Assassinado com sete disparos na noite do último sábado (25), Jackson Peixoto Rodrigues, o Nego Jackson, 41 anos, havia escrito uma carta alertando sobre plano para matá-lo dentro da Penitenciária Estadual de Canoas 3 (Pecan).
Na mensagem, Nego Jackson ainda escreveu sobre a possibilidade de existir uma arma na cela do rival.
Em entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira (25), o governador em exercício, Gabriel Souza, anunciou que cinco servidores foram afastados. Um deles porque recebeu esse documento manuscrito do apenado.
— Essa carta teria sido entregue ao advogado do apenado. Não conhecemos o teor da carta, não sabemos quais os procedimentos realizado a partir dela. Sabemos que houve, sim, entrega de documento manuscrito pelo apenado a esse servidor. Essa decisão de afastá-lo foi feita minutos atrás, assim que soubemos dessa entrega. Ainda vamos apurar quais as eventuais providências deveriam ter sido tomadas, se é que não foram tomadas — explica Souza.
A carta fez com que os advogados de Nego Jackson entrassem na Justiça com pedido de habeas corpus, solicitando a transferência para outra penitenciária. O processo tramita sob sigilo.
Quem era Nego Jackson
Jackson chegou a ser considerado o foragido mais procurado do Rio Grande do Sul em 2017, até ser capturado no Paraguai, pela polícia da cidade de Pedro Juan Caballero, e posteriormente transferido de volta para Brasil. Ele esteve em presídios federais brasileiros até ser transferido para o Rio Grande do Sul em 2020.
O criminoso tinha uma extensa ficha criminal: tráfico de entorpecentes, homicídio doloso, lavagem de dinheiro e organização criminosa. De acordo com o Comando de Policiamento Metropolitano, Jackson tem ligação com 29 homicídios. São assassinatos em que ele teria participação como mandante ou executor.
Nego Jackson era um dos principais líderes de uma facção de Porto Alegre. Ele teria arregimentado facções menores para montar um dos maiores grupos criminosos da capital gaúcha.
Pecan foi construída para ser prisão modelo
Apesar de inicialmente ter sido construído como prisão modelo, com bloqueador de celular e sem presos faccionados, o Complexo Penitenciário de Canoas passou a receber lideranças de facção, principalmente na Pecan 3, onde aconteceu o crime.
As transferências ocorreram como tentativa de isolar presos perigosos, já que a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) ainda não possui tecnologia para bloqueio de sinal de celular.
Os disparos que mataram Jackson partiram da cela onde estava Rafael Telles da Silva, 36 anos, conhecido como Sapo. Além dele, outro homem que estava na mesma cela, Luis Felipe de Jesus Brum, foi preso em flagrante pelo assassinato de Jackson.
Embora de facções rivais, Nego Jackson e Sapo foram mantidos na mesma galeria, em celas próximas.
Sapo havia sido transferido oito dias antes da Pasc para a Pecan, como castigo por falta grave cometida. No domingo (24), após o assassinato, ele foi transferido de volta para prisão em Charqueadas.
Isolamento questionado
Apesar dos bloqueadores, presos se utilizam de artimanhas para driblar a tecnologia e conseguir contato com o mundo externo. Uma das principais formas é o uso de roteadores de wi-fi, instalados no lado de fora da prisão, em contêineres.
A situação foi admitida pelo próprio superintendente da Susepe, Mateus Schwartz, no Fórum Interinstitucional Carcerário, em 7 de novembro.
— A gente mostrou que tá colado (o contêiner) na tela da penitenciária e que é possível, através dali, fornecer sinal wi-fi para a penitenciária. A gente abriu esse processo, conversou com a PGE (Procuradoria-Geral do Estado), para ver os caminhos que vamos ter de tomar — disse o superintendente na ocasião.
Recentemente, as equipes da Pecan conseguiram interceptar uma entrega de rádios comunicadores por drones. Os equipamentos que funcionam em uma frequência diferente da telefonia poderiam ser usados para contato com membros da facção do lado de fora.