegados estaduais. O Rio Grande do Sul tinha 41 dos 686 votos.
Naquela terça-feira, antes do início da votação, o presidente do PMDB, Ulysses Guimarães, discursou em defesa da candidatura de Tancredo. Maluf defendeu o próprio nome para a presidência do Brasil. No Congresso Nacional, o voto era aberto, declarado diante de todos.
Às 11h35, o deputado João Cunha (PMDB-SP) foi o 344º a gritar o nome de Tancredo Neves, garantindo os votos para vitória. O presidente do Congresso Nacional, senador Moacyr Dalla, oficializou o resultado às 12h30. Tancredo conquistou 480 votos e Maluf somou 180 votos. O Colégio Eleitoral teve ainda 26 abstenções e ausências. O Rio Grande do Sul deu 22 votos para Tancredo e 11 votos para Maluf, além de oito abstenções.
Os militares já sabiam que Maluf, candidato apoiado pelo regime, perderia. Após a vitória da Aliança Democrática, o chefe do Estado Maior das Forças Armadas, Waldir de Vasconcelos, disse que eleição de um civil depois de 21 anos significava "o coroamento da Revolução de 64".
O futuro presidente do Brasil tinha a missão de resolver graves problemas, como inflação, dívida externa e desemprego. Na comemoração, Tancredo pediu "que todos rezem por mim, para que eu possa corresponder às esperanças do povo e fazer um grande governo".
Como sabemos, o ex-governador de Minas Gerais não conseguiu assumir a presidência do Brasil. Na noite de 14 de março de 1985, véspera da posse, foi hospitalizado para tratar de dores abdominais. O vice-presidente, José Sarney (PMDB), foi empossado.