Medida aplicada na noite de terça-feira (7) contra 11 integrantes da mesma facção criminosa envolvida em homicídios na Região Metropolitana — entre eles a execução de um rival dentro da Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan) 3, em novembro —, o isolamento de integrantes de uma facção é a penúltima de uma série de ações escalonadas adotadas para tentar coibir os assassinatos pelo crime organizado.
Apontados como lideranças do grupo, os presos que estavam em diferentes unidades prisionais foram enviados para o novo módulo de segurança em Charqueadas. A unidade com 76 vagas, inaugurada no fim do ano passado, foi construída no pátio da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).
Segundo a Polícia Civil, essa facção esteve envolvida na maior parte dos homicídios registrados na Capital e Região Metropolitana nos últimos meses. Ainda conforme os policiais, caso as execuções continuem, as medidas podem ser agravadas, com novas transferências de presos para o mesmo módulo ou o envio de lideranças da facção para penitenciárias federais.
Nos últimos quatro meses do ano passado, a polícia percebeu um aumento do número de assassinatos cometidos por essa facção. Entre eles, está a execução de Jackson Peixoto Rodrigues, 41 anos, o Nego Jackson, morto a tiros dentro de uma cela da penitenciária de Canoas, no fim de novembro.
— Foi feito trabalho apurado daqueles indivíduos que têm envolvimento, comando, coordenação, gerência e de alguma forma patrocinam, financiam e estão envolvidos como mentores intelectuais, nos atos preparatórios, nos atos executórios para que sofram essa medida, que já é drástica, que é um cartão amarelo para a facção — afirma o diretor da Divisão de Homicídios, delegado Thiago Lacerda.
Se não funcionar, se eles não entenderem o recado, podem ser transferidos para presídio federal, durante o tempo que for necessário.
THIAGO LACERDA
Diretor da Divisão de Homicídios
Todos os transferidos, segundo a polícia, tiveram algum envolvimento em homicídios. Os nomes foram escolhidos após uma série de análises realizadas em conjunto pelas forças de segurança. Um dos presos encaminhados para o isolamento é Luis Felipe de Jesus Brum, apontado como um dos executores de Nego Jackson. Este preso havia sido detido em junho do ano passado por suspeita de envolvimento num assalto milionário ao aeroporto de Caxias do Sul, na Serra.
— Estamos avaliando ainda outros nomes daqueles que possam estar diretamente envolvidos (em homicídios). As próximas medidas vão ser acionadas se a situação não melhorar. Essa medida está sendo tomada de forma repressiva, mas também preventiva. Nós tivemos o ano passado o melhor ano da história — detalha Lacerda, sobre a redução dos homicídios em Porto Alegre e alguns municípios da Região Metropolitana.
Conforme o delegado Rafael Pereira, diretor do DHPP na Região Metropolitana, entre os presos transferidos estão lideranças de Canoas, Viamão, Alvorada e Gravataí:
— Pegamos todas as cidades que têm atuação dessa organização criminosa, analisamos de forma técnica os locais onde o número de homicídios foi acima (em relação aos outros bairros), mesmo com queda, e a liderança daquela área foi responsabilizada.
Transferimos 11, mas se a organização criminosa não arrefecer a prática de crimes contra a vida, mais pessoas irão entrar. O Estado não tolera mais o crime de homicídio.
RAFAEL PEREIRA
Diretor do DHPP na Região Metropolitana
A ofensiva se iniciou na noite de terça-feira, com a transferência dos presos de quatro penitenciárias. Essa ação foi realizada por Polícia Civil, Brigada Militar e Polícia Penal, com apoio do Instituto-Geral de Perícias (IGP).
— Estamos conquistando importantes resultados na redução dos índices de criminalidade a partir dessa integração das forças. O trabalho conjunto gera definições estratégicas de ações que possibilitam o enfrentamento e a desarticulação das organizações criminosas — diz Mateus Schwartz, superintendente da Polícia Penal.
O prazo do isolamento de 10 dos presos transferidos foi estabelecido em 60 dias. Somente Brum teve o período definido como 90 dias. Poderá haver pedido de renovação desse período.
Homicídios na Capital
Em 2024, Porto Alegre apresentou os menores números de homicídios da série histórica — desde o ano de 2010, quando as estatísticas foram revisadas. Por seis meses, a Capital ficou abaixo dos 10 homicídios por 100 mil habitantes, o que é considerado índice de tolerância pela Organização Mundial da Saúde.
No ano passado, o mês de janeiro foi o que teve o maior número de homicídios, com 29 vítimas. Os dados consolidados de janeiro deste ano só devem ser divulgados pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) no início de fevereiro. Até esta quarta-feira (8), foram cinco assassinatos.
Entre os homicídios registrados em janeiro, estão a execução de dois irmãos numa residência na Vila Santo André, no bairro Humaitá, sendo que um deles tinha antecedentes por tráfico de drogas, e o assassinato de um jovem de 21 anos no bairro Lomba do Pinheiro, na zona leste da Capital. Ele também tinha antecedentes por tráfico.
A facção que insistir em matar vai sofrer as medidas do protocolo. Estamos iniciando o ano com medidas enérgicas para forçar os números para baixo.
MARIO SOUZA
Diretor do DHPP
As sete medidas
As ações são realizadas de forma conjunta entre as polícias sempre que ocorre algum homicídio vinculado ao crime organizado. Confira as medidas em ordem:
- Saturação de área: aumentar policiamento no local onde atua a facção. O objetivo é impedir a venda de drogas e evitar ataques entre as facções e venda de armas, entre outros crimes.
- Indiciamento de lideranças e mandantes: visa ampliar a responsabilização atingindo quem ordenou o crime e quem autorizou a execução.
- Ações pontuais: apreensão de armas, drogas e outras operações
- Revistas em presídios: aquela facção envolvida em morte sofre revistas mais frequentes em suas galerias para verificar toda a conduta
- Operações especiais e de lavagem de dinheiro: visam asfixiar o crime e retirar dinheiro, além de prender envolvidos na organização
- Transferências dentro do RS: isolamento de lideranças em unidades prisionais dentro do Estado
- Transferências federais: isolamento de lideranças nas unidades federais