No sexta-feira que vem, 10 de julho, Charles Gavin comemorará 60 anos. Olhando para trás, ele verá que conquistou muitas coisas nesse tempo. Mas pelo modo como fala, nesta entrevista, a mais longa dada a um jornal, tem ainda muito a fazer.
Nascido na capital paulista, em uma família de classe média, em 1985 Gavin trancou a matricula no último ano da Faculdade de Administração de Empresas da PUCSP para ser baterista da banda Titãs. Batucador desde a infância, depois de bandas da adolescência integrou as primeiras formações do RPM e do Ira. Com os Titãs foram 25 anos e discos que a fizeram uma das bandas mais importantes do rock brasileiro.
Antes de deixá-la, contra a sua vontade, em 2010, ele já começara a apresentar, no Canal Brasil, o programa de entrevistas O Som do Vinil, recuperando clássicos da MPB. Um dos mais assistidos do canal, o programa já tem mais de 350 episódios, mapeando a história da música brasileira. Além disso, vasculhou arquivos de gravadoras para “desovar” discos importantes que estavam esquecidos e dirigiu documentários como o que conta a história do fundamental selo Elenco, dos anos 1960. Incansável, produziu também livros, entre eles 300 Discos Importantes da Música Brasileira (com Tárik de Souza, Carlos Calado e Arthur Dapieve , 436 páginas no formato 30x30) e Bossa Nova e Outras Bossas (com Caetano Rodrigres, 312 páginas também no formato 30x30).
Terminou? Ainda não, pois ele mantém o vício pela bateria. Depois dos projetos das bandas Panamericana (2013), para tocar sucessos do rock argentino e uruguaio, e Primavera nos Dentes (2017), relendo Secos & Molhados, neste momento ele se diverte com o Humaitá Blues Combo, quarteto liderado pelo tecladista Marcio Lomiranda. Sem contar as participações no programa Redação SporTV, pois ninguém é de ferro – e Gavin é corintiano.
A seguir, fala sobre a desvalorização da cultura, o domínio da música sertaneja e a relação entre a música e a sociedade que a produz, entre outros temas.
Se o setor cultural, antes de chegar a pandemia, já estava caindo pelas tabelas, o que dizer de hoje, com cinemas, teatros e casas noturnas fechados? A última edição da Revista UBC (União Brasileira de Compositores), informava que, de março para cá, R$ 500 milhões em direitos autorais deixaram de ser repassados aos artistas por não terem sido pagos por quem toca música, tipo hotéis, bares etc. Daí que os músicos não fazem shows, porque os palcos estão fechados, e não recebem direitos porque quem normalmente toca a música não tem como pagar. E o pessoal também não pode viver de “lives”... Como você vê a situação?
Muito preocupante. Falei outro dia por e-mail com Jack Endino, norte-americano que produziu vários discos dos Titãs, e ele me disse que a situação em Seattle, onde mora, é muito grave. Imagina, Seattle é onde a cena alternativa de fato é forte, a comunidade tem um senso comum de trabalhar junto, as coisas acontecem de uma forma diferente de outros lugares do mundo. Lá existe uma consciência de classe muito forte. E ele contou que a situação é gravíssima porque está todo mundo sem dinheiro. Não tem show, não tem gravação, não tem como trabalhar. “Nunca vi nada parecido”, me disse. Isso lá. Imagina no Brasil...
Dias atrás li que Herbie Hancock estava liderando a organização de um show virtual em benefício de Wayne Shorter, que está sem dinheiro para pagar as contas do tratamento de saúde. Wayne Shorter, um dos maiores saxofonistas do mundo!
Essa é uma condição do músico, do artista, você sabe. De não guardar dinheiro, não ser previdente, não pensar “agora eu tô na crista, mas daqui a pouco não estarei mais”. Na verdade, muitos de nós nem ganham para guardar. São poucos os caras do meu meio que eu conheço que economizam. Que absurdo isso, como é que pode o Wayne Shorter não ter dinheiro e precisar da ajuda de amigos! Mas veja você, aqui no Rio de Janeiro aconteceu uma coisa semelhante. Luís Filipe de Lima, um dos craques do violão de sete cordas, cara que grava com todos os grandes nomes, foi ao Facebook pra vender seu violão, instrumento raro e caro. Daí os amigos se conscientizaram, fizeram uma vaquinha e ele não precisou vender, conseguiu uma grana que vai segurar sua onda por algum tempo. Mas estava se colocando à disposição para qualquer coisa. Muitos músicos, como ele, trabalham no dia a dia, tocam hoje para receber daqui a uma ou duas semanas. Têm 15 dias de folga para comer, pagar as contas. Mais do que isso o cara não suporta. Quase todos os músicos que conheço estão nessa situação. Essa pandemia é trágica para todos nós porque agravou uma situação que já era difícil.
