A falta de planejamento é um dos componentes que mais atrasa obra no Brasil, seja pública ou privada. Não é o caso da revitalização do Quadrilátero Central.
Essa é uma reforma que foi discutida e apresentada aos comerciantes e moradores do Centro Histórico antes de sair do papel. A cada proximidade de datas relevantes para os lojistas, por exemplo, as obras são suspensas, como foi o caso recente do Dia dos Namorados.
Mesmo assim, o atraso é marcante e preocupante. A revitalização propriamente dita começou em 13 de junho de 2022 pela Rua Otávio Rocha. Na ocasião, a prefeitura prometia que a intervenção não se estenderia por todos os 90 dias em cada uma das dez vias selecionadas. Na prática, o resultado é outro.
- Houve lá no início uma primeira reunião e isso animou os lojistas, entenderam, foi bem divulgado lá no início, mas depois a comunicação necessária sobre o atraso das obras acabou não acontecendo e isso é uma das grandes queixas dos lojistas da Otávio Rocha; essa demora na entrega das obras e essa falta de comunicação. Também eles relatam, e é perceptível por nós do Sindilojas também, que tem várias obras acontecendo ao mesmo tempo no centro de Porto Alegre. Então, isso acaba prejudicando toda a comunidade, as pessoas que gostariam de ir para o centro, mas sabem que tem muitas obras, acabam não indo. Então, isso diminui o fluxo, que já estava reduzido em função da pandemia - aponta o presidente do Sindicato dos Lojistas (Sindilojas) de Porto Alegre, Arcione Piva.
Ele também destaca o barulho e a sujeira inevitáveis durante as obras, que são pontos que a prefeitura poderia cuidar melhor. Além disso, a interrupção do tráfego de veículos na Otávio Rocha, por um período além do previsto, fez por diminuir a circulação de pessoas, impactando nas vendas. Apesar disso, os lojistas comemoram a obra, o diálogo aberto com a prefeitura e a diminuição de ambulantes no Centro.
- É desafiador fazer uma obra numa região tão viva, onde passam 400 mil pessoas todos os dias, que tem comércio de rua, tem a questão dos ambulantes, da dificuldade do cadastro, as diversas redes do subsolo, que são cadastros antigos e às vezes nem tão precisos. Conciliar as atividades do centro com uma obra é o nosso maior desafio até aqui. Acreditamos que encontramos agora o melhor ritmo nessa obra. Esse é o nosso desafio daqui para frente, manter esse ritmo e acelerar ainda mais - destaca o secretário Municipal de Obras e Infraestrutura (Smoi), André Flores.
A Otávio Rocha já está de cara nova. Calçadas e o pavimento para os veículos estão prontos. O canteiro central da via foi totalmente reconstruído. Mas, assim como ocorreu no trecho 1 da orla do Guaíba, há muito concreto e pouca vegetação. Das 16 novas bancas de floristas, nove já foram instaladas e os permissionários começam a retornar para a região a partir desta terça-feira (13). A promessa da Smoi é concluir a obra na via ainda nesta semana.
A Rua General Vitorino começou a receber intervenção em agosto do ano passado. Os trabalhos estão quase concluídos. Serão finalizados na próxima semana. O cruzamento com a Rua Vigário José Inácio é onde está concentrado o serviço.
Na Rua Voluntários da Pátria, onde a revitalização começou no mesmo período, a reforma está mais atrasada. Há interrupção de tráfego. Tanto a calçada quanto o espaço para a circulação dos ônibus recebem novo pavimento. Pedestres circulam por entre a obra. Na manhã de segunda-feira (12), uma pessoa com deficiência visual se arriscava em meio aos buracos e desníveis da construção. Apesar de parecer distante o término da revitalização, a Smoi informa que a via estará totalmente pronta até julho.
Na relação de ruas em recuperação, as ruas Vigário José Inácio e Marechal Floriano Peixoto foram as últimas a terem serviços em execução: abril de 2023. As dificuldades são as mesmas. Assim como a Voluntários, ambas as vias devem ter os serviços finalizados até o mês que vem.
Histórico
A ordem de serviço para o início da reforma foi assinada pelo prefeito Sebastião Melo em 28 de abril de 2022, mas o começo das intervenções foi adiado para depois do Dia das Mães, por solicitação de comerciantes locais.
O canteiro central da obra começou a ser montado em 9 de maio do ano passado, na Avenida Borges de Medeiros - entre as ruas José Montaury e dos Andradas. Um paredão de concreto foi construído na região para proteger maquinário e itens da obra.
O prazo geral da revitalização era de 18 meses, mas houve alteração da data final por mais três meses. Dessa forma, a previsão é que os trabalhos sejam concluídos até março de 2024. Como somente cinco das dez ruas receberam intervenção em um ano, a prefeitura precisará publicar um aditivo ao contrato ajustando a data, o que ainda não aconteceu. A Smoi informa que isso irá ocorrer quando se achar necessário que seja feito.