A velha Ponte de Pedra – que hoje é testemunha da Porto Alegre antiga – tem sob seus arcos um espelho d’água e sua função é decorativa e como monumento histórico. Mas, no passado, ela cumpriu papel importante na vida da cidade.
Como se sabe, o Arroio Dilúvio, que também era chamado de riacho, vinha desde sua nascente, nas serranias de Viamão, numa extensão de aproximadamente 20 quilômetros até desembocar no Guaíba, próximo de onde hoje está a Ponte de Pedra. O riacho, na altura do local onde atualmente está o prédio de Zero Hora, derivava em direção à Praça Garibaldi, abria-se em dois braços, formava a Ilhota e seguia pelos fundos do terreno do Pão dos Pobres, paralelo à Rua João Alfredo, até cruzar por baixo da Ponte de Pedra para, finalmente, ter sua foz junto ao Guaíba. Parte do riacho era, inclusive, navegável, e barcos traziam lenha e carvão, além de outros produtos. Havia nas margens ao redor da ponte um movimentado ponto de desembarque de mercadorias.
Segundo o cronista Pereira Coruja, em seu livro Antigualhas, quando o Conde da Figueira, governador da capitania entre 1818 e 1820, mandou abrir o “Caminho de Belas” (hoje correspondente à Avenida Praia de Belas), ainda não havia ponte para ligar a cidade com a margem esquerda do riacho. Pouco depois, entretanto, no governo do Visconde de São Leopoldo, cerca de 1825, mandou-se construir uma ponte de madeira sobre o riacho, próximo a sua foz. Essa primeira ponte de madeira sofreu repetidos danos e foi pacientemente reconstruída várias vezes.
O Conde de Caxias, quando era presidente da província, em seu relatório de março de 1846, registrou: “Depois de ter mandado consertar por várias vezes a ponte de madeira do riacho, nesta cidade, tive por mais vantajoso, atendendo ao seu estado de ruína, de fazer construir nova ponte de pedra na embocadura da Rua da Figueira, como lugar mais favorável ao trânsito público; feitos a planta e o orçamento, pôs-se a obra em arrematação e já nela se trabalha.” Porém, a Ponte de Pedra só foi posta em condições de utilização em março de 1848.
As obras de retificação do Arroio Dilúvio, nos anos de 1940, abrindo um canal em linha reta das imediações de onde hoje ele cruza a Avenida Erico Verissimo em direção ao Shopping Praia de Belas (já construído sobre o aterro), deixaram ociosa a obra mandada construir por Caxias. A Ponte de Pedra estava, então, condenada a ser eternamente apenas um importante marco do passado.