Se fosse um país decente, o Brasil teria não apenas um Ministério da Cultura, mas um Ministério da Música. Mas, ao contrário, a intenção do governo que está aí é abafar a classe artística, é fazer com que a gente perca a voz.
Ainda por cima tem a questão da cultura ter se tornado uma espécie de pária para o atual governo.
Se fosse um país decente, o Brasil teria não apenas um Ministério da Cultura, mas um Ministério da Música. Defendo isso há muito tempo. Como um país, que tem a música que tem universalmente admirada, não tem um Ministério da Música para proteger e promover aquilo que é parte significativa de nossa identidade como povo e como Nação? Como um governo não tem políticas de Estado que protejam esse setor, ainda mais em um momento dramático como este, em que o que vai manter a nossa saúde mental são as artes? Música, bate-papo, leitura, filme, artes e entretenimento, é isso o que salva um pouco as pessoas neste momento. Mas, ao contrário, a intenção do governo que está aí é abafar a classe artística, é fazer com que a gente perca a voz. Somos críticos, sim, e aliás o jornalista Guga Chacra, da Globo, diz que quem critica o governo atual é visto como petista, mas não, pô, quem critica o governo é só um crítico do governo, não é petista. Todos nós que criticamos, algumas vezes construtivamente, outras vezes agressivamente, somos vistos como "lacaios da esquerda". É uma estratégia de pegar todos que criticam, colocar num saco de gatos e dizer que são comunistas. Ridículo! Nas redes sociais, às vezes eu sou perseguido pelos dois lados, veja você.
Agora temos um achatamento intencional, mas na verdade o descaso com a importância da cultura para o país vem de longe...
Sem dúvida. Vou começar com o primeiro governo que acho que dá pra debater aqui, que é o governo Fernando Henrique Cardoso. Quando ele foi eleito, um sociólogo, eu esperava que tivéssemos um olhar diferente pra cultura. E não vejo isso acontecer desde então. Que olhar diferente seria esse? Que colocasse a cultura dentro da economia brasileira, da importância de mercado que ela tem – falando da cultura como formadora, como força educadora, mas também como força econômica. É assim em outros países. E esse não investimento em cultura também corresponde ao não investimento em educação. Todos dizem que investiram em educação, mas não investiram o que precisava ser investido, e isso vale do governo federal aos governos estaduais.
Um país em que o agronegócio manda no pedaço, manda na área, é compatível que tenha uma música que dialogue com essa mentalidade. E a música que dialoga com essa mentalidade hoje, é a música sertaneja.
A hegemonia da chamada música sertaneja, de uns 20 anos para cá, poderia ser um reflexo disso?
De certa forma, sim. Um país em que o agronegócio manda no pedaço, manda na área, é compatível que tenha uma música que dialogue com essa mentalidade. E a música que dialoga com essa mentalidade hoje, é a música sertaneja. Quero deixar bem claro que não sou contra a música de ninguém, a única coisa que desaprovo dentro de nosso meio é esse alheamento da realidade. Alguns jornalistas se posicionam contra, criticam o fato de vários desses artistas serem totalmente pró-governo, outros são apolíticos, ou despolitizados. Por ser músico, tenho dificuldade em criticar o trabalho de outro músico, o que posso dizer é que não me identifico com essa música, não gosto. Mas dentro desse quadro todo da música brasileira, o que me agride muito, e isso de fato não posso aceitar, é quando a música supostamente feita pra ser tocada nas igrejas vira produto de mercado, para explorar as massas populares, as classes que infelizmente tiveram menos acesso à educação, ou não tiveram acesso nenhum.
E o funk?
O funk é a música da periferia, em São Paulo é a música que manda no mercado e no Rio de certa forma também, um gênero que compete com a música sertaneja. Há pesquisas comprovando o avanço do funk, é a música eletrônica brasileira da favela, goste-se ou não, é assim que ela nasceu, assim que ela está se fazendo. Sobre a música sertaneja, lembro que com os Titãs participei Brasil a fora, sobretudo em São Paulo, de muitos festivais em feiras agropecuárias. Nelas dá para entender por que o agronegócio é tão importante para o Brasil.
Por quê?
O Brasil é um país continental que perdeu o rumo da indústria e da tecnologia. Não houve investimentos. A ciência também nunca foi priorizada da forma como deveria. Então, ficamos para trás em relação a algumas nações. Por exemplo, a Coreia do Sul. Até os anos 1980, a Coreia do Sul tinha uma educação pior do que a nossa, tinha um PIB pior que o nosso, era um país rural, praticamente. Daí, houve incentivos maciços em educação e tecnologia e esse país chegou à situação em que hoje se encontra. A gente foi ficando pra trás. No que o Brasil se especializou? Nessa coisa da exploração da terra, do agronegócio, na agressão ao meio-ambiente... Políticas de meio-ambiente não foram implantadas como deveriam e esse negócio cresceu. Mas, enfim, as feiras agropecuárias salvaram boa parte do setor musical, pelo menos até o tempo em que eu estava nos Titãs.
