No fim da tarde do último sábado (23), Jackson Peixoto Rodrigues, 41 anos, o Nego Jackson, foi executado a tiros dentro da Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan) 3. O preso, apontado como líder de uma facção criminosa, havia sido transferido para a prisão quatro dias antes. Chegou a escrever uma carta alertando que havia sido colocado numa ala ao lado dos inimigos, ou seja, traficantes rivais, de outro grupo criminoso.
Duas investigações foram abertas para esclarecer como se deu o crime. Uma delas é realizada pela Polícia Penal, que avalia o caso de forma administrativa. O intuito dessa apuração é entender quais falhas permitiram que uma arma — uma pistola de calibre 9 milímetros — ingressasse na unidade prisional, que não fosse encontrada durante as revistas e que fosse usada para executar um apenado. Uma das suspeitas é de que a arma tenha sido entregue por drone.
Cinco servidores foram afastados de forma temporária em medida anunciada pelo então governador em exercício, Gabriel Souza, na segunda-feira (25), como medida preventiva. O governo do Estado afirma que isso não representa nenhuma conclusão antecipada sobre culpa dos servidores, mas que seria essa uma forma de manter a isenção das investigações e de preservar os policiais penais.
A outra apuração em curso é realizada pelo Departamento de Homicídios (DHPP), da Polícia Civil, que busca compreender o assassinato. Dois presos tiveram prisão preventiva decretada após a morte de Nego Jackson. No entanto, a polícia ainda investiga se houve participação de mais alguma pessoa no crime e mantém as investigações em sigilo. Perícias e diligências estão em andamento.
Confira no infográfico abaixo uma das hipóteses de como teria acontecido a morte:
Os envolvidos
Jackson Peixoto Rodrigues, o Nego Jackson, chegou a ser considerado o foragido mais procurado do RS, em 2017, período no qual o Estado enfrentava disputas sangrentas nas ruas, especialmente na Capital. O faccionado foi capturado no Paraguai, pela polícia da cidade de Pedro Juan Caballero, e posteriormente transferido de volta para Brasil.
Passou pelo sistema penitenciário federal — sendo enviado a Rondônia — mas retornou ao Estado. Era rival da facção do bairro Bom Jesus, integrando uma coalização de grupos criminosos. Apontado como chefe do tráfico na Vila Jardim, recentemente, segundo a polícia, foi um dos principais articuladores da criação de uma nova facção.
Rafael Telles da Silva, 36 anos, o Sapo, é apontado como um dos articuladores da facção do bairro Bom Jesus, em Porto Alegre. Essa facção é rival do grupo criminoso do qual Nego Jackson era um dos líderes. Em 2021, Sapo foi apontado como patrocinador da guerra entre a Ilha do Pavão e a Ilha dos Marinheiros.
Em 20 de fevereiro daquele ano, membros do grupo do Sapo foram à Ilha dos Marinheiros para executar três pessoas. Invadiram várias casas para tentar achar o gerente do tráfico naquela comunidade. Sapo já esteve no sistema penitenciário federal, mas retornou ao Estado.
O outro preso pelo crime é Luís Felipe de Jesus Brum, 21 anos, que, segundo a polícia, é integrante da mesma facção de Sapo. Havia sido detido em junho deste ano por suspeita de envolvimento num assalto milionário ao aeroporto de Caxias do Sul, na Serra. Brum foi preso em Torres, no Litoral Norte.
Ele retornava de Santa Catarina, num Onix, quando foi bloqueado na BR-101 por agentes da Polícia Rodoviária Federal. As pistas indicam que ele teria participado como motorista na fuga da quadrilha. Brum tem antecedentes por tráfico de drogas, e já era investigado por um homicídio, pelo roubo a uma joalheria, por dois roubos de veículo e por receptação de veículo.