Os dados sobre os celulares e drones encontrados no Complexo Prisional de Canoas neste ano indicam um salto nas apreensões. De janeiro até a última terça-feira (27) foram localizados 681 aparelhos de telefone, além de seis aeronaves não tripuladas – usadas, pelo crime organizado, para transportar itens ilícitos para dentro do sistema prisional. Em todo o ano passado, tinham sido 120 celulares e nenhum drone.
No último sábado (23), Jackson Peixoto Rodrigues, 41 anos, o Nego Jackson, foi executado com uma pistola de calibre 9 milímetros dentro da ala de triagem de uma das unidades do complexo, a Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan) 3. O caso desencadeou uma crise no sistema prisional do Estado e resultou no afastamento temporário de cinco servidores, entre eles o diretor da Pecan 2,3 e 4 – a Pecan 1 tem outra direção.
O líder de facção, que já havia alertado para o risco de permanecer encarcerado tão perto de seus rivais, foi morto a tiros pelos inimigos. Dois apenados – que estavam em cela próxima dela – estão presos de forma preventiva pelo crime. Desde a execução dentro da cadeia, há inúmeros relatos sobre a intensidade do sobrevoo de drones naquela região.
Inclusive, em carta escrita um dia antes de ser morto – o documento foi entregue à defesa do preso – Nego Jackson chegou a citar o fato de que os equipamentos se aproximam com facilidade das “enormes janelas” e afirmou que recentemente haviam sido apreendidos rádios e celulares recebidos por meio de drones, mesmo na área de isolamento.
Apesar de abrigar cerca de 2,4 mil presos – segundo dados divulgados pela Polícia Penal – o Complexo Prisional de Canoas não possui tela que impeça que os presos recebam ilícitos por meio das janelas das celas. Em coletiva no início desta semana, o superintendente da Polícia Penal, Mateus Schwartz, afirmou que há projetos em andamento de telamento para unidades prisionais no Estado, mas isso ainda não incluiu Canoas.
— O Complexo Prisional de Canoas possui scanner corporal e eles estão em funcionamento. A respeito das telas, nas novas unidades que a gente vem construindo, esses novos modelos já vêm com telas nos pátios e nas janelas, que evitam os ingressos de materiais ilícitos via drone e via arremesso. Nas unidades mais antigas, não temos esse sistema e viemos trabalhando para fazer essas licitações e implementar essa sistemática de telamento das janelas e pátios em várias penitenciárias. Uma delas é a Pasc (Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas), que não possuía esse sistema. Estamos mapeando essas unidades — disse o superintendente da Polícia Penal.
As entregas dos itens ocorrem, segundo a Polícia Penal, em sua maioria, por meio de arremessos e tentativas de entregas via drones. Mas há também tentativas de entrada de ilícitos através de visitantes que são impedidos pelos servidores. Como uma das medidas após a morte de Nego Jackson, foi determinada que sejam realizadas três revistas diárias naquela galeria onde aconteceu o crime.
Para a Polícia Penal, o aumento das apreensões se dá em razão do crescimento, com atuação de grupos táticos, das revistas gerais e pontuais Complexo Prisional de Canoas, assim como, em todas as unidades prisionais do Estado. Questionada se o fato de lideranças de facções terem passado a ser isolados na penitenciária pode ter levado a um aumento da tentativa de ingresso de ilícitos, a Polícia Penal afirmou que "não há como precisar informações desse tipo".
Suspeito preso
Num dos casos registrados em fevereiro deste ano, em Canoas, um suspeito foi preso pelo Grupo de Ações Especiais da Polícia Penal, nas redondezas do Complexo Prisional. A equipe, que presta apoio à segurança da unidade, foi acionada após um drone ser avistado pelos servidores, sobrevoando a área.
Os policiais encontraram um homem saindo da mata, perto do Complexo Prisional. Durante a abordagem, foram encontrados o drone, duas baterias, um controle e dispensador, além de dois rolos de linha de nylon, dois celulares e cerca de 130 gramas de cocaína.
No RS, em média são 38 celulares apreendidos por dia
O fenômeno do aumento das apreensões no Complexo Prisional de Canoas segue a mesma linha do que tem acontecido no Estado. Os dados de itens encontrados nas prisões gaúchas indicam também elevação, no comparativo entre o período atual e 2023.
No caso de 2024, as apreensões são relativas ao período de 11 meses — os dados do ano passado representam os itens encontrados em todo o ano. Ainda que o ano não tenha se encerrado, o número de celulares e drones localizados até esse período já supera todo o ano passado.
Foram encontradas nas prisões do Estado neste ano 12.787 celulares – o que representa 612 a mais do que em todo ano de 2023. No caso dos drones, foram apreendidos 35 equipamentos, o que representa 13 a mais do que em todo ano passado.
Há reclamação por parte dos servidores em relação ao déficit de policiais penais. No entanto, o governo afirma que “o chamamento de novos servidores nos últimos anos” também foi um dos fatores que reforçou a “atuação para coibir o ingresso de ilícitos”. Além disso, cita investimentos em tecnologias como bloqueadores de sinais de celular e scanners corporais, câmeras de videomonitoramento e raio-x.
Em 2024, segundo a Polícia Penal, houve o aumento do efetivo dos grupos táticos e das operações com cães. Outro ponto destacado para intensificar as apreensões são as ações de inteligência. Neste ano, segundo a Polícia Penal, foram realizadas ao menos 419 revistas gerais nas unidades prisionais do Estado. Há ainda as revistas pontuais nas unidades, com cumprimentos de mandados de busca e apreensão e de interceptação de tentativas de entregas de ilícitos.
Investigações
No ano passado, a Polícia Civil identificou um grupo criminoso especializado no uso de drones para entregar drogas em presídios do Estado. Segundo a apuração, os cinco investigados integravam uma facção criminosa.
Numa ação realizada na zona leste de Porto Alegre, foram apreendidos dois drones, além de drogas, dentro de uma casa, no bairro São José. Conforme a apuração do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), o grupo usava casas nas zonas leste e sul de Porto Alegre para armazenar os materiais que eram levados para as prisões.