Você atribui às feiras agropecuárias de São Paulo e do Centro-Oeste o sucesso da música sertaneja?
Eu vi o sentimento do sertanejo crescer nelas, de uma forma robusta. Mas naquela época, dez anos atrás, as feiras eram uma coisa interessante, pois apesar de já serem um local da música sertaneja, recebiam quase todas as vertentes da música brasileira. A coisa começa a mudar, por exemplo, quando vejo as escalações mais recentes de um festival como o Planeta Atlântida. É um bom parâmetro, ali é onde se escala o que está acontecendo na música pop brasileira, o top 10. Vejo uns poucos grupo de rock, MPB não veja quase nada, quem está mandando é a música sertaneja. Já há alguns anos, a música sertaneja ocupou o lugar da música pop da juventude.
Como chegamos a esse quadro de hegemonia de um estilo, ou gênero, que destoa da história da música brasileira?
Penso que, diante de uma educação pública de péssima qualidade, diante de um mundo imediatista, cada mais superficial, onde as pessoas cada vez leem menos, diante de um mercado cultural que não mais valoriza a diversidade, a música sertaneja encontrou seu espaço. Ela entendeu melhor talvez do que qualquer outra a realidade do que diz respeito à sonoridade e ao texto daquilo que as pessoas ou gostariam de ouvir ou que é de fácil assimilação. Uma música que não contesta, não traz questões políticas, questões existenciais... As letras são basicamente sobre relações, sobre namoros, traições... Além disso, foi o setor que mais investiu na estrutura de apresentações ao vivo, de fazer um espetáculo.
Porque tem dinheiro...
Sim, dinheiro do agronegócio. Grandes empresários do Centro-Oeste viram ali uma possibilidade de trabalhar em outra área. Tinham recursos para investir, então investiram em luz, em tecnologia, em qualidade de áudio, em imagem mesmo. Se você ver alguns desses shows que circulam aí pela internet, pela TV, você fica de fato surpreso, eles têm uma estrutura que nenhum artista de outro gênero tem – exceto os Tribalistas, que em 2018 fizeram uma turnê cuja tecnologia deixou todo mundo pra trás, pois teve investimento, um planejamento absolutamente profissional, e foi uma turnê que tinha tempo para acabar, também. Do ponto de vista do espetáculo, do entretenimento, o show dos Tribalistas foi de fato grandioso. O que compete com isso? Só os sertanejos. E essa música sertaneja pop de que falamos começou a ganhar espaço a partir dos primeiro Rock in Rio, de 1985.
Diante de um mundo imediatista, cada mais superficial, onde as pessoas cada vez leem menos, a música sertaneja encontrou seu espaço. Ela entendeu melhor talvez do que qualquer outra a realidade do que diz respeito à sonoridade e ao texto daquilo que as pessoas ou gostariam de ouvir ou é de fácil assimilação. Uma música que não contesta, não traz questões políticas, questões existenciais... As letras são basicamente sobre namoros, traições...
É a primeira vez que vejo alguém fazer tal ligação. Tem mais detalhes?
O Dé Palmeira, meu parceiro no projeto Panamericana, me contou que Chitãozinho e Xororó assistiram ao Rock in Rio e se ligaram especialmente no show da banda Scorpions. Vale lembrar que a atual música sertaneja foi se moldando a partir de duplas como essa, na época ainda meio identificada como música caipira. E são dois caras incríveis, grandes observadores da música brasileira. Numa entrevista, um deles disse: “Quando vi o show do Scorpions eu entendi tudo, quais as mudanças que a gente deveria fazer pra se tornar uma realidade nacional, ter uma música mais competitiva em termos de mercado”. Scorpions tem grandes sucessos de rádio e veio pro Rock in Rio intercalando um som pesado e um som absolutamente pop.
De baladas românticas grudentas, você quer dizer...
Pode ser. Outra banda de sucesso mundial que é a cara do sertanejo chama-se Bon Jovi. O que aconteceu com o sertanejo? Os caras entenderam que, se continuassem com aquela linguagem que falava só com as pessoas do interior, as pessoas do campo, ou de cidades pequenas, iriam continuar naquele nicho. Se não mudassem seu visual, corte de cabelo, instrumentação e etc, continuariam em um nicho. Então, importaram muitos conceitos da música pop, do rock pop, de bandas americanas comerciais, radiofônicas, que tinham um lado pesado, mas sempre um single, uma balada, melodia chiclete, uma meleca lá no meio do disco.
E o rock brasileiro ficou para trás?
