A Ferrovia do Riacho está na memória dos moradores mais antigos de Porto Alegre. A linha foi construída para despachar cubos de fezes, mas promoveu o desenvolvimento da Zona Sul com o transporte de passageiros e de cargas. Em 14 de janeiro de 1900, um domingo, animados passageiros desembarcaram pela primeira vez na estação da Tristeza.
No final do século 19, sem rede subterrânea de coleta, a intendência de Porto Alegre buscava outro ponto no Guaíba para despejar o esgoto cloacal. Os dejetos eram recolhidos nas casas por uma empresa e jogados no rio na área central da cidade.
Pelo plano inicial, o novo ponto para despejo seria a Ponta do Dionísio, atual bairro Vila Assunção. Em função de impasse com proprietário das terras, o projeto precisou ser alterado. O trapiche foi construído na Ponta do Melo, onde fica hoje o Pontal Shopping. A operação regular do serviço começou em novembro de 1899.
O ponto de partida da linha ficava ao lado do Riacho (Arroio Dilúvio), no antigo traçado, perto da ponte de pedra que está preservada no Largo dos Açorianos. Outra estação de madeira foi erguida na Tristeza, onde os passageiros começaram a circular no verão de 1900.
O jornal A Federação publicou que, no segundo domingo de operação, foram "extraordinariamente concorridos os trens de passeio ordinários para o pitoresco arraial da Tristeza". Por segurança, não ocorriam viagens de noite. Em 2 de fevereiro, dia de Nossa Senhora dos Navegantes, por exemplo, foram três viagens saindo da estação do Riacho. Os passageiros passavam o dia na praia do Guaíba, na Tristeza.
A ferrovia foi estendida mais tarde na Zona Sul, chegando à Pedra Redonda, à Vila Nova e ao matadouro na Serraria. A linha também foi conectada à Estação Ildefonso Pinto, perto do Mercado Público, no Centro.
O arquiteto André Huyer, autor do livro A Ferrovia do Riacho - do sanitarismo à modernização de Porto Alegre, lembra que a estrada de ferro desenvolveu os balneários à beira do Guaíba.
— A ferrovia acelerou a urbanização da Zona Sul. Antes, o caminho era mais distante. Com o trem, ficou mais rápida a viagem. A decadência foi provocada pela concorrência dos ônibus a partir da década de 1920 — explica Huyer.
Quando já estava sob controle da Viação Férrea do Rio Grande do Sul, em 1936, o Trenzinho da Tristeza deixou de fazer o transporte de passageiros. A operação continuou com cargas até 1941. A grande enchente destruiu parte da linha. A ferrovia percorria às margens do Guaíba até o Cristal, vulnerável em tempos chuvosos.
A estação da Tristeza ficava na atual Praça Comendador Souza Gomes, a Praça da Tristeza. No bairro, a estrada de ferro passava onde hoje está o canteiro central da Avenida Wenceslau Escobar.
Uma das locomotivas da antiga linha foi restaurada e está na entrada da cidade de Carlos Barbosa, na Serra.