A Polícia Nacional do Paraguai mirou no que viu e acertou o que não viu. Prendeu quatro brasileiros numa casa em Pedro Juan Caballero (cidade paraguaia separada apenas por uma avenida da sul-mato-grossense Ponta Porã) e, entre os presos, estava um dos líderes do tráfico em Porto Alegre, Jackson Peixoto Rodrigues, o Nego Jackson.
Contra ele pesam 11 investigações no Rio Grande do Sul, nove delas por homicídio, mas os paraguaios não sabiam disso quando o prenderam. É que ele usava o nome falso de Gabriel Ferreira dos Santos, sem antecedentes. Junto com os outros três brasileiros, foi capturado numa operação policial por suspeita de envolvimento no assassinato de um casal em Assunção (capital paraguaia).
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O quarteto foi preso numa residência luxuosa e com piscina na esquina das ruas Brasil e Manuel Domínguez, no bairro Guaraní, um dos principais de Pedro Juan Caballero. Os policiais e procuradores de Justiça paraguaios chegaram aos bandidos ao identificar uma caminhonete que teria participado de um atentado em Assunção. Os quatro usavam identidade falsa, mas escondiam armas e dinheiro na casa, o que possibilitou prisão em flagrante. Por meio de fotos, Jackson foi reconhecido como foragido no Brasil.
Uma C-10, que seria tripulada pelo quarteto, foi usada na emboscada que matou o casal brasileiro Paulo Jacques e Milena Soares, em Assunção, dia 2 deste mês. Jacques, que residia em Pedro Juan Caballero, é apontado pelas autoridades paraguaias como integrante do círculo de poder do maior traficante do Paraguai, Jarvis Pavão, que é aliado do PCC (Primeiro Comando da Capital, maior facção criminosa do Brasil, oriunda de São Paulo).
Pavão, que está preso em Assunção, é o pivô da guerra de facções que sacode o submundo paraguaio e, por consequência, toda a fronteira com o Brasil. A mando do PCC, ele teria contratado 30 pistoleiros para executarem seu rival no tráfico, o comerciante brasileiro Jorge Rafaat, que morava em Pedro Juan Caballero.
Rafaat e dois capangas foram mortos em junho com uma metralhadora antiaérea, acoplada a uma caminhonete. Desde então, mais de 35 pessoas foram mortas na fronteira, em retaliações mútuas dos bandos de Pavão e Rafaat. Pavão costumava fornecer drogas para os bandidos paulistas e o Comando Vermelho (CV, do Rio de Janeiro. Fontes da Polícia Federal brasileira afirmam que, para eliminar seu rival Rafaat, ele teria importado bandidos brasileiros e, em troca, aceitado ser fornecedor exclusivo do PCC.
As quadrilhas ligadas a Rafaat e outras, independentes, teriam se aliado ao Comando Vermelho (CV, facção carioca) para tentar evitar o monopólio do PCC na fronteira. Isso porque o Paraguai é o maior fornecedor de maconha do Brasil e importante corredor para contrabando de cocaína.
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Hoje o braço direito de Pavão e o bandido mais procurado do Paraguai é um paulista, integrante do PCC reconhecido como um dos matadores de Rafaat. É o Galã, que usa três identidades: Oliver Giovanni da Silva, Elton da Silva Leonel e Ronaldo Rodrigo Benites. Ele foi preso no Paraguai em 2011, por posse de armas e drogas, junto com Paulo Augusto de Souza, também do PCC. Os dois foram resgatados da prisão por cinco homens armados. Os dois foram reconhecidos como participantes da emboscada que matou Rafaat.
E qual o papel de Nego Jackson nisso tudo? Ainda não se sabe. Uma possibilidade é que ele, como importador de drogas para sua quadrilha de Porto Alegre, tenha concordado em se aliar ao frentão anti-PCC no Paraguai. A outra, mais remota, é que tenha sido contratado pelo próprio Jarvis Pavão para um acerto interno de contas na quadrilha aliada do PCC. Os investigadores ainda buscam respostas. Os quatro foram enviados a um presídio de Assunção.