O pessoal da música sertaneja teve uma visão de mercado que as bandas de rock não tiveram. Não que a gente não soubesse, quer dizer, posso falar por mim: conheço várias bandas brasileiras que sabiam que precisavam investir em cenário, em iluminação, em coisas desse tipo, que fazem parte da evolução do business. E não fizeram. Umas não tinham dinheiro, outras simplesmente não quiseram. As poucas que fizeram isso permaneceram. O Capital Inicial, por exemplo, é uma que investiu. Seu som também ficou um pouco mais palatável, é verdade, apesar do Dinho ser uma pessoa política, está sempre falando em política. O Capital é uma das poucas bandas de nossa geração que fizeram um update do discurso e um update estético também. As outras bandas, no meu entender, não que tenham ficado para trás, lá nos anos 1980, mas de alguma forma conservam sua essência. Exemplo: Titãs... Aliás, não falo nunca dos Titãs, esta é a primeira vez que vou falar da minha ex-banda. Goste ou não goste do que eles estão fazendo, conservam a essência do que os Titãs eram lá atrás, em discos como Cabeça Dinossauro. Você pode achar ruim o que é feito agora, ou pode achar bom, mas tem um diálogo com o que era feito. A mesma coisa os Paralamas, eles também dialogam com aquele Paralamas que nós conhecemos, não é um outro Paralamas, é aquele ainda... Não estou dizendo que o Capital é outra banda, por favor, mas ela talvez tenha sido a que melhor se adaptou a isso, dentro das diretrizes do mercado da música pop. Tanto que ainda é uma banda headline do Planeta Atlântida, está no Rock in Rio, está sempre nos grandes festivais.
Os sertanejos entenderam que, se continuassem com aquela linguagem que falava só com as pessoas do interior, iriam continuar naquele nicho. Então, importaram muitos conceitos da música pop, do rock pop, de bandas americanas comerciais. O pessoal da música sertaneja teve uma visão de mercado que as bandas de rock não tiveram.
Um dos pontos que me incomodam é que a música sertaneja parece ter ajudado a desdemocratizar a música brasileira no sentido da exposição. Sempre tivemos uma música mais elaborada e uma mais popularesca. Agora a dupla Tal e Tal, que chegou ontem e vai desaparecer depois de amanhã, tem 5 milhões de vizualizações no YouTube, enquanto o Duo Aduar, de Minas Gerais, que faz uma bela música de alma brasileira e cujo disco comentei há pouco em GaúchaZH, não tem 5 mil. Em outros tempos não havia essa dicotomia gritante.
No país do agronegócio, nada mais coerente que o sertanejo seja o grande expoente da música pop nacional. É a monocultura musical do país hoje. Concordo que, desde que existe rádio, indústria fonográfica, cultura pop, vai existir uma música comercial. Mas o que você tá falando é como é que a gente chegou a esse quadro de monocultura. Como chegamos? Até os anos 1990 a gente tinha o pagode romântico...
E a axé music...
A axé marcou mesmo. O sertanejo está durando muito mais porque, como eu disse, eles souberam investir no seu próprio setor, no seu próprio mercado. Mas por que se estabeleceram com esse papel de monocultura? Porque estavam fazendo sucesso, automaticamente as rádios começaram a tocar, a televisão se viu obrigada a tocar, e aí se formou um círculo muito difícil de romper. Como se sai disso? Eu não sei. Até os anos 1980, o rádio e a televisão contemplavam mais a diversidade cultural brasileira. No programa do Chacrinha, por exemplo, você tinha Borghettinho e Cazuza! E tudo certo. O Brasil é isso, do brega ao erudito, sempre foi assim, e os meios televisivos e radiofônicos de alguma forma contemplavam isso. Com a necessidade de resultados financeiros, concorrência cada vez mais forte, eles tiveram que abraçar o sertanejo. O que dá mais certo, qual é o top 10? O sertanejo. Então vamos nessa.
E em 10, 20 anos, ninguém vai lembrar das músicas que eles cantavam. Nem os atuais fãs lembrarão, pois são músicas do tipo use e descarte. Então, isso não leva a nada, é dinheiro que circula entre eles, um circulo vicioso, como você disse. Isso não alimenta a economia da cultura, a não ser a deles.
