Em 1978/79, em plena onda “disco” (músicas de artistas norte-americanos que faziam dançar a juventude ocidental), tive a ideia de promover, na então agitadíssima discoteca Looking Glass, uma noite por mês só com música brasileira pra dançar. Eu selecionava as músicas, fazia o roteiro, e o DJ Claudinho Pereira manejava as picapes. Foi um sucesso. Um dos campeões da pista da Discoberta do Brasil (esse o nome da festa) era Moraes Moreira. Músicas dele e dos Novos Baianos cantadas por ele, como Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira, Besta é Tu, Preta Pretinha, Pombo Correio e Bloco do Prazer lideravam os pedidos.
Moraes era uma encarnação do ritmo, do suingue. E tinha um jeito único de cantar, leve, sem contrastes, mas colorido. Dos Novos Baianos, foi o que mais aprendeu com as famosas visitas de João Gilberto ao apartamento do bando no Rio de Janeiro, em 1971, sugerindo que o grupo de rock cantasse também samba e outros ritmos brasileiros. Mais do que os outros, Moraes se ligou naquilo e daí nasceu o definitivo disco Acabou Chorare, por exemplo. Ele foi adiante, redefiniu seu estilo musical e seu modo de cantar, coisas que o levariam para fora dos Novos Baianos. Tornou-se o maior de todos, com uma carreira única e sem retrocessos.
Parece ter escolhido até a hora de morrer, num momento em que o Brasil desce a ladeira - mas no sentido oposto ao espírito alegre e festivo de sua canção.