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Aguardado com expectativa pelas boas vendas, o final do semana de Dia dos Namorados é de preocupação para floristas que tradicionalmente trabalham na Avenida Otávio Rocha e foram deslocados para o Largo Glênio Peres, no centro de Porto Alegre. A mudança, que ocorreu no último domingo (5), se deu por conta do início das obras no Quadrilátero Central, agendado para segunda-feira (13).
As 10 bancas de flores que ficavam na Otávio Rocha estão provisoriamente instaladas em cabines de madeira, de cerca de 4 m², que custaram aos floristas cerca de R$ 2 mil cada. No novo local, os trabalhadores se queixam principalmente da falta de luz e de água.
Sem a ligação elétrica, alguns optaram por lâmpadas internas para iluminar as cabines. Outros, que costumavam trabalhar noite adentro na Otávio Rocha, estão fechando as bancas por volta das 18h.
Segundo os floristas, a prefeitura de Porto Alegre ofereceu o local temporário para eles, mas a instalação de poste, relógio e trâmites burocráticos junto a CEEE Equatorial ficariam por conta dos próprios trabalhadores. O custo de um poste seria de cerca de mil reais.
— Isso foi acordado depois das reuniões. Durante as reuniões, nos prometeram água e luz. Nem que fosse uma bica aqui na Praça (Quinze de Novembro), mas que fosse próximo — comenta Adriana Portes, cuja família tem banca de flores no Centro há 47 anos.
Conforme Iara Portes, que trabalha desde o início do negócio familiar e está se vendo obrigada a encerrar o expediente às 18h, os floristas têm de buscar água utilizando baldes no banheiro público do Terminal Parobé para regar as plantas comercializadas. Além disso, a alta exposição solar e o vento, que contrastam com a região mais sombreada e protegida da Otávio Rocha, prejudicam o cuidado com as flores. A prefeitura teria negado o fornecimento de uma lona para as bancas.
— Se eu estou sozinha aqui, eu não consigo ir ali pegar um balde. Eu tenho problema nos ossos — acrescenta Iara, que conta com a ajuda das filhas e de uma neta no trabalho.
A opção por não adquirir um poste entre os floristas foi unânime. Após terem arcado com os custos das cabines provisórias, os trabalhadores acreditaram não valer a pena pagar pelo aparato, que possibilitaria a ligação elétrica.
— O que nós vamos fazer com um poste depois? É tudo temporário — diz Nara Raimundo, que trabalha há 25 anos com o ramo de flores e optou por luzes de emergência para poder trabalhar no turno noturno.
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Queda no movimento
O Dia dos Namorados, além do Dia das Mães, é a principal data comemorativa dos floristas. A mudança no local de trabalho tão perto deste dia 12, portanto, não agradou os trabalhadores.
— Pra nós, não foi muito bom. Como a Otávio Rocha é conhecida como "a rua das flores", as pessoas já nos conhecem. Ficou complicado pra nós mudarmos nessa época. Se fosse mais adiante, ficaria melhor — comenta Nara.
Além da mudança abrupta, a pandemia também prejudicou a comercialização de flores. Com o cancelamento de eventos, a produção das plantas acabou sendo cortada, aumentando os custos em um período de demanda em baixa.
— A procura tem diminuído bastante e o preço da flor aumentou 400%. Isso foi depois da pandemia, porque se retardou a produção. Para nós e para a população a situação está muito difícil — comenta Raimundo sobre a procura por flores nos últimos anos.
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Os floristas ainda não conseguem avaliar se o movimento neste Dia dos Namorados pode ser comemorado. O que já é possível saber é que as rosas vermelhas seguem campeãs de vendas. Além delas, gérberas, girassois e crisântemos têm apresentado grande procura.
Angélica Gonçalves, que trabalha há apenas um mês e meio no setor, comenta que o Largo Glênio Peres, um ponto de maior movimentação, possibilita a aproximação de transeuntes que não costumavam entrar em contato com as flores. Por outro lado, o desconhecimento por parte de consumidores é um fator preocupante para o movimento específico na data comemorativa.
— Muitas pessoas não sabem que a gente veio pra cá, por mais que tenha sido divulgado. A gente ainda não sentiu o movimento — lamenta Marcelo Niehues, que trabalha há 25 anos no ramo.
Após os 90 dias inicialmente previstos para as obras, os floristas retornarão ao local original de trabalho. As bancas de revistas, assim como as de flores, também foram obrigadas a sair da Avenida Otávio Rocha.
O que diz a prefeitura
Em contato com a reportagem de GZH, a assessoria da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (SMOI) disse que "a prefeitura começou a dialogar com todos que seriam afetados pelas obras tão logo o projeto foi definido e o cronograma passou a ser elaborado" e que foi combinado com os profissionais "que precisariam ser removidos temporariamente para a realização da obra, que estes seriam os responsáveis pela compra do poste e do relógio para iluminação. Desta forma, a CEEE faria a ligação".
De acordo com a prefeitura, foi oferecido aos floristas o uso de água no Mercado Público. "A Prefeitura ofereceu ainda bancas já existentes, o que foi recusado pelos floristas que, em reunião, votaram unanimemente por fazerem suas próprias lojas", ressalta a nota.