Uma coisa que não falamos aqui, e não podemos deixar passar assim, é o mercado todo se reacomodando e se movimentando para estabelecer um piso que é difícil de achar. Mas tem uma coisa importante, que é o papel da música na vida das pessoas. Isso mudou bastante para as novas gerações, as gerações mais recentes, a das minhas filhas, por exemplo. Elas ouvem música o tempo todo, e ouvem porque amam música, porque têm música em casa o tempo todo. Mas, na nossa geração, a música era muito mais do que entretenimento, era um meio de expressão, um meio de reflexão, para mim foi assim. Eu me libertei através da música, que se tornou um meio de expressão para mim. Hoje, o papel da música para as novas gerações está completamente modificado, a música é entretenimento, distração, mais do qualquer outra coisa. Se você quer contestar, fazer oposição ao governo ou a qualquer coisa, você vai para as redes sociais. Na nossa geração isso não existia. A contestação, a reflexão, o discurso difícil de debater, isso está concentrado na internet e nas redes sociais. À música restou o papel de entretenimento, de distração. Veja a parada norte-americana. Nos últimos anos ela não tem rock no top 10, nem nos top 20 ou 30, é só pop ou hip-hop. A mesma coisa no Reino Unido. Os artistas de rock, de certa forma, dominam ainda um pouco os grandes festivais. Mas, rádio e TV, se você ver as paradas norte-americana, europeia e brasileira, o que tem é essa música comercial, esse pop chiclete de consumo imediato.
Hoje, o papel da música para as novas gerações está modificado, a música é entretenimento, distração, mais do qualquer outra coisa. Se você quer contestar, fazer oposição ao governo ou a qualquer coisa, você vai para as redes sociais.
Diante de tudo isso que estamos falando, pensar em um Ministério da Música, algo que em um governo sério poderia suscitar debate importante, soa como utopia boba. Como você vê a situação política do Brasil?
Vejo com muita preocupação. Eu me profissionalizei aos 24 anos, quando entrei para os Titãs e passei a viver de música, em janeiro de 1985. Quando a gente passou pelo governo de Fernando Henrique, o Brasil seria governado por um sociólogo, tive o sonho de que o Brasil teria um Ministério da Cultura à altura da cultura brasileira e que todas as artes seriam contempladas como mereciam e merecem. Mas isso não aconteceu lá e em nenhum governo desde então. Nos nossos governantes, do sociólogo ao operário, nunca houve um homem de visão – o que, na verdade, é pouco raro na história da América Latina. Eu espero um governante que saiba ver o que o Brasil tem de melhor para implantar políticas relevantes. A gente vive sempre esse fantasma de não termos um governante com visão para colocar a cultura em um patamar da importância de outros ministérios. Mas ao longo desses governos havia pelo menos um Ministério da Cultura, embora eu conheça as dificuldades que Gilberto Gil teve para implantar ideias novas. O sistema brasileiro não foi feito para isso, não foi feito para receber esse setor enquanto identidade cultural, relevância cultural, mas também um braço fortíssimo da economia criativa. Por mais que a gente grite aqui do outro lado sobre quantos por cento da economia brasileira nós respondemos. Os estudos existem, mas nunca vimos políticas de Estado.
E hoje, quando a cultura é vista com hostilidade, quase como inimiga?
Por que? Porque a cultura é um espaço da crítica. É nosso papel, da imprensa e do artista que quer fazer isso, criticar, colocar sua opinião. E estava na cara que este governo iria rebaixar a Cultura, como rebaixou. Quando isso ocorreu, eu senti na pele aqui no Rio de Janeiro. Os investimentos despencaram... O investidor é um sujeito extremamente conservador, concorda? Ele quer segurança, vai investir e quer receber aquilo que investiu e mais alguma coisa. É assim que funciona. Então, quando a cultura brasileira foi nomeada, por esse governo que está aí, como algo descartável, ou perigoso, ou indesejável, o dinheiro miou. Foi notória a fuga de recursos que bancavam vários projetos. Por exemplo, o Prêmio da Música Brasileira, que se realizava há muito tempo. Um dos patrocinadores era a Petrobrás, que caiu fora, e o Prêmio está suspenso. Era o único prêmio para a música...
O edital da Petrobrás pela Lei Rouanet, que também contemplava vários projetos culturais, foi igualmente interrompido.
Sim, os editais acabaram, e a Petrobras era uma entidade importante no setor da cultura, pois bancou muita coisa, bancou o cinema, bancou peça, livro, show. A Petrobrás tinha um departamento criado para isso, para fomentar, ajudar a produção nacional. Então, os recursos desapareceram. Por quê? Porque os empresários entenderam que esse é um setor de que o governo não gosta, acha esse setor desnecessário, às vezes desprezível, às vezes perigoso. Então, os recursos para a nossa área sumiram. Por isso, estamos vivendo, aqui no Rio de Janeiro, uma situação muito grave. No Brasil como um todo, na verdade, onde os recursos, que já eram insuficientes, se tornaram quase miseráveis. Aqui no Rio, com uma prefeitura...
De mentalidade evangélica...
Exatamente. Outro dia eu soube de uma pesquisa mostrando que 30% dos brasileiros se consideram evangélicos. É muita gente declarando sua fé nessa vertente da igreja cristã. Temos um governo evangélico no Rio de Janeiro, que considera a cultura também uma inimiga. Então, como a cultura poderá sobreviver em um cenário como esse? Só se tiver governos estaduais que não concordem com essa visão. Eu imagino que o governador Eduardo Leite não concorda com essa visão do governo federal em relação aos artistas do Rio Grande do Sul, um estado tão importante na federação, produtor de cultura. Porque aqui, estão acabando até com o Carnaval.
