Em julho de 2019, Moraes Moreira trouxe a Porto Alegre o espetáculo Música e Poesia, apresentado no Theatro São Pedro. Na época, o artista conversou sobre o show e a fase que estava vivendo em sua carreira com GaúchaZH, que republica o texto nesta segunda-feira (13), com algumas atualizações.
Com o show Música e Poesia, o cantor e compositor Moraes Moreira volta a Porto Alegre nesta quinta-feira (25 de julho de 2019). No Theatro São Pedro, ele sobe ao palco com uma apresentação intimista, tocando sucessos de sua trajetória e declamando versos. Ocupante da cadeira de número 38 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, Moraes tem se envolvido cada vez mais com a poesia.
— Estou na minha fase Maria Bethânia (risos). Tem sido muito bacana misturar música com poesia. Posso fazer homenagens a nomes locais, como Erico Verissimo, Mario Quintana, Lupicínio Rodrigues, além de trazer poesias do Sertão — destaca o artista de 72 anos.
Além da poesia, Moraes deve explorar seus mais de 50 anos de carreira musical no repertório. Estão previstas músicas da época em que integrava o mítico Novos Baianos – como Mistério do Planeta e Preta Pretinha – até Ser Tão, álbum mais recente de sua carreira solo.
Lançado em 2018, Ser Tão traz influências da literatura de cordel e do repente, com tom declamatório em faixas como Origens e O Nordestino do Século, marcando uma transição de Moraes na canção autoexplicativa De Cantor pra Cantador. Nascido em Ituaçu (BA), cidade tida como porta de entrada da Chapada Diamantina, o cantor usou o disco como volta às origens.
—Desde menino ouvia muito os sanfoneiros e cantadores. Esse disco serve para resgatar essa veia. Sempre tive de fazer algo voltado para as minhas próprias raízes — explica.
No show está prevista uma homenagem ao seu amigo João Gilberto – morto aos 88 anos no início de julho de 2019. A lenda da bossa nova influenciou diretamente Acabou Chorare (1972) – disco fundamental da MPB. Moraes cogita tocar duas músicas em tributo a João, uma delas Chega de Saudade.
— Fiquei bem triste. Era um amigo. Um mito. Esse é o verdadeiro mito. Foi o produtor espiritual do Acabou Chorare. Tivemos momentos maravilhosos no apartamento que os Novos Baianos moraram em Botafogo, no Rio — lamenta.
Além da perda do amigo, Moraes não esconde a consternação com o cenário em que a cultura se encontra sob o atual governo brasileiro:
— Tudo está acontecendo inesperadamente. Às vezes eu acho pior que na ditadura. Naquela época, nós sabíamos: era tiro e pronto. Ainda assim, tocava-se muita música brasileira na época. Não tinha uma relação determinada contra a cultura.
Essa preocupação entra no roteiro do show:
— Pergunto em um poema no show: dá para viver sem cultura? A humanidade toda foi permeada pela cultura. A arte sempre sobreviveu a perseguições ao longo da história. A cultura há de resistir a este momento.