Apontado como um dos envolvidos na execução de um preso dentro da Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan) 3, Rafael Telles da Silva, 36 anos, o Sapo, é alvo de operação da Polícia Civil nesta sexta-feira (29). Considerado uma das lideranças de uma organização criminosa, envolvida em assassinatos e no tráfico de drogas, o Sapo teria, em setembro, ordenado a morte de um rival no bairro Cascata, na zona sul de Porto Alegre, por uma videochamada. Sapo cumpria pena na Pecan 3. Ele foi transferido na quinta-feira (28) para o sistema penitenciário federal, numa outra ação, a que envolve a morte do Nego Jackson.
— Essa liderança já está presa, mas não basta prender somente os executores. Dentro da nossa estratégia, buscamos responsabilizar os líderes, como o que está sendo alvo hoje. Ele pode já estar preso, mas é afetado financeiramente e também quando prendemos os demais integrantes da facção. Por isso, a operação é voltada a toda a facção — diz o delegado Mario Souza, diretor do DHPP.
A ofensiva desta sexta-feira é do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). A chamada Operação Queda Livre, contra os homicídios, tem como alvo tanto essa liderança como os executores de assassinatos ocorridos em Porto Alegre e na Região Metropolitana. Sapo, conforme a polícia, irá responder como mandante deste assassinato. A ação contou com apoio da Brigada Militar e Polícia Penal.
São 13 mandados de prisão preventiva, além de 19 de busca e apreensão, cumpridos em Porto Alegre, Canoas e em Gramado Xavier, no Vale do Rio Pardo. Até as 8h25min, 11 pessoas haviam sido presas.
Durante a operação desta sexta-feira, foram apreendidos controles de drones e também caixas do equipamento.
— Não é coincidência que esses materiais tenham sido encontrados. São utilizados pelo grupo criminoso para algumas atividades como levar ilícitos até as casas prisionais. Localizamos as caixas de equipamentos que muito possivelmente já estavam sendo usados — diz o diretor do DHPP
A ofensiva é considerada uma espécie de resposta ao grupo criminoso, após a morte de Jackson Peixoto Rodrigues, 41 anos, o Nego Jackson. O preso foi executado a tiros dentro de uma cela da Pecan 3. Sapo e outro preso, Luis Felipe de Jesus Brum, 21 anos, ambos membros de uma facção rival de Nego Jackson, são apontados pela polícia como autores da morte.
Uma das estratégias do DHPP, em casos de assassinatos envolvendo o crime organizado, é justamente realizar operações especiais contra lideranças e executores da facção que tenham relação com esse tipo de crime.
— Essa é a primeira operação especial de uma série de medidas adotadas contra essa facção criminosa. Em razão dessa morte ocorrida dentro do sistema prisional, foi acionado o nosso protocolo de sete medidas contra os homicídios cometidos pelo crime organizado. Vamos seguir aplicando medidas contra esse grupo criminoso — diz o delegado Mario Souza, diretor do DHPP.
Operação Queda Livre
A investigação é da 1ª Delegacia de Homicídios de Porto Alegre. O crime que deu origem a essa operação ocorreu em setembro deste ano, quando o irmão de uma das lideranças do tráfico na zona sul de Porto Alegre, foi executado a tiros.
Por volta das 21h, quatro homens que estavam num Sandero assassinaram o homem no bairro Cascata, em Porto Alegre. A vítima foi alvejada dezenas de vezes pelos bandidos, que fugiram logo na sequência no mesmo veículo. No mesmo dia, o caso passou a ser apurado pela Polícia Civil, com apoio da Brigada Militar e Polícia Penal.
Duas horas após a execução, os policiais encontraram o imóvel que teria sido usado pelos criminosos como base logística para o ataque. Nesse local, foram apreendidas quatro pistolas de calibre 9 milímetros, com numeração raspada. O veículo utilizado no ataque – que havia sido roubado dias antes da execução, no centro de Porto Alegre – também foi apreendido.
No fim da noite daquele mesmo dia, os policiais prenderam em flagrante o motorista do carro, que estava escondido no bairro Lomba do Pinheiro, na zona leste da Capital. Com antecedentes por homicídio e roubos, o suspeito teve prisão preventiva decretada. Durante a investigação, foram identificados os executores do crime e o mandante, uma das lideranças da facção criminosa.
A investigação conseguiu identificar outros envolvidos no crime, como os responsáveis por alugar a casa usada pelos atiradores, auxiliar de forma logística, entre outras funções.
— Não serão tolerados crimes graves como o objeto da ação, sendo empregados todos os recursos estatais pada conter quem ainda praticar homicídios, alcançando e responsabilizando criminalmente não apenas os executores e partícipes, mas, principalmente, os líderes das organizações criminosas que determinam as execuções — diz o delegado Gabriel Borges, titular da 1ª Delegacia de Homicídios.
Quem era Nego Jackson
Jackson chegou a ser considerado o foragido mais procurado do Rio Grande do Sul em 2017, até ser capturado no Paraguai, pela polícia da cidade de Pedro Juan Caballero, e posteriormente transferido de volta para Brasil. Ele esteve em presídios federais brasileiros até ser transferido para o Rio Grande do Sul em 2020.
O criminoso tinha uma extensa ficha criminal: tráfico de entorpecentes, homicídio doloso, lavagem de dinheiro e organização criminosa. De acordo com o Comando de Policiamento Metropolitano, Jackson tem ligação com 29 homicídios. São assassinatos em que ele teria participação como mandante ou executor.
Nego Jackson era um dos principais líderes de uma facção de Porto Alegre. Ele teria arregimentado facções menores para montar um dos maiores grupos criminosos da capital gaúcha.