O prefeito de Porto Alegre também acabou com os subsídios ao Carnaval e não nutre simpatias pela área cultural. Assim como o governo do Estado, que não revela boa vontade com a cultura. Mesmo que ambos não tenham acabado com as secretarias da Cultura.
Meu sogro, que é empresário, diz uma coisa interessante. Conheceu muita gente da música e de outras artes, como minha mulher, e tal, e diz o seguinte: “Olha, vocês, das artes, são muito utópicos. O cara que já se lançou em uma carreira política vê a vida de outra forma. Vocês é que acham que ele deveria ver as artes como algo nobre do homem. Mas a pessoa que se lançou na carreira política já está afastada disso há muito tempo, não olha mais pra isso. Você consegue enxergar alguém ali do Planalto Central ouvindo música, ouvindo qualquer música? Você acha que alguém da Câmara de Deputados, do Senado, pára, um dia, uma hora, para ouvir música?”.
O investidor é um sujeito conservador, concorda? Ele quer segurança, vai investir e quer receber aquilo que investiu e mais alguma coisa. É assim que funciona. Então, quando a cultura brasileira foi nomeada, por esse governo que está aí, como algo descartável, ou perigoso, ou indesejável, o dinheiro miou. Foi notória a fuga de recursos que bancavam vários projetos.
Ficou famosa a entrevista que Pedro Bial fez com o juiz Sérgio Moro, ainda ministro da Justiça, quando perguntou sobre o que gostava de ler. E ele disse que gostava de ler biografias, mas não lembrava da última que lera... Mas, Charles, aproveito para pegar um lado mais pessoal. Você deixou os Titãs em 2010. Depois fez os projetos Panamericana e Primavera nos Dentes. Faz 10 anos que você deixou sua banda. Quatro ou cinco anos atrás, quando conversamos sobre sua saída dos Titãs, você disse que queria apenas dar um tempo, descansar, ficar mais com a família, não seria um desligamento definitivo. Mas seus parceiros de banda não aceitaram essa “pausa” e colocaram a coisa como "fica ou sai". Pergunto: você sente falta daquela adrenalina de palco, viagens, gravações e tal, ou você se encontrou nesse outro lado de pesquisador de música, apresentar programas de rádio e TV?
Sinto muita falta do palco, porque a estrada tem um lado muito bom, que é você viajar constantemente, conhecer lugares novos, tocar para pessoas que nunca viu... Esse lado da estrada sempre me fascinou. Por isso é que eu te disse por e-mail que estava com saudade do Rio Grande do Sul, os Titãs sempre fizeram ótimas turnês pelo Rio Grande. Então, sinto falta desse lado da estrada, de estar em outra cidade, de comer em outros lugares. Sinto falta da adrenalina de fazer o show, tocar bateria, me apresentar num palco com uma luz boa, um equipamento bom.
Como foi o desenlace?
Naquele momento, em 2009, quando a hipótese de sair da banda começou a se configurar, nós cinco vivíamos momentos familiares muito diferentes. Eu optei por ter filhos mais velho, minhas filhas nasceram em 2002 e em 2005, este ano vão fazer 18 e 15. Então, se optei por ser pai mais velho é porque tinha uma preocupação específica com a figura do pai. Quando minha segunda filha, Sofia, nasceu, a figura paterna chegou em minha vida com uma força incontestável, foi quase como um chamado, posso dizer. Pensei: bom, você protelou, você adiou esse momento até agora, como é que vai lidar com isso se você fica de quarta a domingo na estrada? Pensei: não, agora chegou a hora de eu exercer meu papel de pai, de homem de família, com minha mulher e minhas filhas. Tentei conciliar isso com os Titãs, mas foi de fato impossível, pois o pessoal queria seguir com a agenda de shows, continuar naquela batida. E meu momento familiar não me deixava ficar feliz com aquela vida na estrada, itinerante. Em determinado momento achei que iria ter pânico ou depressão, algo assim.
Estava mesmo complicado...
