Um guarda municipal de Porto Alegre será julgado pelo Tribunal do Júri nesta quinta-feira (13), no Foro Central, pelo assassinato de um vizinho após uma discussão em um condomínio no bairro Aberta dos Morros, na Capital. O crime aconteceu em dezembro de 2016.
O réu, Roger da Motta Carvalho, estava de folga quando, de acordo com o Ministério Público (MP), matou a tiros Bruno Saraiva Salgado, 30 anos, que passeava com seu cão da raça labrador, Otto. O cachorro também foi atingido por disparos, mas sobreviveu. Por isso, além do homicídio qualificado por motivo fútil, Roger também responde pelo crime de maus-tratos ao animal.
Segundo um familiar da vítima, Bruno era corretor de imóveis e estudante de Direito. Ele tinha uma filha de sete anos na época, que completou 15 anos no mês passado. Otto, o labrador baleado no ataque, hoje vive com a família de Bruno, em São Borja.
O julgamento acontece quase nove anos após o crime. Conforme o Tribunal de Justiça do Estado, a demora se deve aos recursos apresentados pela defesa do guarda em todas as instâncias. Além disso, o júri chegou a ser remarcado devido à enchente de maio de 2024.
Desavença antiga
O promotor de Justiça André de Azevedo Coelho será responsável pela acusação no plenário da 2ª Vara do Júri do Foro Central. Ele esclarece que, ao contrário do que foi divulgado inicialmente, a discussão que antecedeu o crime não estava relacionada ao cachorro de Bruno, mas sim a uma desavença antiga entre a vítima e o réu.
Segundo a denúncia, quem de fato tinha conflitos com Bruno era a esposa do guarda municipal. Ela já havia discutido com ele anos antes e, de acordo com relatos recebidos pelo MP, tinha implicância com o cão da vítima.
No dia do crime, enquanto passeava com Otto, Bruno passou em frente à casa do casal. A mulher teria chamado o corretor e questionado o motivo de ele estar olhando para o filho dela. Bruno negou, e a discussão se intensificou quando Roger se envolveu e os dois entraram em confronto físico.
Após a briga, Roger voltou para casa, pegou sua arma e retornou ao local. Primeiro, atirou contra Otto, que foi atingido por pelo menos dois disparos. Em seguida, disparou duas vezes contra o tórax de Bruno, que morreu no local.
— O réu vai a júri por matar um vizinho em razão de uma discussão, uma desavença a partir de uma reação desmedida do acusado, que atirou duas vezes na vítima e desferiu vários outros tiros no cachorro — afirmou o promotor.
Além disso, dois colegas de Roger, que também são guardas municipais, chegaram a ser investigados por fraude processual, pois a cena do crime foi alterada após a chegada da corporação ao local. No entanto, o crime prescreveu e eles foram retirados do processo.
O promotor diz que o Ministério Público espera que seja feita justiça e que o julgamento traga uma resposta da sociedade de Porto Alegre e, de alguma forma, amparo para a família de Bruno.
Contraponto
Em contato com a reportagem de Zero Hora, a defesa de Roger da Motta Carvalho disse que prefere não se manifestar.
*Produção: Camila Mendes