A dinâmica de como se deu o assassinato de um líder de facção dentro da Penitenciária Estadual de Canoas 3 ainda está sendo esclarecida pela Polícia Civil. Jackson Peixoto Rodrigues, 41 anos, o Nego Jackson, foi executado a tiros dentro da unidade prisional no último sábado (23). Tiveram prisão decretada pelo homicídio outros dois detentos — também faccionados — que estava na mesma área. Eles foram identificados como possíveis autores do crime.
A polícia não divulgou os nomes dos presos investigados, mas Zero Hora apurou que se tratam de Rafael Telles da Silva, o Sapo, uma das lideranças de uma facção rival à de Nego Jackson, e Luis Felipe de Jesus Brum. Os dois suspeitos do crime foram presos em flagrante pela execução. A polícia não detalhou qual o papel de cada um deles no crime.
Segundo o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), os dois investigados tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça. A Polícia Civil não descarta que possa haver participação de outros envolvidos no crime, o que ainda é averiguado.
Os disparos contra Nego Jackson teriam sido feitos por meio da portinhola de uma cela durante a triagem dos detentos. Os presos, ainda que integrassem facções rivais, estavam em celas próximas, na área de triagem da penitenciária.
A polícia ainda busca detalhar exatamente como se deu essa dinâmica do momento dos disparos.
A arma usada no crime foi apreendida na penitenciária. Segundo a polícia, foram realizadas diligências no local, ouvidas pessoas e estão sendo aguardas perícias. Há outras diligências, mantidas em sigilo, que devem ajudam a esclarecer como se deu a morte.
— Com esse conjunto de informações que estamos reunindo será possível mostrar como aconteceu a morte em si. Ainda precisamos esclarecer, por exemplo, se há mais algum envolvido no homicídio. Não podemos descartar nada, é muito cedo — afirma o diretor do DHPP, delegado Mario Souza.
Quem são os presos investigados
Um dos presos é Rafael Telles da Silva, o Sapo, considerado pela polícia como uma das lideranças da facção com berço no bairro Bom Jesus, na zona leste de Porto Alegre. Essa facção é rival do grupo criminoso do qual Nego Jackson era um dos líderes.
Em 2021, Sapo foi apontado como patrocinador da guerra entre a Ilha do Pavão e a Ilha dos Marinheiros. Em 20 de fevereiro daquele ano, membros do grupo do Sapo foram à Ilha dos Marinheiros para executar três pessoas. Invadiram várias casas para tentar achar o gerente do tráfico naquela comunidade. Sapo já esteve preso no sistema penitenciário federal, mas retornou ao Estado.
O outro que teve prisão preventiva decretada pela morte de Nego Jackson é Luís Felipe de Jesus Brum, 21 anos. Integrante da mesma facção de Sapo, ele foi preso em junho deste ano por suspeita de envolvimento num assalto milionário ao aeroporto de Caxias do Sul, na Serra. Brum foi preso em Torres, no Litoral Norte.
Ele retornava de Santa Catarina, num Onix, quando foi bloqueado na BR-101 por agentes da Polícia Rodoviária Federal. As pistas indicam que ele teria participado como motorista na fuga da quadrilha. Brum tem antecedentes por tráfico de drogas, é já era investigado por um homicídio, pelo roubo de uma joalheria, por dois roubos de veículo e por receptação de veículo.
Outra morte na penitenciária
Nesta segunda-feira (25) outro preso foi encontrado morto na Pecan 4 — outra unidade dentro do mesmo Complexo Prisional de Canoas. Joel Silva do Nascimento, 37 anos, o Joelzinho, que também seria membro de um grupo criminoso com atuação na Vila Jardim, foi achado morto.
A Polícia Civil foi até o local, e, num primeiro momento, não foram encontrados sinais visíveis de violência e a suspeita é de que possa ter havido morte natural. O preso, segundo a polícia, possuía histórico de problemas de saúde. No entanto, a causa da morte só deverá ser esclarecida após a análise do Instituto-Geral de Perícias (IGP). O caso é apurado pela Delegacia de Homicídios de Canoas.
Reflexo nas ruas
Em entrevista à Rádio Gaúcha, o governador Eduardo Leite falou sobre as ações que estão sendo realizadas para tentar evitar possível reflexo desse crime nas ruas. Leite afirmou que o governo está conscientes da gravidade do caso.
Não vamos tolerar, não vamos admitir, vamos fazer repressão de qualquer movimento ou tentativa de desordem em relação a esse caso. Estamos com esforços concentrados na nossa estrutura de segurança.
EDUARDO LEITE
Governador
Nego Jackson foi encaminhado recentemente para a Pecan por ser uma unidade prisional com presença de bloqueadores de celulares. Segundo o governo, esse foi o motivo que fez o líder da facção a ser levado para o complexo.
A Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), onde Nego Jackson estava sendo encarcerado até então, ainda não tem bloqueadores em funcionamento — o sistema começou novamente a ser instalado neste ano, mas ainda está em fase de ajustes. Sapo também estava preso na Pasc, e foi transferido para a Pecan no último dia 15 de novembro.
No início deste mês, o governo do Estado divulgou um plano para conter os homicídios vinculados ao crime organizado no RS. A estratégia prevê sequência de medidas, adotadas em escala.
Entre as ações que devem ser realizadas, está a saturação de áreas por meio da presença do policiamento, sempre que houver um assassinato ligado às disputas entre facções criminosas, e outras ações, como investigações voltadas ao grupo criminoso e responsabilização das lideranças. A medida mais severa prevista é o isolamento dos líderes que ordenarem as execuções.
Um dos projetos prevê um módulo que foi construído na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). A obra, que teve custo de R$ 30 milhões, tem 76 vagas, e permitiria manter os presos isolados no local, com presença de bloqueador.