Vou te contar outra coisa que nunca falei em entrevistas. Quando a gente estava gravando o disco Sacos Plásticos, voltava da estrada direto pra São Paulo para fazer os ensaios de criação e tal. Foi uma produção difícil porque não saíamos da estrada, também tinha isso, os Titãs não saíam da estrada, não se recolhiam para gravar um disco. A gente fazia shows e discos praticamente ao mesmo tempo, o que é a coisa mais perigosa na carreira de uma banda. Sempre fui contra isso, mas era uma banda e você pode perder numa votação, eu sempre perdi. Nessa época eu fazia terapia e comecei a ver um tipo de coisa muito esquisita. Um dia, no hotel, parei na frente do elevador para descer ao café da manhã e tive o seguinte pensamento: se abrir a porta e não tiver elevador? Vou me atirar nesse poço ou não vou fazer isso? Outra situação: dentro do avião, voando, eu olhava para a porta e me perguntava, naqueles insights muito rápidos, neurológicos: e se eu abrir a porta desse avião e sair voando? Vai estar tudo resolvido, os problemas estarão resolvidos, vai ser do caralho! Juarez, eu tive isso em hotel, em janelas de prédios e no avião. A diferença entre a loucura e isso é que o louco vai lá e faz. Disse para minha terapeuta: vem cá, tô enlouquecendo, sou um suicida? Ela me respondeu: não, se você fosse um suicida ou um deprimido eu te daria alguns remédios, acho você está absolutamente estressado, chegou ao seu limite, tem de resolver. Então durei meses para montar esse afastamento dos Titãs, foi um processo mental e emocional muito custoso.
'O Som do Vinil' é um programa que mudou a minha vida, pois é como se eu estivesse mapeando a música brasileira, sem me importar com gêneros e vertentes. Acho fantástico entender que a música brasileira é de Villa-Lobos a Borghettinho, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Luiz Melodia, Paralamas, Legião Urbana, Humberto Gessinger, passando por Kleiton & Kledir, muita gente.
Como um divórcio...
Sim, um divórcio não desejado. Então, não era só a família. Era isso, ou a vida. Depois disso, pra você ter uma ideia, fiquei três anos sem subir no instrumento, sem tocar bateria! Ao mesmo tempo, na época, foi como amputar um braço, porque eu amava estar na estrada. Tentei compor com os Titãs, propus uma diminuição de agenda, pelo menos um final de semana em dois meses não fazer show, mas não deu. E se naquele momento era impossível ter as duas coisas, optei por acompanhar a educação, o crescimento das minhas filhas. Além disso, por causa da agenda, passei 25 anos de minha vida não vendo shows que gostaria de ver, não fazendo as viagens que gostaria de ter feito etc. Mas foi difícil.
E os seus projetos musicais pós-Titãs?
A banda Panamericana tinha tudo para dar certo. Por que não deu? Quatro agendas dificílimas de conciliar, a minha, a de Dado Villa-Lobos, a de Dé Palmeira e a de Toni Platão. Gravamos um disco que provavelmente vai ser lançado no domínio digital, sucessos do pop-rock argentino e uruguaio com versões em português. Projeto maravilhoso, mas não avançou. Algumas pessoas já me diziam que depois de uma certa fase é muito difícil montar uma banda. Você pode partir para uma carreira solo, e reúne uma banda para te acompanhar; agora, montar uma banda, como a gente montava no tempo do colégio, isso se torna praticamente impossível.
Depois veio o Primavera nos Dentes...
Sim, músicas dos Secos & Molhados. Foi um ano e meio de ensaio e aconteceu uma coisa muito chata. Ensaiamos, gravamos o disco pela Deck Disc produzido pelo Rafael Ramos. E quando fomos para a estrada, a nossa relação não funcionou, não deu certo. Por quê? Nosso relacionamento com a cantora, a gaúcha Duda Brack. Ela é uma cantora extraordinária, muito talentosa, mas nossa relação com ela ali na estrada, com a família dela, que a empresaria, não funcionou como deveria, a gente não conseguiu achar um ponto em comum de trabalhar. O projeto era para ter longo alcance, fizemos uma linda recriação da obra dos Secos & Molhados, mas foram pouquíssimos shows, no Rio, em Fortaleza e em São Paulo, quando percebemos que a coisa não tava legal. E terminou.
E agora?
Fui convidado para fazer um projeto de blues aqui no Rio com um quarteto liderado por Márcio Lomiranda. Ele é o cara que fornece grande parte de músicas que se ouve na Rede Globo, vinhetas, trilhas instrumentais de novelas e programas é que ele que faz. É um tecladista que tocou com Alceu Valença, com Marina, com Ivan Lins, com Ney Matogrosso e muitos mais, um músico monstruoso que lá nos anos 1980 também teve um problema com a estrada e se retirou para os estúdios. Temos um quarteto de blues chamado Humaitá Blues Combo, fizemos já alguns shows. Não é um projeto autoral, tocamos músicas de Luiz Melodia, Doors, Beatles, Jimi Hendrix , com arranjos meio parecidos mas do nosso jeito.
Os recursos para a nossa área sumiram. Por isso, estamos vivendo, aqui no Rio de Janeiro, uma situação muito grave. No Brasil como um todo, na verdade, onde os recursos, que já eram insuficientes, se tornaram quase miseráveis. Como a cultura poderá sobreviver em um cenário como esse?
