A Polícia Civil pediu análise pericial da garrafa de água levada por Deise Moura dos Anjos, 42 anos, para a sogra, Zeli Teresinha dos Anjos, 61 anos, que estava internada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), após comer um bolo envenenado com arsênio.
O Instituto-Geral de Perícias (IGP) informa que recebeu a garrafa na tarde de sexta-feira (10) e que o resultado da análise deve sair na semana do dia 13.
Enquanto Zeli esteve hospitalizada, após comer duas fatias de um bolo feito por ela mesma com uma farinha que continha arsênio, ela recebeu a visita da nora, Deise. O encontro aconteceu no dia 5 de janeiro, no Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Torres, no Litoral Norte.
A nora levou uma garrafa de água, suco e chocolate para a sogra. Na ocasião, a polícia já investigava a hipótese de envenenamento no bolo e já suspeitava que a morte do marido de Zeli, em setembro do ano passado, não tivesse ocorrido em razão de uma intoxicação alimentar, como constava no atestado de óbito.
Desconfiada, ao perceber que os lacres das embalagens dos líquidos estavam rompidos, a familiar que cuidava de Zeli colocou a água e o suco fora. Contudo, a família entregou a garrafa de água para a polícia. Segundo o delegado Cléber Lima, diretor do Departamento de Polícia do Interior, a embalagem foi encaminhada para análise pericial.
— Não sabemos se tinha veneno ou não. Pode ter ficado na garrafa ou mesmo se tiver sobrado uma gota, talvez os peritos possam identificar — pontua o delegado.
Morreram após comer o bolo Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, Maida Berenice Flores da Silva, 59, além de Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47 anos, filha de Neuza.
Prisão
Horas depois da visita, a nora foi presa pela suspeita de envenenar os familiares. Deise está detida no Presídio Estadual Feminino de Torres, onde ficará por 30 dias. Ela é investigada por quádruplo homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e com emprego de veneno e tripla tentativa de homicídio duplamente qualificada.
O motivo para o crime seria uma desavença com a sogra. Segundo a polícia, a briga entre elas durava pelo menos 20 anos.
O delegado Marcos Vinícius Muniz Veloso, responsável por investigar o caso, diz que, por enquanto, não deve ser solicitada prorrogação da prisão temporária, nem solicitada a prisão preventiva.
Sobrevivente desabafa
Viúvo de Maida Berenice Flores da Silva, Jefferson Luiz Moraes, 60 anos, ainda mora no apartamento onde a família comeu a sobremesa.
A decoração do local foi mantida como estava na tarde de 23 de dezembro: enfeites, montados por Maida, seguem em todos os cômodos. A equipe da RBS TV esteve na residência, onde conversou com Jefferson.
Na primeira entrevista que concedeu após a tragédia do bolo envenenado, que matou outras duas mulheres, além da esposa, Jefferson relembrou os últimos momentos delas.
Assista ao vídeo:
Nota fiscal
Deise Moura dos Anjos comprou arsênio pela internet, de acordo com a Polícia Civil. A imagem de uma nota fiscal obtida com exclusividade pela RBS TV, mostra o nome de Deise Moura dos Anjos como destinatária, e a identificação do produto como arsênio.
O documento estava salvo no celular da suspeita, apreendido durante a investigação.
A polícia confirmou, durante uma coletiva de imprensa na sexta-feira (10), que Deise comprou arsênio quatro vezes em um período de quatro meses.
Uma das compras ocorreu antes da morte do sogro — que faleceu por envenenamento em setembro — e as outras três antes da morte de três pessoas que consumiram o bolo envenenado, em dezembro do ano passado. O veneno teria sido recebido pelos Correios.
Novos depoimentos
O marido e a sogra de Deise devem prestar novos depoimentos na condição. Segundo a polícia, não há, por enquanto, elementos que levantem suspeitas sobre o homem, que já teve o celular apreendido. O aparelho passa por perícia.
Segundo o delegado Cléber Lima, a etapa das provas testemunhais está quase encerrada. Ele pontua que a polícia investiga se ocorreram outros envenenamentos por parte de Deise com pessoas do círculo familiar. A polícia não pode revelar detalhes que prejudiquem as investigações, mas o delegado diz que são mais de dois casos.
Entenda o caso
Seis pessoas da mesma família passaram mal e precisaram procurar atendimento médico em 23 de dezembro após consumir um bolo, que continha arsênio, conforme análise da perícia da Polícia Civil.
Três delas morreram: Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, Maida Berenice Flores da Silva, 59, além de Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47 anos, filha de Neuza.
Zeli Teresinha dos Anjos, 61 anos, responsável por fazer o bolo, foi hospitalizada e deixou a UTI na manhã desta segunda. Zeli recebeu alta hospitalar na manhã desta sexta-feira (10). Um menino de 10 anos, neto de Neuza e filho de Tatiana, também ficou hospitalizado vários dias, mas já está em casa.
Uma sexta vítima, um homem da família, foi liberado após atendimento médico. Uma sétima pessoa que participou da reunião familiar não chegou a comer o bolo e, por isso, não passou mal.
Após as suspeitas sobre a nora, a polícia pediu a exumação do corpo de Paulo Luiz dos Anjos, marido de Zeli, que faleceu em setembro. À época, a causa da morte foi atestada como intoxicação alimentar.
A exumação foi realizada na manhã de quarta-feira (8) e o resultado do exame pericial, divulgado nesta sexta (10), confirmou o arsênio como causa da morte de Paulo.
Em coletiva de imprensa realizada em Capão da Canoa, a Polícia Civil confirmou que o veneno foi comprado por Deise pela internet, que pesquisou diversas vezes sobre a substância antes da compra.
O que diz a defesa
A defesa de Deise afirma que "as declarações divulgadas na coletiva de imprensa ainda não foram judicializadas no procedimento sobre o caso", portanto "aguarda a integralidade dos documentos e provas para análise e manifestação".
Nota da defesa na íntegra
"O escritório Cassyus Pontes Advocacia representa a defesa de Deise Moura dos Anjos no inquérito em andamento sobre o fato do Bolo, na Comarca de Torres, tendo sido decretada no domingo a prisão temporária da investigada.
Todavia, até o momento, mesmo com o pedido da Defesa deferido pelo judiciário, ainda não houve o acesso ao inquérito judicial.
A família, desde o início, colabora da investigação, inclusive com o depoimento de Deise em delegacia, anterior ao decreto prisional.
Cumpre salientar que as prisões temporárias possuem caráter investigativo, de coleta de provas, logo ainda restam diversos questionamentos e respostas em aberto neste caso, os quais não foram definidos ou esclarecidos no inquérito."