As novas bancas dos floristas da Avenida Otávio Rocha, no Centro Histórico de Porto Alegre, estão recebendo intervenções artísticas. O espaço terá capacidade para abrigar até 16 comerciantes. As pessoas que circulam pelo local já podem ver as pinturas. Os temas abrangem diversidade e sustentabilidade ambiental.
— O meu trabalho se chama Olhos de Ogum e estimo em mais três dias para ficar pronto — diz o artista plástico Paulo Corrêa, que pintava um dos estandes na tarde de quinta-feira (18).
Enquanto retratava na pintura espadas-de-são-jorge, o artista recebia elogios de quem passava caminhando pelo local.
— Essas obras são uma doação para a cidade de Porto Alegre. São públicas — ressalta, dizendo que estava trabalhando havia cinco dias nos desenhos.
Na primeira banca, localizada quase na esquina com a Rua Marechal Floriano Peixoto, a colega e artista visual Angela Ponsi também desenvolvia sua obra.
— Minha obra se chama As floristas. As flores lembram sempre a mulher — conta, acrescentando: — Trouxe a figura da mulher negra e mais gordinha, para dar referência da diversidade das mulheres.
Por enquanto, as imagens estão sendo feitas em duas bancas da Otávio Rocha. O projeto é de autoria do arquiteto da prefeitura da Capital, Oscar Eduardo Coelho, enquanto a ação tem a curadoria de Sabrina Stephanou (confira abaixo a relação dos artistas).
Batizado de Arte nas Bancas dos Floristas, o espaço cultural resulta de uma parceria entre o Coletivo Terragrita e a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smoi).
Floristas vivem expectativa pela volta aos pontos renovados
As novas bancas começaram a ser instaladas na Otávio Rocha no dia 14 de março, mas a previsão inicial era de serem entregues em setembro do ano passado. Da mesma forma, o prazo previsto para os floristas ficarem provisoriamente na Praça XV de Novembro era de 90 dias. Foram para o local em junho de 2022 e ainda seguem à espera do término das obras para retomarem seus pontos de venda tradicionais. A situação gera apreensão entre os comerciantes.
Para Flávia Pereira Amândio, que trabalha como florista desde os 15 anos e tem banca na Otávio Rocha há 18 anos, as obras estão demorando em demasia.
— A promessa foi a obra ficar pronta no período de três meses. Estou sendo prejudicada em função das datas de festas que tivemos, porque acreditei na palavra deles (prefeitura) — relata.
A florista afirma que a prefeitura havia prometido para ela tudo pronto até 15 de fevereiro. A banca de Flávia fica quase em frente das Lojas Renner da Otávio Rocha e não está pronta.
— Estou desiludida. Aqui (Praça XV), nós nos bronzeamos sem ter mar — ironiza, reclamando do calor e da exposição ao sol.
Na avaliação da florista Vanessa da Silva Alves, há 10 anos com banca na Otávio Rocha, a espera pela revitalização do espaço "com certeza valeu a pena".
— A pintura está excelente, estão fazendo bancas legais para nós e estão deixando a Otávio Rocha também excelente — elogia, completando: — Lá (Otávio Rocha) estava ruim e nos colocaram aqui (Praça XV) para melhorar. Vamos sair daqui, voltar para lá e vai estar melhor.
O florista Carlos Humberto pertence à terceira geração de floristas da região e possui banca na via há 25 anos. Porém, trabalha no ramo há 52 anos, sendo um dos mais experientes entre os colegas.
— Minha expectativa é de que, em 10 dias no máximo, estejamos ali no primeiro quadrante (da Otávio Rocha). Quanto ao segundo, prometem para 30 dias. Mas acredito que deve demorar mais — estima.
O profissional comenta que as vendas não são ruins na Praça XV, mas o que incomoda é o sol.
— Obra é assim mesmo. Tem obras da Copa do Mundo de 2014 que não terminaram ainda — conforma-se.
Confira os artistas participantes:
- Sabrina Stephanou (curadora)
- André Venzon (artista visual e curador e gestor cultural)
- Angela Ponsi (artista visual, designer editorial, arquiteta e urbanista)
- Daniela Giovana Corso (artista visual, arquiteta e urbanista)
- Leandro Michels (desenhista e escultor)
- Paulo Corrêa (pintor e fotógrafo)
- Vinicius Vieira (escultor, arquiteto e urbanista)
- Xaplin (artista visual)
- Zoravia Bettiol (artista plástica, designer e arte-educadora).
O que diz a prefeitura
Questionada sobre a situação das obras do Quadrilátero Central e dos floristas da Otávio Rocha, a prefeitura respondeu, por meio da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smoi), aos questionamentos enviados por GZH. Veja, abaixo, as respostas:
Quando todos os floristas estarão de volta aos seus pontos comerciais?
"Já liberamos documentalmente este retorno e nos próximos dias já está liberada a volta para os oito floristas e duas bancas de revistas da Avenida Otávio Rocha, localizados entre a Marechal Floriano e a Vigário José Inácio. Nossa expectativa é de que até o final de maio, o mesmo ocorra com os demais da Av. Otávio Rocha. A partir da liberação, eles devem começar a voltar, regularizando a ligação de água e da luz, se restabelecendo no local, o que acreditamos ser feito em poucos dias."
Neste instante, qual obra do Quadrilátero Central está mais adiantada e qual deve demorar mais?
"A Avenida Otávio Rocha e a General Vitorino estão mais adiantadas, faltando fazer a intervenção no cruzamento com outras vias como a Vigário José Inácio."
GZH - O que está sendo feito neste momento nas intervenções?
"Importante explicar que, neste momento, há dois tipos de intervenções no quadrilátero, aquelas que são realizadas pelo Dmae (Departamento Municipal de Água e Esgotos), que está trocando a rede de água em tubos de ferro e lançando a rede em PEAD (polietileno de alta densidade), para depois iniciar a intervenção da nossa obra, que visa requalificar o pavimento, melhorando a caminhabilidade e a mobilidade. Então, na General Vitorino, Otávio Rocha, Voluntários da Pátria e Marechal Floriano há a intervenção da obra no pavimento, pois o Dmae já finalizou sua intervenção. Neste momento, o Dmae concentra seus esforços na Vigário e, tão logo seja possível, vamos iniciar a intervenção no trecho entre a Voluntários e a Otávio Rocha."
GZH - Qual é o prazo atual de entrega das obras finalizadas?
"Nossa expectativa é concluir até março de 2024, mas esse cronograma é atualizado constantemente, em razão da quantidade de interferências."
GZH - Quanto já foi investido até agora nas intervenções?
Smoi - "Medido o acumulado total R$ 4.524.538,20."