E você continua fazendo O Som do Vinil, no Canal Brasil, programas de rádio e algumas coisas mais, como participações no SporTV. Gosta que fazer O Som do Vinil?
Adoro fazer. Já são mais de 350 episódios. Entrevistei quase todo mundo. É um programa que mudou a minha vida, pois é como se eu estivesse mapeando a música brasileira, sem me importar com gêneros e vertentes. Acho fantástico entender que a música brasileira é de Villa-Lobos a Borghettinho, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Luiz Melodia, Paralamas, Legião Urbana, Humberto Gessinger, passando por Kleiton & Kledir, muita gente. Encaro O Som do Vinil como se eu estivesse fazendo mestrado em música brasileira.
Fazer esse programa mudou sua maneira de ver a música brasileira?
Completamente. Primeiro, porque passei a estudar a música brasileira com outros propósitos, não só por amor. Tive que me adaptar e me transformar em um apresentador, eu tinha experiência como entrevistado, não como entrevistador, assisti a muitos documentários e programas para chegar em alguma coisa, acho que melhorei bastante da primeira temporada até hoje. Eu revejo os programas da primeira temporada e fico com vergonha, puxa, como é que me deixaram fazer aquilo? Mudei, hoje sou mais aberto, muito mais receptivo. Uma das melhores entrevistas que fiz foi com Milionário e José Rico, esse episódio está no YouTube, é fantástico. Os caras eram pintores de parede e deram a volta por cima criando uma carreira que os levou até à China! Eles são considerados o Muddy Waters da música caipira, os caras que eletrificaram essa música, que levaram órgão, bateria, guitarra, baixo... Não existia isso antes. Volto a dizer: se a gente fosse um país sério, muitos desses artistas deveriam estar dando aulas em universidades, no mínimo palestras.
Um exemplo.
A Marisa Monte. Ela poderia dar aulas sobre Gestão de Carreira. O episódio n'O Som do Vinil é sobre o disco dela Cor-de-Rosa e Carvão, mas é sobre gestão de carreira. Marisa é a melhor gestora de carreira da música brasileira em todos os tempos. Sem dúvida nenhuma. Mas eu gostaria de lembrar que, de 1994 para 1995, fiz em Londres um curso de engenharia de áudio, sempre gostei de estúdios, morei lá sete meses, numa época em que os Titãs deram uma paradinha para projetos solo. Lá, tive uma visão muito diferente da música brasileira, vi shows fantásticos de rock, mas um dos shows que mais me marcou, que de fato virou a chave de uma forma diferente, foi de Airto Moreira em um clube de jazz.
Baterista como você...
Imagina. Ele e sua banda, com a Flora Purim. Show para o público de Londres, eu era um dos únicos brasileiros na plateia. Ali, tive uma leitura muito interessante de música brasileira, bem diferente de outras que até então eu tivera. Foi por aquela época que me veio a ideia desse projeto de recuperação de discos perdidos, de entrar nos arquivos das gravadoras. Mesmo sendo um músico de rock, nunca deixei de ouvir outros tipos de música. E de uns 10 anos para cá a música popular brasileira acabou virando praticamente uma profissão, O Som do Vinil é sobre música brasileira, escrevo sobre isso, falo sobre isso. Fiz um documentário sobre a gravadora Elenco, outro sobre Tom Zé, outro sobre Marcos Valle, dirigi todos, aprendi a fazer documentários, migrei pro audiovisual, tudo isso por conta da música brasileira.
O que tem feito na pandemia?
Tô confinado em casa, fazendo trabalhos no meu estúdio, minha mulher cozinha, eu sou assistente dela, fico ali lavando e fazendo o que ela me pede pra fazer. Não lembro de ter ouvido tanta música, diariamente, como ouço agora. No dia a dia, sem brincadeira, vai de um disco de chorinho do Paulinho da Viola, Memórias Chorando, que tenho ouvido bastante, até, do outro lado, Bad Company, passando por Elton John, Ângela RoRo, Clara Nunes, Muddy Waters, Howlin’ Wolf, Robert Johnson...
O que suas filhas ouvem?
Minha filha mais velha, vai fazer 18 anos, cresceu ouvindo de tudo dentro de casa. Atualmente, ouve muito Novos Baianos, João Gilberto, rock americano dos anos 1970 e MPB dessa época também. A mais nova, de 14 anos, que toca violão e bateria, adora rock, adora Joan Jett, Pink Floyd, sabe de cor e salteado o Dark Side of the Moon. Mas ouve também Billie Alish, não se desconecta do que é feito agora. Ambas gostam de Titãs também, ouvem bastante. Gostam de Rita Lee, de Raul Seixas. O interessante é que essas novas gerações não têm compromisso, como a gente tinha, tipo eu sou isso, então não posso ouvir aquilo. No começo eu era assim, São Paulo era muito setorizado, tive que ir quebrando isso ao longo da vida.